quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Uma psicologia da afirmação do "vago"


.....”Com a face e os membros pintados de mil maneiras, assim me assombrastes, homens atuais.
E com mil espelhos à vossa roda, que adulavam e repetia o efeito das vossas cores.
Certamente, não podíeis usar melhor máscaras do que a vossa própria cara, homens atuais.
Quem poderia reconhecer?”

-Nietzsche (Assim falou Zaratustra – Do país da civilização)

..... Se pudesse hoje, sem mais análises, pintar o símbolo de homens em seu estado psicológico mais vazio, pintaria um carro de capo aberto e imprimiria nesse carro a insígnia que identifica um grupo! Não necessitamos de maior aprofundamento psicológico para figurar o símbolo de “machos em decadência”, aquilo que aos mais nobres dos homens já obriga uma reflexão de no mínimo três dias antes de poder proferir a frase: “eu sou um homem!” É perigoso dizer que é homem contemporaneamente, ora, acredito que alguns poucos de vocês irão concordar comigo, mas eu não sinto a menor vontade em ser contemporâneo dos homens que tenho visto em meu cotidiano, aliás, sinto imensa tristeza quando passo por um deles! E digo tristeza por cortesia, pois facilmente poderia substituir tristeza por náusea! Depois disso, se me fosse pedido para pintar um segundo símbolo de homens em seu estado psicológico mais vazio, pintaria a idolatria a times de futebol! Nada que necessite, novamente, de um aprofundamento psicológico, ora, nada que retrate melhor homens vazios do que a sua própria nulidade elevada na enésima potência: Um amontoado de músculos suados a correr atrás de uma bola, incentivado por gritos de outros homens, e, um grande montante de dinheiro! Ao olhar para a história da humanidade e grosseiramente posicionar, lado a lado, os homens mais antigos com os de hoje, sinto dizer, mas, estamos na época do homem mais ridiculamente inferior! Alguém, com uma esperança fúnebre gritará: Mas nós evoluímos! Hoje não batemos em mulheres!(?) Eu responderia: Claro amigo, não se deve arrastar na terra vossos enfeites! Pois digo, nada mais “oposto complementar” (como uma jornalista adora usar esse termo) para um homem tão decadente, quanto uma mulher que lhe serve como adorno, como enfeite, algo para exibir para os amigos e chorar publicamente: Meu amor, não sei o que faria sem você! Um homem que não sabe o que fazer sem uma mulher não é virilmente um homem, mas um pedaço de infantilidade! A muito nem as crianças são tão infantis! Nem as crianças, me parece, são tão covardes ao ponto de jogar suas expectativas nas costas de uma mulher! (e versa no vice).
..... Se por um lado somos um herdeiro em comum com o macaco que evoluiu (Darwin e Neodarwinistas, psicologia fisiológica – biológica, psicanálise até um ponto...), começo a pensar que o macaco está a rir de nós! Que macaco gastaria seu salário para equipar um carro a fim de constituir um argumento para sua fêmea de que é um bom partido (que macaca acreditaria no argumento?)? Digam-me, que macaco ligaria sua imagem ao porta mala de um carro entupido de batidas distorcidas para chamar a atenção? Melhor ainda, que macaco passaria horas em uma academia malhando o corpo a fim de alterar sua imagem inaceitável para si mesmo frente ao espelho? Me desculpem as mulheres, mas uma macaca não se impressionaria com isso, algumas de vocês sim! Hoje, caímos todos no truque de sentirmos nojo de nós mesmos sem poder admitir (pense positivo), psicólogos de linha de produção dizem: nada de aborrecimentos, o importante é ter saúde, vamos trabalhar! O homem, pobre e pequeno homem, antes de ficar nu (em todos os sentidos...) já esta pensando no transcender as expectativas, nem aproveita seu momento de nudez, e por vezes beija tanto os bíceps que esquece de tirar a roupa! Outras vezes (a maioria das vezes) seu bíceps é o carro rebaixado com som – aqueles que não possuem a inteligência e coordenação motora suficiente para executar um instrumento musical tem de apelar para as máquinas mesmo! Afinal, elas não se cansam como o fracassado homem! Sobre som automotivo, devo lembrar-lhes que música é algo composto de melodia e acordes, no tocante que som automotivo, quando possuí, possuí apenas melodia – portanto não é música, é apenas ruído... Devo lembrar-lhes? O violão mais desafinado supera dez carros de som (para não dizer todos), pois ainda é plausível de arrancar-lhe um acorde, já para o ruído, basta arrastar as unhas no corpo do violão – Vejam homens (e mulheres), é preciso um pouco de bom gosto para a arte e certa competência de intelecto – e se ainda acham que tiram de mim alguma razão afirmando que “gosto não se discute”, eu retruco-lhes como Nietzsche que “a vida é uma questão de gosto!” e complemento, não discutir sobre a vida, é o que lhes atolou no estrume até o pescoço! Pretendem afundar mais? Quem via o homem moderno, jamais imaginaria que se tornaria um adepto da “coprofilia”.
