sábado, 17 de agosto de 2013

A paixão é uma questão de... CALE A BOCA!



......As mulheres são difíceis! Se você disser o que pensa a queima roupa, elas só vão entender comparando com o que elas pensam sobre o assunto. Se você disser o contrário do que sente, julgando que dessa forma estará de acordo com o que elas pensam , elas discordam de si mesmas com o único objetivo de te afrontar! Por outro lado, se você não disser nada, elas partem para outro – afinal, elas não curtem esses tipos “caladões”. Se você falar demais, elas partem para outro porque você falou demais. Por fim, se você ficar confuso com elas e ir parar num sanatório, elas mandam uma carta dizendo que sentem muito – e uma foto com o atual namorado que ocupou seu lugar, já que você está no sanatório. Se você gosta de mulheres, vai descobrir que com elas você só acerta quando tem certeza que está tudo errado. Abri minha correspondência essa manhã e lá estava uma carta de Gabriela contando que o problema era com ela, não comigo! Finalmente concordei com ela e voltei para a cama para aproveitar uma linda manhã de sexta-feira, recheada de ressentimento.
......O lado positivo de enlouquecer sozinho porque uma mulher partiu seu coração é não ter que se abrir com ninguém, tão pouco receber conselhos de amigos que dizem que isso tudo é normal. O lado negativo é que gostava dela e, por incrível que pareça, achava que as coisas estavam indo muito bem – obrigado! – uma vez que estava me sentindo feliz. Claro que passou pela minha cabeça que estava sendo egoísta já fazia um bom tempo! – Mas ela escreveu que o problema era com ela, não comigo... Você acredita nisso? Eu prefiro acreditar. E pensar que quase fiz uma tatuagem com o nome dela... aquela vaca problemática! A psicologia não explica, mas a zoologia explica o motivo da natureza não permitir vacas e burros de formarem um par.
......300 horas se passaram na minha percepção, mas o relógio denunciou que nem estávamos próximos ao meio-dia. Quando a gente não se diverte o tempo conspira contra nós! Um ano e meio e parecia que conheci Gabriela ontem. Lembro que ela dizia que eu não dava ouvidos à suas necessidades – e dizia mais algumas coisas que não lembro direito. De qualquer forma a vida deveria seguir seu curso e aqui no sanatório estava faltando comida. De qualquer forma o mercado não muda de lugar mesmo que o mundo congele e parta aos pedaços diante de nossos olhos...Escovei os dentes, joguei água fria no meu rosto balofo e sofrido. Saí.
......Por dentro, sentia que estava acontecendo uma hemorragia grave. Quando a balconista do mercado – Ângela – disse “bom dia Adriano”, quase não consegui responder: o sangue já estava na minha garganta e me sufocava.  Devolvi um tímido “olá” e tive a sensação que uma bolha de sangue se formou no meu nariz. Andei duas vezes em cada corredor e acenei com a cabeça duas vezes para o açougueiro. Vi o meu reflexo no vidro da geladeira de cervejas – estava com a camisa do avesso! Mas a culpa não era minha, ainda semana passada estava feliz e sabia vestir uma camisa! Pelo menos a cerveja estava em promoção – sempre esta, por isso o preço é sempre o mesmo.
_Puxa cara, você está uma merda! – Resmungou o açougueiro quando passei pela sétima vez na sua frente.
......Suspirei e olhei aquele avental com respingos de sangue já em tom de rosa. Ria. Dei a única resposta que veio a minha mente.
_Pelo menos não sou um açougueiro!
...Continuou rindo. “Você é bom nos diálogos!”. Retrucou. “É que minha vida não se resume a ser gentil para vender carne” – Repliquei. “É que eu sou casado, sabe? Minha mulher não me abandonou porque sou um escritor falido”. – Achei boa a resposta dele e fiz uma anotação mental para usar em um conto mais tarde.
_...Não seria rude com um sujeito que bota um sorriso na face de sua mulher enquanto você está trabalhando! – disse.
_Você nem sabe onde eu moro! – sentenciou ele.
_...prefiro que você morra acreditando nisso, amigo!
......Uma veia apareceu na sua careca branca. Percebi que era a hora de correr. Nunca se sabe o que alguém com uma faca afiada na mão é capaz de fazer. Não que eu seja covarde, mas vivo de pequenas vitórias em pequenas lutas mesquinhas. – Aprendi essa com o Zorro. Infelizmente só consegui aprender isso...
......Voltei para o sanatório. É quase como estar em casa! Corrigindo: É com estar em casa. Sabia que Gabriela não estava lá, mas mesmo assim gritei:_ Gabriela, voltei! Não, ela não morava comigo. Gritei para o fantasma, afinal, o fantasma dela não iria embora tão logo. Melhor se acostumar. Chega uma hora na vida de um homem em que ele deve deixar a loucura aflorar! – quem é casado sabe do que estou falando. Deixar a loucura aflorar é quase um remédio, com o detalhe de que o remédio tende a curar: por isso o “quase”.
......Seus cabelos cacheados eram perfeitos, mas ela vivia reclamando deles. Suas unhas, bem cuidadas, acho que eram perfeitas – nunca foi de ficar prestando atenção em unhas! Seu sorriso, sua boca, seus olhos, suas pernas, a bunda, os seios, a força de vontade e a esperança e a perseverança – de estar comigo, quero dizer -, tudo era perfeito e ela vivia reclamando de tudo! Gabriela, cheiro e cor de café, até suas reclamações agora estavam tão nitidamente ausentes... vai ver eu era perfeito também – por isso ela vivia reclamando de mim! Por que as mulheres nunca reconhecem nosso esforço antes de fechar a porta quando saem? Eu bebia ao seu lado, escrevia ao seu lado, até ia no mercado ao seu lado – será que é pedir muito que se leve todas essas dedicações em consideração? Muitas vezes, relutante, deixei que ela lavasse minhas roupas... me sacrifiquei em nome dessa relação – qualquer um percebe! Até quando ela se filiou a um movimento feminista, aceitei desde que ela lavasse a louça! Não consigo entender como esse sonho lindo acabou...
......Depois da vigésima cerveja entendi que a vida deve seguir seu curso. Reli a carta de Gabriela e continuei aceitando tudo que ali ela manifestou – principalmente a parte em que dizia que o problema era com ela, não comigo... Bola pra frente, pensei, não dá para atrapalhar o movimento da vida! Peguei o telefone e disquei timidamente o número de Bety. Atendeu no quinto toque.
_Bety, aqui é o Adriano jr. Preciso de companhia para conversar...
......Uma voz calma e um pouco sonolenta respondeu do outro lado. “São trezentos reais a hora, querido”. Trezentos? – Refleti. Vai ver é à alta do dólar...
_Mas o táxi não vou pagar! – afirmei – As mulheres são difíceis!
_Já está incluso, querido! – sussurrou aquela voz macia.
_...Você é tão gentil...


r.A.


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