segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Nem r.A. desagradou todo mundo - mas quase!



......Maria Rilke, aquele poeta chato, quando um jovem lhe pediu “dicas” sobre escrita, respondeu o seguinte:_ basta sentir que seria possível viver sem escrever para não ter o direito de fazê-lo! (Cartas a jovem poeta). Lembro disso porque simplesmente não deveria estar escrevendo – agora -, mas estou. Comecei mentindo para mim mesmo que este blog “deveria” ser movimentado... Depois, pensei que faço isso por respeito aos leitores desse blog... E quando dei por mim, já tinha aberto uma cerveja... Acho que já devo ter dito em algum lugar que escrevo por obsessão (nunca por incentivo! Já que a maioria sonha com o dia em que eu sofra um acidente com uma motosserra e decepe as mãos!). Fora tudo isso, é ultrajante alguém se atrever a escrever depois de ler Lima Barreto. Podemos concluir esse primeiro parágrafo afirmando que: 1- escrevo por obsessão; 2- escrevo para decepcionar as expectativas do grande público (risos); e 3 – sou atrevido e ultrajante. Detalhe: Tudo isso depõem contra mim e de forma alguma é um elogio. Eu só não me mato porque não estou afim de antecipar o carnaval.
......Antes mesmo do contato com a Filosofia, sempre tive uma desconfiança em relação a qualquer entusiasmo humano. Quero dizer, sempre que vejo um grupo, um coletivo, um amontoado, uma turba, uma “galera”, animada com algo, começo a pensar que abismo esse “algo” oculta logo abaixo de si. Isto é, quê buraco, quê “falta de sentido”, a multidão está escondendo embaixo do tapete? Você não se pergunta essas coisas? – Sei que não! Depois, bem mais tarde, depois do contato com a Filosofia, eu descobri que “toda opinião é um esconderijo”. Então, talvez, esta minha opinião é que seja meu esconderijo! Do que me defenderia? Do grupo, do coletivo, do amontado, da turba, da galera animada – certamente!
......Aprendi lá com uns alemães ‘Modernos’ que ser um “indivíduo” é muito mais uma “inatualidade” do que um equívoco de concepção! Embora todo discurso “contra o mal e o capitalismo” fizesse por anos a fio me sentir meramente um descontente (risos). Hoje eu sei que se fosse meramente um descontente haveria ‘remédio’ para mim! – Me filiaria a um partido, ou Religião, ou Sindicato, ou Ong, ou Coletivo bem intencionado, ou Grupo que jura salvar o mundo e os animaizinhos sem lar, ou simplesmente tomaria uma injeção de paroxetina! Quem disse que resisti? (risos).
......A diferença entre quando era um adolescente atormentado e agora que me tornei um adulto debochado, é que finalmente descobri que meu lugar é exatamente esse aqui! Não exatamente o vagabundo baudelairiano, mas com uma preguiça imensa para com ocupar um lugar na bendita “Sociedade”. Isso mesmo, preguiça. Só de pensar em fazer uma defesa de cargo, dizer que não sou “qualquer tijolo no muro”, já começo a sentir sonolência! – Deve ser por isso que Pink Floyd não me encanta mais! Sou um aposentado da crítica e um entusiasta do deboche. Confesso que me assustei dia desses pensando sobre isso. Perguntei: Será que sou um cético? Quero dizer, será que agora suspendo todos os juízos, não acredito, mas investigo? Felizmente, ser um cético se revelou para mim um imenso trabalho – por isso fiz a finta e driblei o ceticismo! (Acredito em uma porção de coisas e muitas delas envolvem cerveja e vodca...).
 ......Ter consciência da tragédia que é a vida faz a gente desconfiar de todos os roteiros. Abraçar causas é um pouco ‘fácil demais’! Não digo isso no sentido de que não vale a pena “lutar” (essa palavrinha “lutar” tá meio clichê e molenga ultimamente...) pelas causas – claro que valem, se você acredita! Digo que é fácil demais, escorando-se nas benditas causas, definir quem você é (ou está sendo...). Ficou mais hipócrita ainda – atualmente – quando ninguém mais quer pensar que é o ‘vilãozinho’ da história toda! Tive uma experiência interessante em relação a isso, nessas férias. Quando quis fazer algumas pessoas – só para mexer com seus cérebros...- pensar que são “massa de manobra” na maior parte do tempo, obtive como resposta os discursos mais moralistas do mundo! (risos). Percebi que é ridículo ninguém querer pensar em si mesmo como um sujeito ridículo! (Imagine o constrangimento do povo Alemão no final da Segunda Guerra Mundial!). Só posso achar “incrível” – lembre-se que essa palavra tem um sentido etimológico...- que nenhum economista ‘sério’ ainda não tenha pensado no fator ‘Vergonha’ enquanto composição da economia (Oikonomos)– pelo menos a psicanálise e a filosofia, antes dela, pensaram nisso!
......Talvez, se você leu até aqui, deva estar pensando que estou escrevendo essas coisas por causa das manifestações que vem ocorrendo em uma grande parte do Brasil – e algumas partes do mundo. Se esse for o caso, sinto desapontá-lo, mas ainda nem terminei de pensar com cuidado sobre as tais manifestações! – Embora tenha muita gente por aí a fora vomitando pontos de vistas! Mas se serve de indicador sobre mim, revelo que sou favorável a maioria das manifestações (e participei de algumas delas!) – e não me sinto mais ‘O cara’ por isso! Em uma época de política “Maquiavelista” (vale mais o “manter-se no poder de negociar” do que a ética), é quase impossível sua manifestação não se tornar uma plataforma de campanha ou engrenagem para ataques partidaristas! Nota: Falarei sobre isso em outro texto.
......Cá do meu canto, esse lugarzinho não tão confortável quando alguns pensam, tenho estado demasiadamente exposto e por isso não dá para acreditar que minhas opiniões são esconderijos! Até pensei em me ocultar por trás de discursos políticos, utopias, ladainhas educacionais (a lá, pós graduação à distância em pedagogia...) e discursos do “amor & terno” para com a sociedade, mas ser um Homem me impediu desse fiasco e máscara! O preço que pagarei por isso, provavelmente, não será baixo. E esse texto não desagradará a todos – imagino – e certamente este será o risco maior de não conseguir parar de escrever.


r.A.

Um comentário:

André Pinheiro disse...

Ótima reflexão. Me identifiquei com muita coisa, também sofro desse ceticismo com relação à unanimidades (principalmente a parte do Pink Floyd).
Só por favor, pare com esse cacoete de iniciar as frases com reticências; isso sempre me lembra daquela criatura escrota que finaliza os textos com "En-fim"... hauhauhauhauhuahua