domingo, 1 de dezembro de 2013

Encontro de um introspectivo sem fé na gramática



......Até agora a mística para mim não passou de uma grande frescura. Sinto muito, mas de saída contradigo o título! Nem as coisas me parecem correspondentes à topologia “dentro” e “fora”, nem acredito que a voz interior seja possível fora do delírio na gramática. Delirar na gramática me parece próprio de poetas – e o que tenho a ver com os poetas? Eles que chorem suas pitangas! Ainda na subjetividade aguda, quando raspo o limo que a envolve, vejo argumentos! Seriam meus olhos “viciados”? O verdadeiro monólogo, quem sabe, não seria o silêncio dentro de um caixão? – O falso no monólogo não seria o que o verborrágico questiona nas próprias palavras? E o diálogo final, quê me diz dele? Os vermes e suas intensas carícias nos defuntos.
......Signos sobrevoam a carcaça e estímulos revoltam os nervos – enquanto podem. É triste observar o animal doméstico... ele nos lembra nós: dando piruetas para ganhar um pouco de comida ou um afago na cabeça. Fora isso tudo, nós falamos de amor.
......Poucos resistem em manter a falta de sentido intacta! Operários constantes da semântica, ou inventamos nossos próprios significados ou pegamos emprestado. Entre a lembrança e a memória, a hereditariedade da identidade que jura para nós que não somos uma pedra. Você acredita nisso?
......Mas vou lhe dizer o que importa! Importa não pensar e seguir o melhor roteiro para salvar o mundo. Aquilo que se entende por “seguir”, aquilo que se entende por “roteiro”, aquilo que se entende por “salvar” e aquilo que se entende por “mundo”. Depois, no restante dos domingos de sua quase solidão, você coloca um entretenimento qualquer no lugar do tédio (em termos econômicos, o tédio sempre cobra um alto preço...). É importante você seguir uma carreira e ter bastante ambição. Também é importante ter um pouco de lucidez política – um pouco, não muita... numa caminhada até a esquina você vai encontrar uma seita quase praticável e um Deus quase perfeito. Essas são minhas dicas, hoje. O que você está fazendo que não está anotando? Pois é. É chato lidar com gente que não anota – e depois reclama!
......No fim das contas a vida é boa e o importante é ser feliz (veja pelo lado bom do suicídio...). Entre uma coisa e outra, se desenrola o drama – como se fosse um tapete vermelho. No final as coisas dão certo, você dorme e segue dormindo. Quem sabe na beira do lago Tarkana, com uma pedra na mão, assistindo o pôr do sol. Aposto uma caixa de cerveja que Caronte não existe! – isso não quer dizer que ele não persiste.

Para os céticos, a cerveja existe.





r.A.

(para o amigo Camposanto)