sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Situação do Rock em Chapecó (Parte III)


Ele é aquele
Que gosta de todas as nossas músicas bonitas
E ele gosta de cantar junto
E ele gosta de atirar com sua arma
Mas ele não sabe o que significa
Não sabe o que significa quando eu digo: Yeah!
(im bloom – Kurt Cabain)
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..... Quando um filósofo escreve, o mais importante são as vozes que ele faz falar. Um amigo disse isso durante um debate de filosofia e eu acatei acrescentando: Também é importante o filósofo “puxar o freio” dos que falam demais! Creio ter me dado muito bem nesses dois sentidos – sendo assim, já me sinto bastante satisfeito com meus textos anteriores- e se não fui CLARO, é que não há em mim o desejo de ser. Se não fui objetivo é que entrego o “acadelecismo” para os a muito “acadelados”. Os textos terem se tornado “papéis pega moscas” antevia por seus conteúdos. Creio que é sentido pelos leitores os textos serem todos aos pedaços: É que sou todo em pedaços!
.....Breve comentário aos textos anteriores: O 1º texto deixei vir a tona meus sentimentos. Chamo-o de sintomático. Certamente é inútil para o “acadelicismo” em voga, mas habilitei minhas frustrações ao fazer o contrário do comumente feito, ou seja, clareza e limpeza na escrita. Embora eu bem saiba que estas celebrações da “forma” na escrita são demasiadamente falsárias (praticamente uma metafísica dos bem resolvidos). Mas por qual motivo ele (texto) seria válido? Simples: Escrevi a partir do fato de estar inserido no contexto do rock em Chapecó! Notem: Mas o contexto não respondia minhas implicações, aí parti para aquilo que re-signifiquei como SITUAÇÃO. O 2º texto elaborei de forma não acadêmica algumas citações de tradições de pensamentos distintos (isso, inclusive, está no texto) a fim de coletar algum “alento”- desta vez tendo mais em vista à arte- e se leram com atenção, a última citação (Nietzsche), deixa o texto em aberto. A importância deste texto é tecer um “núcleo em pedaços”. Portanto, qualquer crítica no sentido metodológico (É uma crônica? É um princípio de artigo científico? Um pêru de oito olhos?...etc...) só fortalece a intenção do texto! Cobrar do texto a metodologia dos seus sonhos é tolice! Não se esqueçam que não escrevo para dar comida na boquinha! Por último, para uma não-conclusão, vou guiá-los para minhas proposições. Dividirei em subtítulos e farei através de metáforas.
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...1-Rocha de Gesso:...........................................................................
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.....Aqui em Chapecó existem muitos dos que gritam bem alto: Sou um roqueiro! Eu respondo do meu canto: Sim! Você é, com toda certeza deste mundo... (indi, metal, punk, heavy, grunge, psicodélico, etc, e alguns são tudo isso e mais alguma coisa que eles não sabem o que é, mas eles juram por Deus que são). Não nego que sejam. Até digo: Não tenho a fita métrica para medir esta Rocha de gesso! Se eles se auto-proclamam, acredito neles! Nota: Não vou dar nenhuma definição de rock (como já perceberam), deixo que pensem sobre isso os que fazem e os que “curtem”. A minha eu já tenho... Creio que é aberta demais esta definição para impor aos outros.
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...2-Princípio básico de uma conversa:................................................................
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.....No filme Matrix (precisamente o primeiro), ao ser apresentado para humanos desplugados da Matrix- e estes não tratar com muita cortesia Neo- Neo que não aceitava hostilidade, pensa na possibilidade de abandoná-los e ir para casa. Trinity lembra Neo que a rua de casa ele conhecia, mas o que poderia acontecer se ele não fosse embora, ele não poderia saber ao menos que ficasse.
.....As conversas com os amigos geralmente começam com questões no sentido: Como vai você? A resposta do interlocutor, mesmo que imaginemos antever, sempre pode nos surpreender. Mas se ele nos respondesse: Como pode ver, vou de camisa branca, calça jeans e tênis all star! Ou talvez um: Bem, e você? É bem diferente de um: Vou lhe contar o motivo de minhas tristezas... Se sempre soubéssemos o que o outro teria para nos dizer, qual seria a “graça” de conversar? Há uma diferença entre a NOVIDADE e o NOVO. Em geral perguntamos pelas novidades (que é o mesmo disfarçado de diferente, ou visto de outra forma – mas nos revelando o mesmo). Perguntar pelo novo, talvez, já tenha nos decepcionado de mais – daí o abandono da questão. O novo (Neo) não quer trilhar a mesma rua e ir para casa. Quer o “refrão