segunda-feira, 8 de abril de 2013

Para onde vão os poemas que deram errado?




......Há mais ou menos 10 anos atrás, numa noite tola como esta e em um quarto que servia mais como refugio, eu rabisquei as linhas de algo parecido com um poema. Não lembro direito das palavras, mas lembro do sentido que queria dar a elas. Dizia que todos nós estamos capotando em um abismo, rumo ao nada. Perdi uma noite inteira escrevendo e ajeitando isso e agora consigo escrever isso como se fosse um mero aceno de mão para alguém que passa do outro lado da rua.
......Naqueles anos, em que eu não ia dormir antes de observar a lua alta no céu, ocorreu que pensamentos começaram a explodir na minha cabeça e me perturbavam por horas à fio. Não passava de um idiota que achava que ia dar em alguma coisa magnífica! Ainda há gente no mundo que sufoca todos os sonhos com um tipo raro de veneno que dança no interior das veias e cavalga no sangue... Não é que um dia você acorda, é que um dia você não dorme – e tudo muda quando a perspectiva muda!
......O bom é que eu sabia exatamente quem eu era. O ruim é que saber exatamente o que se é não passa de uma ilusão sofisticada e necessária. Quando você vive e respira uma ilusão sofisticada, você pensa que sabe exatamente quais caminhos percorrer. Você tem opinião para tudo, frases bem torneadas para inúmeras situações e um sorriso malvado estampado na cara tosca. É uma tragédia quando você se desilude! Seu espectro é um Édipo cego, guiado pela mão por uma filha amaldiçoada – todo dia seu guia muda e você só percebe quando fareja o perfume no ar.
......Existem aqueles que rastejam para baixo se apoiando nas saliências do abismo. Cada saliência é uma nova manhã. Cada compromisso é defendido como uma luz no fim do túnel. Existem aqueles que quando alguém pergunta quem são respondem com o nome de “batismo” e o código do RG. Rapaz, esses já eram! Mas eu acho que você entende o quanto isso é uma piora... Quase todos querem ser algo, pois não ser algo chega ser engraçado! Existem aqueles que estão presos numa pista de corrida e precisam ganhar tempo para correr mais rápido. A humanidade toda é uma espécie de torcida organizada – os que vieram antes e os que virão depois, até o sol explodir.
......Um dia, talvez se você for bonzinho, ainda te conto como é que se engana essa história toda. A curiosidade te fará olhar por trás do muro torto cujos tijolos são palavras e o cimento neuroses. A indignação profunda que irá sentir revelará, sussurrando no seu ouvido, que as cartas que você combinou para vencer o jogo terão que ser submetidas a novas regras – a regra do “perde sempre”.
......Chega ser bonito quando um ser humano compreende que todas as suas causas eram sombras embaixo de um coqueiro! Não é tristeza você entender que muitas coisas se resumiam em ter um trago para beber e um cigarro para fumar. É alegria.
......Não é curioso que a maioria das pessoas que se acham inteligentes estão mais entretidas com os poemas que deram certo do que com os poemas que deram errado?


r.A.


Dedicado ao maldito E.M. Cioran, esse amigo da infância perdida!

domingo, 7 de abril de 2013

II (dois) - Ensinando a tocar serrote

Nota: Este é o segundo de três curtos ensaios. Este falará Basicamente de Algumas impressões que tenho sobre a Filosofia para os dias atuais e precisamente sobre as condições básicas para seu exercício no ensino médio (no contexto do ensino público no estado de São Paulo – 2012/2013-, precisamente no ensino médio). Espero que o texto sirva para “levantar algumas suspeitas” e não para responder de uma vez as implicações de nosso cotidiano. Se você achar o texto difícil de compreender e interpretar, não se preocupe, ele vai continuar aí para você ler mais de uma vez! Nem tudo nessa vida foi “feito” para ser compreendido sem esforço. Mas se você não quer se esforçar, quem sabe o melhor para você não seria ir comer gelatina ao invés de ler...

