domingo, 26 de dezembro de 2010

A situação do Rock em Chapecó (Parte II)


(Obra de Goya)
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1-“Eis a grande diferença entre mera contestação e arte de contestação. Não é qualquer panfleto de protesto, qualquer bandeira desfraldada, que vai se tornar uma obra de arte – ainda que as motivações sejam válidas em si e baseadas nas melhores razões do mundo. [...] Somente é questão do fazer artístico, de criar formas expressivas. Mas Certamente é preciso ser um grande, grandíssimo artista”.

Fayga Ostrower – A grandeza humana: Cinco séculos, Cinco gênios da arte.

2-“Se eles não o são, se eles não TREMEM diante desse destino terrível que nos abate com o condicionamento estético que reina hoje, se eles não são perturbados, se eles não transformam isso em força como François Bousquet, que faz de sua ferida sua quase causa, isto é, o princípio mesmo de sua poesia, eles não tem mais nada a dizer”.

Bernard Stiegler (Falando sobre os artistas que não se afetam pela condição do público) – Reflexões (não) contemporâneas.

3- “A defesa da vida tornou-se um lugar-comum. Todos a invocam, desde os que se ocupam de manipulação genética até os que empreendem guerras planetárias.”

Peter Pál Pelbart (No prólogo de) Vida Capital: Ensaios de Biopolítica.

4- “A vida não existe, ela tem de ser inventada. É por meio das formas que criamos como imagem ou como palavra que o olhar adquire a luz que lhe permite ver. A experiência produz desequilíbrios, interrogações, dúvidas, surpreendendo a quietude repetitiva do mundo.”

Edson Luiz André de Sousa, Elida Tessler, Abrão Slavutzky (organizadores do livro) : A invenção da vida – Arte e Psicanálise.

5- “o que uma criança de nove anos pode escrever eu não sei... Poderia me surpreender, ou não... O simples fato de eu não saber se me surpreenderia ou não já supera o nosso amigo tocador de LED ZEPPELIN.”

r.A.- o cego- Situação do Rock em Chapecó (Parte I).

6- “Não existem Verdades, apenas interpretações.”

Nietzsche...

