segunda-feira, 6 de setembro de 2010

"Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo..."


.....Não sinto mais tanta vontade de escrever. O que houve? De alguma forma, sinto em algum lugar fora de mim – aquilo que se perde são palavras - , que perdi as pessoas e versa & vice. Por algumas horas pensei em Fernando Pessoa. Estava frio essa manhã e eu andava com uns poemas de Pessoa no bolso traseiro da calça jeans. As pessoas saiam correndo, perdendo o ônibus, algumas esquecendo alguma coisa, perdendo sempre : Mas que bando de perdedores! Por alguns instantes tive uma frase de efeito incrível, sabem, daquelas que imortalizam um poeta... Era mais ou menos assim (infelizmente eu esqueci a frase inteira – fodido como poeta e jebus riu lá do alto): Hã... eu aceitaria perder a vida, desde que não perdesse as palavras & o contrário sempre será válido! (Aplausos frenéticos da multidão até sangrar a palma das mãos e deslocar os pulsos).
.....Todo dia alguém vem me contar que fez alguma coisa muito boa. Sorte deles! E eu continuo procurando alguém para fazer alguma coisa boa por mim. Eu bem sei que deveria me misturar mais, conversar, olhar as pessoas nos olhos, dizer: Cara, gostei muito de uma coisa lá que você fez ______ <= Espaço para ser preenchido com alguma coisa. Mas eu tenho uma trava para falar essas coisas. Aliás, eu tenho uma trava! Eu me daria bem se eu conseguisse fazer isso. Por uma eterna e apocalíptica meia hora eu pensei sobre isso: r.A. entra em uma padaria. Senhor padeiro, eu devo admitir, gosto muito de como você diz para mim todas as manhãs “bom dia” acompanhado de um “no que posso ser-lhe útil?” Eu conheci algumas mulheres nessa minha curta vida que acordavam comigo na cama e só me pediam a hora ou diziam que precisavam ir embora. O padeiro, lisonjeado me dizia muito obrigado, você é muito gentil. Vou fazer o seguinte... tenho notado que o Sr. tem fumado demais e comprado muita cerveja. Vou lhe dar um saco de pães. Esta olhando aquela cuca ali? Ok, leve-a também. Por conta da casa. Ah, ia me esquecendo. Leve também esse dinheiro, quinhentos reais não me fará falta. Pague a mensalidade na universidade, você tem um glorioso futuro pela frente! E nós apertávamos as mãos com firmeza e empatia. Pensávamos que naquele momento conhecemos pessoas de bem. Quando eu saia, a mulher do padeiro apareceria pela cortina que separa o balcão da cozinha, com um daqueles chapéus, com luvas de plástico nas mãos e questionava ele sobre o cara manco que acabara de sair. O padeiro enxugava as lágrimas na manga da camisa e diria que lá se foi um grande poeta e filósofo.
.....Antes de voltar a pensar na diferença que consiste entre mim e Fernando Pessoa, o segundo certamente escrevia e o primeiro não, senti que o grande segredo da vida era ser gentil. Que pena... Algumas pessoas matam sorrindo, traem cantando, cagam pensando em flores, e acham que Chê Guevara foi um herói.
.....Cansado, sentei no canto de uma lanchonete para ler os poemas que trazia comigo. Pelo menos alguém que tinha vontade de escrever. Li “Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?” Retirei um cigarro do bolso. A garçonete magra, sorrindo, apontou para uma placa de proibido fumar. Cantarolei um blues e tomei meu café. Quando voltei para casa, refletindo sobre minha pouca vontade de escrever, passei pela padaria. Acenei para o padeiro e ele fingiu que não viu. Sujeitinho esperto aquele.

r.A.

2 comentários:

Animais terrestres disse...

Nitidamente o Rodrigo sangrando...

Unknown disse...

Rodrigo vocÊ é um pampeão!!!
abraços^^)