......Quando perguntaram (ABCdário) para o filósofo Gilles Deleuze se não “estranhavam” o ensino da filosofia nas escolas quando este começou a lecionar na França, Deleuze respondeu com bom humor mais ou menos o seguinte: Ensinava a tocar serrote. Era tipo o “idiota da aldeia”. O cara que fala coisas malucas! É claro que trata-se de uma resposta um pouco irônica. Um professor de filosofia não ensina tocar serrote, nem é um idiota da aldeia. Em geral, as pessoas em uma sociedade, acostumadas a conversas superficiais e respostas objetivas, tendem a pensar que o filósofo é um “maluco” que fala coisas “com pouco sentido”, até mesmo “inúteis”. É um “problema”, que inclusive, é alimentado pelo simples fato da filosofia, tratando-se do seu ensino, só se torna uma disciplina da matriz curricular já no ensino médio. Quer dizer: muitas vezes, um adolescente só vai se deparar com a filosofia depois de já ter noções básicas de ciências gerais, a própria matemática, os conhecimentos nas áreas da geografia, das línguas (idiomas, português – no caso do Brasil – e alguma outra língua estrangeira), história, enfim, é inegável que estas áreas do pensamento atuam de forma bastante distinta da filosofia – embora complementares.
...... A distância dos procedimentos pedagógicos fica mais complicada quando se descobre – o adolescente no ensino médio – que está diante de uma tradição de pensamento que já constituí uma história de 2.500 anos de tradição! E se isso não bastasse, toda essa tradição de pensamento não chegará a ser apresentada – mesmo que condensada – na totalidade de sua importância- nesses poucos três anos na escola. O professor de filosofia se vê na difícil tarefa de, ao mesmo tempo em que deve introduzir seus alunos minimamente nessa tradição, demonstrar imediatamente a aplicabilidade desse saber no contexto cultural – social , destes alunos. E com toda certeza, isso piora se o adolescente de ensino médio não estiver minimamente interessado (não tiver vontade ou não for motivado) a se exercitar em uma maneira completamente distinta de pensar. De minha parte, particularmente falando, penso que nada pode ser ensinado se aquele que está numa posição de aprender apresentar um comportamento de recusa. Resumindo: nada se ensina a quem não quer aprender! E pior. Se tratando da filosofia muito mais de um exercício intelectual do que um método a ser decorado e aplicado, então a “vontade” torna-se princípio mais do que fundamental. É a porta de entrada (a bendita vontade)!
......No esteio da filosofia, digamos, no seu suporte, está a crítica. A crítica, tenho cá comigo, que não se ensina, se desperta – se provoca. Então o atalho para “vencer” toda a distância pedagógica entre a “forma” que o aluno adolescente está acostumado a percorrer para pensar sobre o mundo e a filosofia é a “provocação”. Quer dizer, antes de propor fórmulas de pensamento, o professor de filosofia tem a dura tarefa de “indignar” o aluno! Se o professor de filosofia não deixar, à princípio, seus alunos em “crise” com seus saberes já adquiridos, provavelmente perderá a proposta inicial da filosofia. Veja que a filosofia começa com “sentimentos” que são tidos como negativos comumente. Provocação, indignação e crise. Se um sujeito não se sente provocado, indignado e em crise com seus saberes, com seus pensamentos que o guiaram até o contato com a filosofia, ele não partirá para a construção crítica de seu próprio saber.
......Quando a filosofia não conduz aqueles que nela se embrenham para uma autonomia mínima (a criação de seus próprios critérios de pensamento), ela se transforma num padrão de conhecimento, num método prévio, em outras palavras, no fim da própria filosofia – enquanto sua criação, enquanto seu próprio sentido de ser.  É pontualmente nesse sentido que, antes de jogar pensamentos filosóficos sobre qualquer aluno, penso que auxiliar qualquer iniciante a um “dar-se conta” de seus próprios conceitos sobre o mundo que o cerca é ainda mais necessário. Nesse sentido, não há problema algum que alguém não entenda de Aristóteles, Marx ou Nietzsche. Deixemos isso aos especialistas! Se o aluno quiser aprofundar seus conhecimentos em algum autor, pois que faça isso depois de adquirir certa autonomia de pensar, certa liberdade de pensamento, certo critério crítico que diz respeito a ele. Quando o critério de conhecimento filosófico for a repetição exegética das palavras de um filósofo, perdemos de vista o propósito inicial da tradição filosófica. Criamos alienação invés de emancipação intelectual. Que isso aconteça muitas vezes, só posso sentir como vergonha quando se profere o termo filosofia (amor ao saber).
......Sinto que algo está errado quando converso com alguém que antes de dizer o que pensa coloca o nome de um filósofo! Sinto isso em relação a todo conhecimento humano. Se o próprio “logos” (discurso filosófico) nasceu enquanto um exercício de fundamentar tanto quanto for possível o que um sujeito pensa tomando a si mesmo enquanto uma autoridade de seu pensamento, só posso achar um retrocesso alguém eleger dogmas (verdades inquestionáveis, culturais, sociais, históricas, políticas, científicas) antes de suas próprias ideias. Traduzir o termo “logos” por “discurso racional” (entendendo razão no sentido que tomamos hoje em dia) é de uma ingenuidade que faria até os pré-socráticos cair na gargalhada! Para “provocar com chamas” eu diria que a maioria dos que se dizem poetas e artistas hoje em dia são bem menos poéticos e artísticos do que os primeiros filósofos!
O critério de “medição”? A própria criatividade, inventividade, dinâmica, sensibilidade, sedução, ideia, contestação, expressão! – Se não foi isso que filósofos como Nietzsche (inclusive) identificaram, podem rasgar meu diploma.
......Agora se ensinar filosofia é análogo a envergar um serrote e arrancar acordes desse objeto, posso afirmar que sou um bom filósofo – filósofo e professor de filosofia para mim precisam ser tautologias! (afirmação da mesma proposição). E se tenho algumas certezas (poucas, aliás), uma delas é que enquanto existir ser humano correndo pela superfície terrestre haverá necessidade de que se filosofe. E se há dúvidas enquanto ao ensino de filosofia na escola pública – apesar das dificuldades todas – penso que sem filosofia se poderia tranquilamente fechar a escola. Pelo simples motivo de que se o conhecimento além de ser uma ferramenta da sobrevivência humana não for um elemento da crítica humana (do que inventamos ser “O humano”), onde razão e sensibilidade andam de mãos dadas -mesmo que constrangidas- , se conhecimento não for isso, então é um gigantesco equívoco.
......E, duvido que um adolescente em São Paulo consiga viver mais de um mês sem esbarrar em um conhecimento filosófico. E isso não é uma justificativa, é uma evidência! Ou você pensa que em algum momento não terá que criticar seus próprios pensamentos sobre o mundo? Você não atravessa nem a rua para comprar um refrigerante se não fizer isso!  