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..... Trezentos e sessenta e seis passos separam a sala de onde escrevo de uma lojinha de conveniência em um posto de gasolina. Ir até lá, para mim, tem um significado que gostaria de compartilhar com vocês – e que é bem mais importante do que uma pesquisa ou do que um diploma, neste momento. Se falo em primeira pessoa e de meus sentimentos mais profundos é que dor não respeita cronologias históricas! A dor, que vocês podem sentir dentro de uma sala de aula ou na notícia do falecimento de um ente querido, ou ainda, no pisar em um prego, ignora o decorar de cabo a rabo o que acontecia entre os anos 50 e 60 nos Estados Unidos. Por isso falamos em “situação” e não em “contextualização” e muito menos em saber a cor da cueca do primeiro roqueiro que subiu no palco de Chapecó. Falo do que vejo (e sou cego- hehehe) pelo motivo de que registro “no caderno do meu coração” imagens de dor. Minha manobra consiste em dar socos em mandamentos esculpidos na rocha (ou esmigalho a rocha, ou esmigalho as mãos). Dizer tudo que quero para aqueles que querem me convencer de que não posso dizer. Mesmo os que deitam na sombra de uma erudição que se convencem possuir, terão que vir aqui, para meu deserto vermelho – fora do abrigo da impessoalidade- conhecer a areia que torra os pés descalços. Que gritem e urrem, é um detalhe... Ir até uma lojinha de conveniência em um posto de gasolina, poderia significar apenas que o cigarro acabou. Para mim e meu pensar/sentir, é o começo de outro texto: da tarefa de apresentar para os leitores do blog como arranco da dor uma manobra.
..... Comecei o presente texto com algumas citações de diferentes autores que provém de diferentes tradições de pensamento (e de contextos distintos- mas o importante é a situação). Porém, não faço isso para exibir erudição (não há nada de especial em fazer isso, basta ler alguns livros) e nem faço isso para justificar meu pensamento. Faço isso em “parceria” de pensamento com os citados autores. Creio que andamos juntos em algumas noites chuvosas – embalados no café e nas angústias. Será preciso que vocês estejam a par do exercício que estou realizando neste texto, sendo assim, prestem bastante atenção nisso: Este texto não vai falar necessariamente de ROCK, ele vai falar de ARTE (mas as relações não serão difíceis, pois rock é um gênero musical e música é arte- e não, não vou atropelar tudo isso...)! Vou fazer isso para discutirmos o gênero Rock em um patamar mais elevado do que o simples contextualizar historicamente o Rock e etc... Método este que ignoro pelo motivo de já ter feito desta forma e observado que não se arranca muita coisa do problema fazendo isso. Este movimento que estarei fazendo neste texto será correspondente a terceira parte do tema “Situação do Rock em Chapecó”- isso significa que o texto continua. Aviso que este texto não será fácil de acompanhar (digo isso por saber que esses pensamentos cobraram bastante de mim), mas como dizia Jacqués Lacan (Livro: Televisão) não estou falando com idiotas (consistiria em um “error”)! Por isso, não vejo problema em pensamentos complexos serem apresentados de forma complexa, aliás, meus leitores – apesar de serem poucos- não me decepcionaram até agora (os banais já pularam fora!). Aqui, também se responde alguns comentários feitos ao primeiro texto que pensavam ser só guiado por meros achismos. O mergulho profundo que estamos prestes a fazer, exercício que é próprio de um filósofo, derrubam esta tese do achismo brincando. Dito isso, vamos à luta meus amigos!
.....Em primeiro lugar, deixem-me apresentar esta senhora chamada Fayga Perla Ostrower (1920-2001), Artista plástica que atuou como gravadora, pintora, desenhista, ilustradora, “TEORICA DA ARTE” – daí o motivo de estar citando-a – e professora. O livro qual eu retirei uma citação (que imagino que aqueles que se ocupam em arte nesta cidade devem conhecer) é organização de sua filha e as falas estão situadas em alguns seminários onde ela (Ostrower) falava de Leonardo Da Vinci, Rembrandt, Goya, Cézanne e Picasso. Estes, não eram, obviamente, guitarristas de rock, mas creio que tinham (e tem) bastante para nos falar de arte, por tanto, para guitarristas – não estou falando só de guitarristas, ok?. Caso não conheçamos todos esses ilustres artistas, imagino que não poderemos dizer que eles eram cegos (ou podemos?). Se vocês já se esqueceram da citação que organizei com o número 1, sugiro que retornem e leiam. Feito isso, seguimos. Ostrower, seguia falando precisamente de Goya (1746-1828), artista espanhol. Para os que conhecem a obra de Goya (caso não conheçam, sugiro pesquisar um pouco – não estou aqui para divulgar pesquisas), temos contestações duras em relação ao seu contexto (caso não conheçam, também sugiro pesquisarem- valerá bastante à pena- algum engraçadinho vai dizer: mas você disse não dar bola para pesquisas e agora está sugerindo que pesquisem? Se for esse o caso, estou dizendo para não ficarem limitados a pesquisas de outros e não aceitarem quem quer que seja que queira socar guela abaixo outras pesquisas de caráter duvidoso!) e é na apresentação de suas contestações, na forma como Goya não se limitou em registrar uma “realidade” e interpretar a mesma, que nos deixou um legado na arte que tem muito a nos ensinar- aí a situação-, o gesto do artista. Temos aqui (na citação), nas palavras de Fayga, o que é a questão na arte: “fazer artístico, criar formas expressivas”. Ainda, Fayga nos diz o seguinte: “é difícil saber de onde lhe veio esta força de espírito, Goya ainda ousa sonhar com uma nova Humanidade. As últimas gravuras