impossível”, “princípio básico de uma conversa”, “o objeto perdido” (Jacques Lacan), “a vida não assegurada”. Existe uma luta no interior de cada frase que proferimos (Medo de se perder, Medo de se encontrar). Aí o despertar do regimento do “Pacto dos fracassados” – que invertem valores- que gritam: VOCÊ NÃO SABE! Por qual motivo (eles nos dizem isso)? Pelo motivo que nem eles sabem. Só querem o “Círculo”, “Os refrões decorados”, “O adestramento de possibilidades”. Para estes a vida é agora, pois o futuro é contingência negativa (... nem o agora é agora). Nunca caíram: Nunca saíram do chão! Falam o tempo todo, mas não conversam! Fazem de tudo, mas no fundo: Nada. Se afogam em um mar de ressentimentos – dito “NÃO” uma vez para estes, eles não lhe esquecem nem por um dia!
..... O palco é uma corda bamba perigosa para os que se atrevem a conversar. Um pódio para os que não querem conversa.
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...3- A mentira da demanda do público:..................................................................
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....Nos dizer “é disso aqui que você tem que gostar” será sempre uma grosseria! Alguém se auto-proclamar Sr. de nossas vontades (ou de nossas palavras) é nocivo! Não há atividade nesse sentido que não atente de alguma forma contra nossa vida. Quando percebo a repetição, o consenso, na pista destes percebo o CONDICIONAMENTO. Não há muita conversa quando se chega ao consenso. Mas quando há falta de assunto tem sempre alguém no pódio. Quem está no pódio não quer conversa, quer a medalha e a respectiva salva de palmas (já condicionadas). Quem os coloca no pódio quer o dinheiro das cervejas e das entradas, na maioria das vezes. Como podem dizer que as pessoas QUEREM/GOSTAM disso se não lhes dão outra coisa? Tudo que vejo na T.v. e nos jornais juram para mim que é o melhor (o melhor do rock...). Para quem mesmo é vantajosa a mentira da demanda do público? “Enquanto existirem aqueles que não querem que conversemos, as palavras sempre terão seu valor” (do filme V de vingança).
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...4- O músico que olhava no olho sem pálpebra do seu demônio:.......................
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..... Devo admitir que esta foi a primeira frase que me veio quando iniciei os três textos (e não vai ser aqui que vou esgotá-la). O demônio, enquanto símbolo transpassou alguns milhares de anos, e assim deixarei sua forma indefinida. Ele nem sempre foi um significante de terror (e nem sempre foi marginalizado). Pensemos nesse subtítulo, enquanto sentimento de finitude (fim). Os dedos “descoordenados” do principiante em música, a falta de ideia para compor, a falta de equipamento, “às portas fechadas” para os novos músicos, “a morte prematura do amigo músico” – forma indefinida de problema... Arranquemos às pálpebras deste símbolo e o coloquemos diante de nós. Façamos o exercício de pensar que, por mais que fechemos os olhos, ele está ali sempre nos encarando. A questão não será de “vencê-lo” (não se vence este símbolo, ele não existe, ele persiste), mas de arrancar dele uivos, ultrapassar limites, arrancar do sentimento mais extremado a música que carrega toda sua situação... Uma canção que faça tremer! Pensemos na possibilidade de não ignorá-lo, não deixar ele, esta espécie de “ferramenta conceitual”, sumir. Aliás, transformemos este demônio metafórico em “ferida quase causa”, “fazer artístico”, “criar novas formas”, “gesto”, ou o que bem quisermos. Aos que tem suas vidas embaladas pela música, seus comportamentos atravessados por ela, busquem a música que os faça tremer, que os façam querer gritar, se alimentem da “Arte que torna a vida mais importante que a própria arte”. Parafraseando o poeta Fernando Pessoa: Viver não é preciso, navegar sim! Então naveguem em música, não se importem com o “rótulo”. Se importem com a canção de “Core” (do italiano: Coração). Deem uma chance para a conversa!
.....Quando ando por aí e vejo garotas/garotos com um violão (ou outro instrumento) nas costas,penso: Antes de decidir que eles toquem rock ou qualquer outro gênero, que amem a música. Que façam música para que mais gente viva à música – mas que não façam música para impedir outros... também que não escrevam para impedir outros de escrever.
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...5- Na voz de Joey Ramone:..............................................................
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“Nós precisamos mudar, nós precisamos disso rápido
Antes que o rock se torne coisa do passado
Pois ultimamente tudo soa a mesma coisa pra mim”
