segunda-feira, 21 de maio de 2012

A sociedade é um inferno de salvadores!- Cioran

......Não há nada mais terrível do que a solidão forçada! É um empurrão surpresa para o descartável. O horror consiste no fato de precisar aceitar que a festa continua apesar de nós. Tal experiência é como o ferimento que Frodo recebe de uma espada morta, golpe desferido por um espectro (na obra O senhor dos Anéis – J.R.R. Tolkien). Este ferimento volta a doer exatamente como no exato momento em que foi feita a chaga, no aniversário do acontecimento. É como uma pedra de gelo eterno fixado na passagem da matéria para a sensação. Aqui jaz uma lembrança inesquecível da morte em vida. Mas esta situação é contornável, dado que, resta-nos um ano todo para significar a tal experiência.

......Não há nada mais trabalhoso do que a conquista da solidão! É uma esquiva feroz no momento do abatimento. É preciso um intelecto dissecador da condição social intrínseca a qual tudo nos coage. Porém, aprender a dissecar é um entendimento que foge do controle e por isso Cioran (filósofo [?] romeno) avisou que uma desilusão contamina todas as outras ilusões como se fosse um vírus intratável. O trabalho da conquista da solidão anda de beijos e carícias com a constatação de que toda crença é absurda!

......A linha entre a solidão forçada e a solidão conquistada parece ser riscada por todos os tipos de doenças. Toda degeneração fisiológica, experiência vivida e intensificada pela dor, é rapidamente encarada como fatalismo – não esquecendo do vício, claro. Aí a palavra “fracasso” esvazia-se de toda conotação negativa ou positiva; passa a ser apenas um “então era isso...”. Por isso Sade acreditava nos preparar para a dor pela técnica da antecipação – “dor, humilhação? Eu já sabia”. - ou não! E quem vai aprender a gozar com isso?

......A ilusão da cultura é amenizar nossa experiência da solidão pela repetição coletiva. Todo consenso de comunicação tinha por intensão revelar nossa singularidade e não um desejo de sincronia. Todo acordo é selado pelo tédio. Hoje pagamos muito caro por tantos selos em cartas extraviadas, sem destinatário.

......Dos dois tipos de solidão, do abatimento fisiológico e da ilusão da cultura (de uma concepção de cultura, melhor dito), passo para a política. Um cara diz apontando para mim – na avenida paulista-: “se não protesta com a gente, é um resignado”. Respondo: “se protesto com vocês, também. Seus líderes são plataformas de campanha. Ou você é tão ingênuo assim?”. O sujeito ficou parado no meio da multidão pensando nas coisas que falei. E eu tomei o meu rumo (também pensando nas coisas que ele me disse). Cá entre nós, leitores, eu não recebo lição de política de gente que saí para a rua para escapar do tédio e da solidão- eles que primeiro se resolvam. Só aprecio pessoas que possuem bons motivos para poluir o silêncio. É mais fácil derrubar um governo do que mendigar um peixe para o almoço- então alguém está protestando pelos motivos errados...

r.A.

obs: e se você se vangloria de combater a corrupção, que tal começar pregando com o exemplo? E se você separa as pessoas entre os "favoráveis" e os "contras" dos seus ideais, você não está ficando fanático?

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