terça-feira, 5 de outubro de 2010

Da dignidade frente um filósofo...


Ler filosofia tal como usar de seus conceitos – parindo outros- tem sido o meu trabalho que ultrapassa qualquer remuneração. Procurei por algum tempo algo que me desse à liberdade necessária para que me expressasse, deparei-me com a literatura e seus gêneros, a música, mas o meu, digamos, melhor campo de manobra tem sido esse meu trabalho. Sabia das dificuldades disso que escolhi, o mais duro foi aceitar essas dificuldades. Aspirar ser um filósofo requer bastante disciplina, não ter hora para dormir, apagar durante alguns dias, sentir-se exaurido cognitivamente. Quando me aparece algo que exige de mim um posicionamento filosófico – uma questão cotidiana, um problema de patamares maiores, uma angústia, ou até mesmo, a busca por um sorriso- sinto como se estivesse a embarcar em um navio sombrio, sozinho, contemplar uma tempestade em alto mar. Sei que outros trilharam esse caminho e encontraram além de mares revoltos um sorriso sobre humano! Atualmente quando me deparo com essa necessidade de embarcar, penso nesses meus 23 anos e como outros amigos deixaram alguma pista para mim séculos passados (me refiro a Nietzsche que escreveu sua primeira obra aos 24 anos). A contemplação do homem em alto mar, sentindo na pele sua embarcação sendo surrada pelas ondas, pelo vento, pela tempestade, pela noite, há alguns anos tem sido o meu lar... Os tesouros e as cicatrizes da aventura, até mesmo a morte que paira no ar, o sufocar-se, isso tudo é o sinal do grito desesperado e humano que trago na córnea dos olhos da alma e no coração. Uma tremedeira e um suor gelado frente ao perigo, eis os meus deuses! Quando meu radar-corpo alerta que isso me escapa (ou que outros relutam em me tirar), prontamente arranco minha espada trincada de pelejas e a empunho sobre minha cabeça. Há brandir a espada com toda força sinto não só o punho, mas o corpo inteiro que enrijece. Com o passar dos anos pouco me importa se me acusam de arrogância, de agir de forma ridícula, animalesca, vil, obscura ou sanguinária! Sou realmente capaz de por a correr amigos e quem dirá inimigos! Tenho palavras que esmigalham rochas, arrancam árvores gigantescas, esfarelam muros, decepam pernas, braços e cabeça de monstros. Vivo acuado como uma pantera e ganho palmo a palmo a floresta. Também sei dar festas dionisíacas aos amigos, recebê-los com vinho, música e dança! Recito um poema como um lobo uiva para a lua, acaricio pernas com o corpo todo, semelhante a um gato sonolento e roliço. Apartar-me da filosofia é ação inútil, desperdício de força! Jogá-la na lama e um convite para um duelo, é oferecer-me a lança, polir minhas garras e presas, despertar minhas feras! Ao pedir para eu içar as velas de meu navio tenham a dignidade de deixar-me atravessar o mar, do contrário, deixem-me na integridade de minha loucura – é para poucos! Saibam desde ontem, é para muito poucos!

r.A.

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