..... Se por outro lado ainda, se acredita que o homem é imagem e semelhança de Deus, talvez Deus tenha se tornado o mais anêmico dos super-seres! Se o mais grandioso ser pariu tamanha imperfeição, não deveríamos nós duvidar de sua perfeição? “Amamos o perfeito” dizia o poeta Fernando Pessoa, já que é o que nunca seremos! Cansados de nossa impotência ao buscar algo maior que o homem, hoje destinamos um lugar de santidade a toda a idiotice! Logo que ser idiota esta ao alcance de qualquer homem – E se escrevo isso é por não sub-julgar o homem, de outro modo, teria eu de admitir que a idiotice seja caráter intrínseco ao homem. Aí, escrever seria absurdo! Se pudesse justificar minha escrita, diria que tenho gosto por montanhas altas... Escrever para idiotas é fácil demais... Mas já aprendi em uma madrugada que minha escrita se justifica sozinha.
..... Hoje, vejo aparecer, semelhante às gangues de delinqüentes os ditos grupos. Não há grande diferença para mim, em um ponto nodal, essas gangues delinqüentes dos grupos, ambos se agrupam em nome de uma identificação negada e buscam uma identificação afirmativa. Sozinhos se sentem incapazes, juntos manifestam pensamento gregário (que faz parte da “grei”, rebanho; que vive em bando). Vou definir a que tipo de grupo me refiro, para que melhor me faça entender: Juntam-se em nome dessa identificação negada – negam quem não faz parte do grupo-, e na seqüência, com esse rebanho, buscam afirmação elegendo símbolos. Usam uniformes (camiseta e calção) com um símbolo estampado, elegem um nome (geralmente algo em inglês, de alguma forma acreditam que isso lhes atribuí algum status maior) e fixam em seus carros e motos. E o que fazem com isso? Aparentemente nada! Apenas o pertencer ao grupo é o suficiente! A baixa auto estima por si mesmos é a denuncia. Como disse no começo deste texto, “se pudesse hoje pintar o símbolo de homens em seu estado psicológico mais vazio”... Este é o adesivo! A insígnia de um grupo! Me livrarei de análises psicológicas e sociológicas que atribuem a esse exercício a necessidade da constituição de ser em uma sociedade que não mais abraça os cidadãos. Como notaram desfragmentei os comportamentos no inicio a fim de desmantelar suas propostas. Meu faro aponta para algo mais perigoso, uma psicologia de afirmação do “vago”.
..... Por vago, entendo, O que vagueia; O inconstante; Perplexo; Indeciso; Indeterminado; Confuso; Devoluto; Desabitado. Vagueiam, apenas isso, sem preposição alguma. São inconstantes, pois podem ir da nulidade de sentar sobre os capôs dos carros para ouvir ruídos, tal como, serem agressivos, atacarem outros como uma gangue, um rebanho, um único motivo: “mexeu com um, mexeu com o grupo”! Perplexo, pasmado, irresoluto, característica que não passa disso, mantém-se pasmado, não sabe o que o espanta e tão pouco procura saber (resolver-se). Indeciso, não decide, o grupo (que é todo indeciso) decide pelos indivíduos – sem preposição, mais uma vez. Indeterminado, pois não se determina por valores que vão para além desse grupo ou antes (comprar um carro, ter uma mulher enquanto enfeite...). Confuso, ao ser questionado, consulta ou informa o grupo. Devoluto (nesse sentido que aplico), não cultivado – não cultiva o engrandecimento de seu ser, destituído dos valores desse grupo, resta pouco enquanto identificação consigo mesmo. Desabitado de sentido singular. Quando falo nesse sentido do grupo, não nego que é em um grupo que se adquire a construção psicológica do sujeito, com seus valores, sua linguagem, afirmo que essa nova forma de grupo os levam a uma afirmação de uma psicologia (tal qual é o sentido do texto) do vago. Um levante vazio de manifesto a sociedade que deixa a desejar? Poder-mos-ia dizer que sim, porém, o fato de não haver manifesto algum fora um sintoma de nadidade, niilismo, direcionamento para super-valoração dos objetos acima do ser, não nos deixa dizer que isso é uma forma de manifesto.
.....Alguma preposição para sair desse atoleiro? Esperarei contribuição de psicólogos e afins no presente blog – ao mesmo tempo que não, pois já desenha-se na minha mente uma preposição baseada na transvaloração. No mais, continua no próximo texto.

