sábado, 25 de setembro de 2010

Manual para jovens escritores...


.....Escrever, aparentemente, não requer muita coisa. A prova que não sou um bom escritor provavelmente reside nessa primeira frase! Só escrevo em estado de tragédia – tal como só consigo compor canções assim... -, dando-me conta que alguma coisa esta rompida em algum canto obscuro da minha psique. Contos, músicas, poemas, canções, crônicas, são ferramentas enquanto metodologia. O que realmente se passa por trás do domínio destas metodologias é lamacento. Assimilar que alguém pode morrer ou viver fazendo isso é mera tautologia, mera lógica discursiva. Uma mulher atravessa a rua e é atropelada por um ônibus, isso não é tornar-se um escritor, de forma alguma, mas ninguém diz: atravessar a rua era a vida daquela mulher – ou a morte (talvez um escritor narre à história dessa forma). Narrar é uma luta contra o tédio (inclusive?). Toda a magia com que adornam o “ser” de um escritor é uma brincadeira de mau gosto. Sei que Cioran disse isso, e outros milhões de escritores copiaram isso dele, inclusive eu agora, mas de fato, em todos os prólogos e orelhas de livros está escrito: Um dos maiores escritores de todos os tempos! Quando leio isso eu fico imaginando o quanto tediante era o cotidiano desse tal sujeito para escrever tanto ao ponto de ser dito dele que ele era um dos maiores. Eu, por exemplo, mesmo sendo duvidoso usar-me como exemplo, escrevo para manipular o tédio. Talvez outra forma de sufocar isso é a televisão, o trabalho (com toda a sua carga estúpida e moral), os filhos, as namoradas (os), os amigos (as), um bar ou uma igreja. Notem que para alguém escrever um bom poema ou uma boa história não pode estar lá fora vivendo uma boa história. Não é por acaso que os professores (eu dou aulas, mas professor NUNCA!) discutem que os jovens tem lido pouco. Quando saio e vejo um bando de desajustados vagando por aí – não é difícil encontrá-los, se você for até a janela vera algum, certamente -, penso ser uma pena eles não encontrar o que saíram para procurar. Um bom escritor se empolga com uma formiga e escreve horas sobre a formiga. Um bom poeta escreve sobre as folhas no chão, sobre o vento e a chuva, sobre a bebida, sobre o mar, etc... Eu, vejam, disse que eu não era bom, não dou a mínima para essas coisas todas. Me cansam pessoas suaves, prosas com lantejoulas, carnavais na escrita. Inclusive não sou um músico embutido de erudição musical, logo que me canso em estudar música. Talvez meu enorme gosto pela filosofia seja guiado pela empatia para com outros entediados como eu. Que, certamente, diferente da maioria intensa de bilhões de habitantes desse mundo, algumas filosofias fazem mais sentido para mim do que a natureza é inegável para comigo mesmo. O curioso é que tenho como companheiros os atravessados na filosofia, os avessos! Ao que Medina Reyes escreve no prefácio de um livro de poesias que “a poesia não impede uma guerra nem cura gripe, mas ajuda a suportá-las”, eu digo que a filosofia impede guerras e inclusive ajuda a suportá-las. Ambas ajudam com uma “loira peituda” – do citado prefácio -, porém, a filosofia me ajudou a manter-se afastado delas (por algum tempo – me guiou para as morenas). Fazendo livres associações eu imagino que já tenham percebido que eu sou mais filósofo do que um escritor – já disse que não sou bom???
..... Escrevo e mantenho o presente blog – e até o divulgo- unicamente para compartilhar com vocês essa minha brincadeira, onde quanto mais os convido para brincar comigo, mais sei que se aparecessem me estendendo à mão eu recusaria. Notem que as primeiras postagens são as mais interessantes – a meu ver- porém são aquelas que ninguém olha. Depois eu comecei a tratar de questões que eram próprias para todos e as pessoas começaram a visitar-me (visitar minhas palavras, aquilo que estranho em mim mesmo, inclusive agora)! Hoje descobri que há um lugar para se consultar as visualizações e ri quando vi que mais de novecentas (900) pessoas visitaram esse blog no último mês. Porém, ainda assim, os textos menos acessados são os mais importantes – ainda a meu ver. O que viola minha rabugentice, justamente pelo fator que já sabia e comprovo, o que faz de um texto (um escritor, um filósofo, um músico) um texto é o quanto os outros acham ele relevante. Isso tudo é estranho, pois, se escrevi sobre coisas que as pessoas acharam interessante ler, foi um acaso (em relação ao esforço). E mesmo assim tem pessoas que se ofendem ou encontram grande sentido para seus dia-a-dia nisso. Quando alguém fica bravo ou me acusa de ser destrutivo e obscuro (patológico) eu não me enfureço e nem faço grande esforço para me justificar. Sei que o que as pessoas veem em geral é o que doe nelas admitirem. A acusação de escrever na escuridão eu aceito até como lisonja, sendo que, é esse meu lugar habitual há muito tempo – certamente antes da escrita.
..... O que eu diria para jovens escritores (e diria para mim mesmo) é apenas para escreverem se lá fora esta chato demais. Diria isso para jovens músicos também. É uma forma de brincar, de se conhecer, de conhecer as outras pessoas. Mas não chorem por falta de reconhecimento ou se alguém criticar suas escritas... Nada se torna pessoal quanto tudo é pessoal, o nada é tudo usando uma máscara! Se desejam fazer objeções a tudo que esta aí (como eu faço e admito fazer) façam isso se perguntando se é necessário três vezes. Se for, ninguém mais é capaz de dizer o contrário. Quando disserem, escrevam mais. Agora se choram, considerem fazer outra coisa. É possível rir tropeçando em uma pedra e chorar descascando cebolas. Eu gostaria de ter me dito isso à alguns anos atrás – mas nunca é tarde quando é tarde demais!

r.A. – Aos que encontrarem esse texto perdido no blog.

Um comentário:

Animais terrestres disse...

Sempre serve pra alguma coisa que não é qualquer coisa...








Vai demorar pra mim ler algo que me excite tanto...