(Do you remebember rock and roll radio?)
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….. Questão: Não lhes parece evidente que a música sobrevive fazendo críticas a si mesma? Fechar-se em um gênero não desenvolve um preconceito disfarçado de boa causa? O que fazemos agachados na trincheira do rock dando tiros para todos os lados? Em uma mão armas, na outra um saquinho de confetes!
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...6- Rock na cadeia:.......................................................................................
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.....Foi na penitenciária agrícola de Chapecó que conheci às “paredes que engolem o sol”. Embora nunca tenha sido um presidiário daquele lugar, senti que estava impregnado pelos vestígios do presídio em cada célula! Nos olhos de cada detento senti empatia. Wittgenstein (filósofo) disse que “os limites de minha linguagem são os limites de meu mundo”. Uma ideia bastante acertada, mas como poderia fazer às paredes vomitarem meu sol? O máximo que eu poderia fazer com um diploma ali seria escrever um poema no verso, depois, talvez, enrolá-lo e fumá-lo para me acalmar. Nas proximidades da penitenciária existe uma vila chamada “Esperança” – acontecem coisas lá que nem os jornais têm estômago para publicar. Duas empresas de linha de produção vigiam, uma em cada extremidade, as possíveis saídas. Entrevistem a ponta das facas! São elas que mais falam neste lugar. Querem uma base sólida? Que tal o cano de um revólver? Eu sei que cada um quer gritar na frente do espelho que fez sua parte, porém, quer esquecer esta outra parte: as paredes que engolem o sol. Existem coisas (algumas vezes às mais importantes) que não estão nos livros meus amigos. Uma vez estando nesse lugar, não é só o seu demônio que não tem pálpebras... pelo menos a pálpebra de um de seus olhos cairá.
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...7- Vencedores, demasiadamente vencedores!..........................................
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.....”O que nos humaniza é o fracasso” (Pondé: Filósofo/ Psicanalísta), nos mostra outro possível contato com o real, “Fricção de angústia” (Bukowski), avesso as psicologias positivistas e das que tornam o sofrimento patológico, converter até mesmo as doenças em “afirmações jubilatórias da existência” (Nietzsche), ou seja, arrancar do fracasso um querer viver potente! Pegar este: “Homem que é triste, para todos os séculos existe e nunca mais o seu pesar se apaga” (Augusto dos Anjos) e torná-lo poema (outra vez). Rasgar os “espaços de interdição” (Steven Flusty), a fim que se tornem palco para o “Eutro” (Eu sou outro - Rimbaud). Olhar no olho sem pálpebra do nosso demônio. Mas para isso teremos que assimilar as lições nas células! Correr destes vitoriosos que se vangloriam da estrada e dos espaços (ora, estrada e espaço é palco e não pódio)! Os grandes especialistas em tudo – menos no fracasso- em suas neuroses carcomidas insistem que beijemos seus pés e os chamemos de vencedores! Mostrem o reio para esses – mas mostrem só uma vez! Depois os deixem posar de ridículos, afogando na bílis do ressentimento. Pois a verdade da “coisa” está entre a forma e a matéria (Heidegger). E isso, estes vencedores não sabem!
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...8- Continua, nunca se fecha...............................................................................
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.....Notei que embora passaram algumas semanas que publiquei o primeiro texto, ainda tem gente esperneando com ele atravessado na garganta. Quanto desperdício! Escrevo para frente, não para trás! Aprendi muito escrevendo estes textos, pois deixei muitas coisas dos textos para trás (isto significa que, com algumas coisas, nem eu concordo comigo mais...- supero minhas ideias e meus sentimentos). Quanto às “vacas atoladas”, infelizmente para elas, nem se quer perco tempo acenando!
.....Assim, (não) encerro este texto agradecendo aos que algumas questões pudemos compartilhar. Espero que as proposições deste texto sejam de alguma valia – se não forem, ora, aí não foram!

r.A.

Ps.- Dedico este texto de todo coração ao “Tubin”. Grande baterista do Rock chapecoense. Para nossas conversas no balcão do bar da Dulce, e a dor que sinto sabendo que “parte” dele se foi. Ao seu sorriso simples... Amigo...

“E mostre a oração que você escondeu
Você encontrará de onde as pessoas vieram
Nas coisas que você diz
Mas fale o que você irá dizer
Sobre os fazendeiros e a diversão
E sobre as coisas por trás do sol
E as pessoas que rondam sua cabeça
Que dizem tudo que foi dito...”

(Things Behind the sun- Nick Drake)