Rodrigo Adriano Machado – Filósofo.

“115. A alma possui um logos que aumenta a si próprio”
Heráclito de Éfeso.

I (um) - Os adolescentes, As desculpas sócio-históricas e A escola pública desmoronando


Nota: Este é o primeiro de três curtos ensaios. Este falará BASICAMENTE de ALGUMAS impressões que tenho em relação à juventude em geral no contexto atual de minhas experiências como Filósofo e a condição da educação que nos é apresentada no estado de São Paulo (2012-2013) – “Ensino médio”. Se você não gostar o problema é seu, não estou aqui para ser agradável.
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......Primeiro é necessário que eu lhe diga os motivos que me levam a escrever. Escrevo porque gosto e porque me entendo melhor texto após texto – isso me basta! Entre ficar babando por aí, defendendo opiniões pouco refletidas e apenas falando que tudo está errado, me parece que escrever é alguma coisa a mais. Isso e o simples fato de que para ser lido é preciso que bote o leitor a pensar já é um bom começo. A filosofia só pode ser feita por pessoas que pensam juntas mesmo com ideias diferentes.  Em pouco mais de três anos de experiências com a educação, alguma graduação acadêmica e intensa reflexão Filosófica chego à conclusão que mudanças imediatas na educação são necessárias e mais. Penso que se essas mudanças não partirem daqueles que frequentam as escolas, mesmo com a falta de atenção social e política, evidente em relação à educação pública, então a escola deverá em pouco tempo que deixar de existir.
......Se você comemora o fim da escola, você não se deu conta ainda do grau avançado de sua idiotice! Pois a escola, mesmo que em condições precárias, ainda é um dos lugares de fator decisivo para mudanças necessárias (boas e más) para a sociedade atual. Tornar um lugar de “boas” mudanças é nossa luta cotidiana – Professores, alunos, funcionários e família, enfim, comunidade.
......O que devemos ter em mende é que se tornou necessário que abandonemos velhas frases de efeito em relação a escola. Não adianta dizer apenas que “a educação é importante”, que os alunos devem ir à escola buscando “garantias melhores para o futuro” – O futuro é incerto, não podemos viver prometendo melhoras! Agora para aqueles que dizem que a única justificativa para ir para a escola é “porque os pais e responsáveis obrigam” não há muito o que dizer. A própria falta de vontade já venceu a luta entre o existir e o se arrastar. Alguns educadores dizem que é preciso “forçar” os adolescentes, pois esses não sabem muito bem o que querem. Quanto a mim, discordo! Penso que os adolescentes sabem muito bem o que querem – na maioria das vezes – mas trabalham com noções confusas que precisam ser provocadas, sacudidas, para se desenvolverem e me recuso a tratar adolescentes como se fossem cachorrinhos a serem adestrados até que se tornem dóceis animaizinhos de estimação da sociedade. Provocar, sacudir e desenvolver noções é a porta de entrada para a Filosofia!
......A escola tem de ser um lugar para a construção do pensamento crítico (até os limites da criticidade) para o agora! Mas gente que há muito já entra na escola sem vontade não há de construir pensamento crítico algum (agora me refiro a professores e alunos). E desse tipo de gente a sociedade está entupida! Há multidões! A velha falácia de que é um sintoma social ou mero resultado de condições históricas, para mim, é só uma desculpa esfarrapada! Essa conversa fiada de tratar as pessoas como vítimas o tempo todo e em todas as ocasiões é conversa para boi dormir. Outro velho papo pedagógico de que estamos em constante “construção do pensamento” precisa ir para além das frases de efeito. Estamos em construção, mas isso não nos priva de maneira alguma da necessidade de tomarmos as rédeas de nossa existência. A Filosofia nunca foi mais necessária do que nos tempos atuais. “Dar um tempo” e se perguntar o que realmente se quer fazer desta vida é uma necessidade bastante imediata, não se pode adiar. Se um adolescente consegue enviar uma mensagem pelo facebook ou fazer uma ligação no celular, então está em condições básicas para avaliar sua própria existência- se quiser! Nem vou entrar nos méritos sociais e políticos de uma reflexão destas, seria falar o óbvio. Não digo que isso é Filosofia, digo que a Filosofia pode proporcionar isso para aqueles que desejam. Para aqueles que tem coragem. É tão fácil hoje em dia se “deixar levar”... Nem uma barata se deixa levar, mas quanto a algumas pessoas já não tenho certeza.