r. A.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Da dignidade frente um filósofo...


Ler filosofia tal como usar de seus conceitos – parindo outros- tem sido o meu trabalho que ultrapassa qualquer remuneração. Procurei por algum tempo algo que me desse à liberdade necessária para que me expressasse, deparei-me com a literatura e seus gêneros, a música, mas o meu, digamos, melhor campo de manobra tem sido esse meu trabalho. Sabia das dificuldades disso que escolhi, o mais duro foi aceitar essas dificuldades. Aspirar ser um filósofo requer bastante disciplina, não ter hora para dormir, apagar durante alguns dias, sentir-se exaurido cognitivamente. Quando me aparece algo que exige de mim um posicionamento filosófico – uma questão cotidiana, um problema de patamares maiores, uma angústia, ou até mesmo, a busca por um sorriso- sinto como se estivesse a embarcar em um navio sombrio, sozinho, contemplar uma tempestade em alto mar. Sei que outros trilharam esse caminho e encontraram além de mares revoltos um sorriso sobre humano! Atualmente quando me deparo com essa necessidade de embarcar, penso nesses meus 23 anos e como outros amigos deixaram alguma pista para mim séculos passados (me refiro a Nietzsche que escreveu sua primeira obra aos 24 anos). A contemplação do homem em alto mar, sentindo na pele sua embarcação sendo surrada pelas ondas, pelo vento, pela tempestade, pela noite, há alguns anos tem sido o meu lar... Os tesouros e as cicatrizes da aventura, até mesmo a morte que paira no ar, o sufocar-se, isso tudo é o sinal do grito desesperado e humano que trago na córnea dos olhos da alma e no coração. Uma tremedeira e um suor gelado frente ao perigo, eis os meus deuses! Quando meu radar-corpo alerta que isso me escapa (ou que outros relutam em me tirar), prontamente arranco minha espada trincada de pelejas e a empunho sobre minha cabeça. Há brandir a espada com toda força sinto não só o punho, mas o corpo inteiro que enrijece. Com o passar dos anos pouco me importa se me acusam de arrogância, de agir de forma ridícula, animalesca, vil, obscura ou sanguinária! Sou realmente capaz de por a correr amigos e quem dirá inimigos! Tenho palavras que esmigalham rochas, arrancam árvores gigantescas, esfarelam muros, decepam pernas, braços e cabeça de monstros. Vivo acuado como uma pantera e ganho palmo a palmo a floresta. Também sei dar festas dionisíacas aos amigos, recebê-los com vinho, música e dança! Recito um poema como um lobo uiva para a lua, acaricio pernas com o corpo todo, semelhante a um gato sonolento e roliço. Apartar-me da filosofia é ação inútil, desperdício de força! Jogá-la na lama e um convite para um duelo, é oferecer-me a lança, polir minhas garras e presas, despertar minhas feras! Ao pedir para eu içar as velas de meu navio tenham a dignidade de deixar-me atravessar o mar, do contrário, deixem-me na integridade de minha loucura – é para poucos! Saibam desde ontem, é para muito poucos!

r.A.