......Maria
Rilke, aquele poeta chato, quando um jovem lhe pediu “dicas” sobre escrita,
respondeu o seguinte:_ basta sentir que seria possível viver sem escrever para
não ter o direito de fazê-lo! (Cartas a jovem poeta). Lembro disso porque
simplesmente não deveria estar escrevendo – agora -, mas estou. Comecei
mentindo para mim mesmo que este blog “deveria” ser movimentado... Depois,
pensei que faço isso por respeito aos leitores desse blog... E quando dei por
mim, já tinha aberto uma cerveja... Acho que já devo ter dito em algum lugar
que escrevo por obsessão (nunca por incentivo! Já que a maioria sonha com o dia
em que eu sofra um acidente com uma motosserra e decepe as mãos!). Fora tudo
isso, é ultrajante alguém se atrever a escrever depois de ler Lima Barreto.
Podemos concluir esse primeiro parágrafo afirmando que: 1- escrevo por
obsessão; 2- escrevo para decepcionar as expectativas do grande público
(risos); e 3 – sou atrevido e ultrajante. Detalhe: Tudo isso depõem contra mim
e de forma alguma é um elogio. Eu só não me mato porque não estou afim de
antecipar o carnaval.
......Antes
mesmo do contato com a Filosofia, sempre tive uma desconfiança em relação a
qualquer entusiasmo humano. Quero dizer, sempre que vejo um grupo, um coletivo,
um amontoado, uma turba, uma “galera”, animada com algo, começo a pensar que
abismo esse “algo” oculta logo abaixo de si. Isto é, quê buraco, quê “falta de
sentido”, a multidão está escondendo embaixo do tapete? Você não se pergunta
essas coisas? – Sei que não! Depois, bem mais tarde, depois do contato com a
Filosofia, eu descobri que “toda opinião é um esconderijo”. Então, talvez, esta
minha opinião é que seja meu esconderijo! Do que me defenderia? Do grupo, do
coletivo, do amontado, da turba, da galera animada – certamente!
......Aprendi
lá com uns alemães ‘Modernos’ que ser um “indivíduo” é muito mais uma
“inatualidade” do que um equívoco de concepção! Embora todo discurso “contra o
mal e o capitalismo” fizesse por anos a fio me sentir meramente um descontente
(risos). Hoje eu sei que se fosse meramente um descontente haveria ‘remédio’
para mim! – Me filiaria a um partido, ou Religião, ou Sindicato, ou Ong, ou
Coletivo bem intencionado, ou Grupo que jura salvar o mundo e os animaizinhos
sem lar, ou simplesmente tomaria uma injeção de paroxetina! Quem disse que
resisti? (risos).
......A
diferença entre quando era um adolescente atormentado e agora que me tornei um
adulto debochado, é que finalmente descobri que meu lugar é exatamente esse
aqui! Não exatamente o vagabundo baudelairiano, mas com uma preguiça imensa
para com ocupar um lugar na bendita “Sociedade”. Isso mesmo, preguiça. Só de
pensar em fazer uma defesa de cargo, dizer que não sou “qualquer tijolo no
muro”, já começo a sentir sonolência! – Deve ser por isso que Pink Floyd não me
encanta mais! Sou um aposentado da crítica e um entusiasta do deboche. Confesso
que me assustei dia desses pensando sobre isso. Perguntei: Será que sou um
cético? Quero dizer, será que agora suspendo todos os juízos, não acredito, mas
investigo? Felizmente, ser um cético se revelou para mim um imenso trabalho –
por isso fiz a finta e driblei o ceticismo! (Acredito em uma porção de coisas e
muitas delas envolvem cerveja e vodca...).
......Ter consciência da tragédia que é a vida
faz a gente desconfiar de todos os roteiros. Abraçar causas é um pouco ‘fácil
demais’! Não digo isso no sentido de que não vale a pena “lutar” (essa
palavrinha “lutar” tá meio clichê e molenga ultimamente...) pelas causas –
claro que valem, se você acredita! Digo que é fácil demais, escorando-se nas
benditas causas, definir quem você é (ou está sendo...). Ficou mais hipócrita
ainda – atualmente – quando ninguém mais quer pensar que é o ‘vilãozinho’ da
história toda! Tive uma experiência interessante em relação a isso, nessas
férias. Quando quis fazer algumas pessoas – só para mexer com seus cérebros...-
pensar que são “massa de manobra” na maior parte do tempo, obtive como resposta
os discursos mais moralistas do mundo! (risos). Percebi que é ridículo ninguém
querer pensar em si mesmo como um sujeito ridículo! (Imagine o constrangimento
do povo Alemão no final da Segunda Guerra Mundial!). Só posso achar “incrível”
– lembre-se que essa palavra tem um sentido etimológico...- que nenhum
economista ‘sério’ ainda não tenha pensado no fator ‘Vergonha’ enquanto
composição da economia (Oikonomos)– pelo menos a psicanálise e a filosofia,
antes dela, pensaram nisso!
......Talvez,
se você leu até aqui, deva estar pensando que estou escrevendo essas coisas por
causa das manifestações que vem ocorrendo em uma grande parte do Brasil – e
algumas partes do mundo. Se esse for o caso, sinto desapontá-lo, mas ainda nem
terminei de pensar com cuidado sobre as tais manifestações! – Embora tenha muita
gente por aí a fora vomitando pontos de vistas! Mas se serve de indicador sobre
mim, revelo que sou favorável a maioria das manifestações (e participei de
algumas delas!) – e não me sinto mais ‘O cara’ por isso! Em uma época de
política “Maquiavelista” (vale mais o “manter-se no poder de negociar” do que a
ética), é quase impossível sua manifestação não se tornar uma plataforma de
campanha ou engrenagem para ataques partidaristas! Nota: Falarei sobre isso em
outro texto.
......Cá
do meu canto, esse lugarzinho não tão confortável quando alguns pensam, tenho
estado demasiadamente exposto e por isso não dá para acreditar que minhas
opiniões são esconderijos! Até pensei em me ocultar por trás de discursos
políticos, utopias, ladainhas educacionais (a lá, pós graduação à distância em
pedagogia...) e discursos do “amor & terno” para com a sociedade, mas ser
um Homem me impediu desse fiasco e máscara! O preço que pagarei por isso,
provavelmente, não será baixo. E esse texto não desagradará a todos – imagino –
e certamente este será o risco maior de não conseguir parar de escrever.
Um comentário:
Ótima reflexão. Me identifiquei com muita coisa, também sofro desse ceticismo com relação à unanimidades (principalmente a parte do Pink Floyd).
Só por favor, pare com esse cacoete de iniciar as frases com reticências; isso sempre me lembra daquela criatura escrota que finaliza os textos com "En-fim"... hauhauhauhauhuahua
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