......É comum reclamarmos da indisciplina. E essa conversa é tão antiga quanto à humanidade. Houve uma modinha intelectualóide de péssima interpretação de pensamentos sobre o poder e a disciplina (má interpretação dos escritos de Michel Foucault, para citar um Filósofo nessa conversa) que coloriu os discursos daqueles que gostariam de fazer o que bem desejam quando convivendo em grupo. Hoje é comum rebeldes sem causa acharem bonito não ter “eira nem beira”, propósito ou objetivo. Tem até aqueles que acham graça nisso! Bebezinho que bate o brinquedinho na parede para chamar a atenção da mamãe. Há quase um consenso entre os profissionais da educação de dizer que isso é falta de educação, limites, bons modos, em casa. Dizem “má educação vem de família”. Não acho que seja apenas isso. E como disse acima, essa conversa de sintoma social e efeito de condições históricas não cola comigo. Assim como é tão “velha” quanto à humanidade a queixa em relação à indisciplina, também é velha a “pane mental” dos desejos que se chocam com a moral. Sendo a moral normativa e a própria cultura um tipo de controle, não é raro gente que não consegue atingir um tipo básico de sensibilidade ética para com o “outro” que está na sua frente. Para resumir, se gasta mais tempo tagarelando contra a disciplina do que ponderando que alguma disciplina e “controle” – sim CONTROLE – é necessária para qualquer convívio coletivo. Vou citar um exemplo bem ilustrativo: Um sujeito que chuta uma porta ou derruba uma cadeira está dizendo com esse gesto duas coisas. 1- que não está suportando um tipo de disciplina que lhe é imposta; 2- que é incapaz de um gesto mais emancipador e proveitoso de suas energias. É óbvio que qualquer “tolo” pode chutar uma porta – e chutar uma porta nunca deixou ninguém mais inteligente. Agora se o sujeito não consegue passar do 1 (chutar a porta) para o 2 (aproveitar melhor suas energias, questionando, por exemplo, o que é essa disciplina que não suporta), jogar a “culpa” toda na sociedade é de uma preguiça gigante! De uma falta de caráter vergonhosa!
......Sinto que estamos cercados de teorias/praticas que infantilizam pedagogicamente os jovens (tratam adolescentes como se fossem bebezinhos ) enquanto nossa cultura se encaminha a longos passos para a excitação e desinibição moral. Lidamos todos os dias com uma cultura que banaliza a sexualidade e a violência, que mente que o dinheiro irá resolver todos nossos problemas existenciais. Se não descontruirmos essa cultura “idiotizada”, não haverá amanhã para nós! Diria que é a pior situação da educação esse beco sem saída. E ao menos que chamemos para si a tarefa de contornar as desculpas sócio-históricas (muitas delas difundidas e incentivadas nas universidades por aí afora) a tendência é a “idiotização plena” de toda uma “geração”.  Quanto aos interesses políticos ideológicos em jogo e interessados no avanço dessa decadência, vou deixar para outro momento! – Já estamos “carecas de saber” as consequências disso.
......O resultado é um grande número de professores cansados tentando ensinar algo para adolescentes que não querem saber – e ainda acham que estão no seu direito (risos)! Mas a cobrança é que se ensine “na marra” – a pau, como se diz no sul. E a situação piora uma vez que a cultura continua sendo hierarquizada e excludente, enquanto a escola trabalha numa lógica “contra-cultural” promovendo “inclusão”, mas com uma sociedade “idealizada” enquanto caminho. É mais ou menos querer mover uma parede apenas assoprando! Sinceramente, antes de pensarmos o “ideal” de escola ou até os objetivos da educação atual, eu sugiro que se abandone a ingenuidade em relação ao ser humano. Se você quer ainda “salvar a alma e queimar o corpo”, sugiro que vá para a igreja. A escola não deve nem pode fazer isso!
......Mas se você acha que não pode piorar, deixe-me lhe dizer uma coisa que não se ensina nas universidades. Os alunos numa escola muitas vezes acabam pensando que os professores são seus adversários – e vice versa -, já que esse conflito, por vezes, acaba por colocá-los numa impressão de luta/disputa pelo “poder” e não luta contra a ignorância. Tanto professores quanto alunos que se deixam levar por essa impressão apenas se consomem em uma rivalidade que não existe... Acredite, vivo isso diariamente. Adolescentes, como qualquer ser humano com uma boa dose de maldade não tratada no fundo do coração (afinal, somos humanos, não anjinhos perfumados), querem ver você se perder e cair! Já vi mais professores desistir de dar aulas por causa disso do que por causa do salário! (Uma pessoa não leva a melhor medindo forças com trinta, entenda bem esse princípio concreto). Se você acha que estou exagerando, consulte os dados estatísticos sobre professores agredidos (e assassinados) por alunos em São Paulo. Quanto a mim, quando trinta pessoas me empurram, eu simplesmente dou um passo para o lado deixando essas trinta pessoas fazer força à toa! (se for muita força, elas se esborracham no chão). É importante para um professor lembrar os alunos quantas vezes forem necessárias o real motivo de estarmos ali, juntos. Por exemplo, o meu motivo, é a Filosofia. Qualquer coisa que escape disso não me interessa! E qualquer um que não tiver vontade de aprender algo com a Filosofia, muito pouco me importa -menos ainda me ofende. Se em 2.500 anos de história a Filosofia continua firme e forte em sua tradição deve significar que ela não vive nem se importa com quem dela tira sarro!
......Por fim, ao menos que à princípio, os adolescentes se deem conta de sua atual condição e do quanto tem desperdiçado o espaço que é resultado de muitas lutas sociais – a saber, a escola -, ao menos que por um momento esse exercício de tomada de consciência ocorra, não importará as mudanças políticas que sejam implantadas na educação –investimentos financeiros e tudo mais. Tudo tenderá a piorar até que não nos suportemos mais! Será lamentável que acabemos com o ensino público porque nos tornamos incapazes de uma gota de pensamento ético e sensibilidade. Se a escola pública acabar, não pense que a escola privada/particular (e na esteira dessa, a educação privatizada) fechará suas portas! Provavelmente o “conhecimento científico, tecnológico e crítico” voltará a fazer parte unicamente da camada social das “elites econômicas” e o povo verá afundar o esforço histórico de muitas gerações unicamente por causa de caprichos adolescentes mimados! Provavelmente haverá o dobro de teorias que gostam de transformar preguiçosos em vítimas. E o império da banalidade e futilidade atingirá seu ápice.
......Quem sabe não seja o momento de fazermos uma reflexão negativa. Quem sabe não seja melhor mesmo o povo “entregar os pontos” de todas suas tentativas de deixar de ser “massa de manobra”, “massa ignorante”. Quem sabe, realmente, a sociedade devesse ser regida por uma elite econômica ou “intelectual” e esse povo, esse “rebanho”, não devesse se ocupar dos trabalhos para ganhar o pão de cada dia e assistir um circo de banalidades nos fins de semana. Não duvide, tem muita gente que quer e não passará disso! Mas para esses, infelizmente, a Filosofia não tem muito o que dizer... E é até melhor que uma “massa ignorante” veja a Filosofia como apenas “uma viagem na maionese”!


Rodrigo A. Machado- Filósofo.

P.S.: Não adianta apenas ensinar o “Ivo Viu A Uva” nem dizer que a sociedade capitalista é opressora e desumana. É preciso dizer para o “Ivo” que se ele continuar sendo um “bosta” seu futuro é a privada!

“116. Todos os homens podem conhecer a si mesmos e pensar sensatamente”.
Heráclito de Éfeso.