representam reflexões e dúvidas angustiadas, mas também meio esperançosas sobre os sentidos de viver” (OSTROWER,2003,p.100). Se já me questionaram: rock é só música? Refaço a questão: A arte de Goya é só telas e gravuras? Como repeti várias vezes no texto anterior, algumas pessoas não conseguem mais ver o óbvio! Vejam que no texto anterior também disse de uma ação inútil – cuspir em si mesmo-, e é mais precisamente nisso que me refiro, não a um sistema (como os marxistas nos viciaram a ler essa palavra) referente à sociedade, mas estão cuspindo em outros músicos invés de “fazer artístico, criar formas expressivas”- mas cuspir em outros músicos não é cuspir em nós mesmos,alguém vai dizer. Se você disser isso, já sentiu o gosto de seu próprio escarro! Na forma como me referi – e vocês vão entender no final deste parágrafo-, talvez seja bem pior do que terem cuspido em si mesmos... Que gosto ou não gosto de determinados gêneros de música, determinadas linguagens na arte, é papo para um bar! Que um gênero está investindo em um fiasco é do que trata o texto! Mas voltemos ao Goya, já pensaram Goya em um concurso para artistas? E se outro artista ficasse na frente dele (por mérito ou por que comprou o júri)? Já pensaram ele fazendo campanha contra este outro artista? Que fiasco! Mas sabem, Goya foi grande, preferiu o “fazer artístico”. Por fim, creio que agora isso fez mais sentido para vocês: “Não é qualquer panfleto de protesto, qualquer bandeira desfraldada, que vai se tornar uma obra de arte”. Nisso, me parece mais fácil compreender os motivos que me levaram a sugerir: Parem de ficar se lamentando, vão fazer música!
..... Bernard Stiegler (filósofo) lembra-me uma fala do guitarrista “The Edge” (U2) no documentário “A todo volume” e vou lhes dizer o motivo. The Edge, em um determinado momento do documentário citado, fala sobre alguns de seus motivos de ter se sentido angustiado com a música. Diz que havia nos músicos de seu contexto arrogância para com os expectadores. Indulgência é como ele chama isso – notem que saí do contexto mais uma vez e fui para a situação... Músicos dando as costas para os expectadores e realizando solos de quinze minutos. É neste sentido que aplico a citação que organizei com o número 2. Revelo que se algum comentário dos tantos que li em relação ao meu primeiro texto conseguisse refutar a citação de Stiegler – e isso não chegaram nem perto de fazer-, este texto perderia uma boa parte de seu sentido. Do contrário, apenas recebi ataques pessoais e respondi como ataques pessoais também. Não acho isso de forma alguma grosseiro, penso ser um avanço que as pessoas saiam de seus casulos e se “atraquem”-, é mais verdadeiro do que tentativas de ser impessoal! ... Como se as questões que trago não são de cunho pessoal... Sinto até mesmo um alivio poder sentir o cheiro de raiva em palavras, me mostra que não estou discutindo com fantasmas. Porém o texto ficou esquecido e por isso retomo o mesmo. Vemos que Stiegler nos fala que se o pretenso artista “não treme”, não transforma sua revolta em relação ao evidente “condicionamento estético” que estamos vendo todos os dias (t.v., jornais, música/arte – nos transformando em rebanhos, definindo nossos gostos: Viva o que é bom! Curta Ivete Sangalo, pois ela tem belas coxas, etc...) em sua “ferida quase causa”, ele, o pretenso artista, “não tem mais nada a dizer”. São palavras fortes e de um veredicto ainda mais forte, mas nesta situação do rock em chapecó, penso ser muito pertinentes. Devemos pontuar com todo cuidado o seguinte: “O condicionamento estético” tem de ser essa “ferida quase causa” a ser combatida na proposição do artista. Não um lamento textual. Minha questão retorna (do primeiro texto): Livramos-nos de um condicionamento estético fazendo covers? Sim, é possível! É possível um músico fazer um cover (ou releitura) e atacar esse condicionamento estético (aquilo pelo qual estamos adestrados a nos afetar – sei que essa frase é complicada, mas não irei debater ela agora), mas tenho toda certeza que essa situação qual vivemos precisa é de mais criação do que tributo! Reivindico mais arte, mais criação do que esses ditos tributos. Pelo motivo da primeira citação que fiz de Fayga: “criar formas expressivas”. Mesmo que neguem – como muitos negaram no primeiro texto- há sim um senso “valorativo” hipócrita de agregar mais valor para esses “pagadores de tributo” em relação aos novos artistas que vem surgindo – E me refiro a esta cidade. Não se façam de bobos pessoal! Deem uma olhada no que está planejado para este fim de semana nos espaços... “Tributo ao...”, “Não sei o que lá cover...”, etc... E por isso, outro ponto que muitos ficaram revoltados ao lerem no meu texto anterior, disse que falta mais educação em arte para este público (e me referi aos artistas – confiram no texto, já que algumas pessoas fizeram recortes grotescos ao texto), pois, colocam tudo no “mesmo saco” (ou seja, os que propõem arte e os que imitam os que já proporam- imitam para ganhar dinheiro, imitam por não terem a coragem de colocar a própria cara a tapa, por se esconderem em uma impessoalidade cretina!) e pesam sem possuir balanças. Sinto informá-los, mas vi isso nitidamente expresso nos lugares que se dizem “espaços para os artistas”. Recordo agora de um poema do Bukowski que diz: “E você esperava mesmo encontrar poesia em uma revista de poesia? Não é tão fácil assim”... Se não me engano é mais ou menos isso que diz no poema. Isto é o que está me parecendo nesta cidade. Quase chego a dizer: Querem ver arte? Não vão às exposições! Velho ditado Punk: Do it yourself! Mas aí temos um pactozinho com jornalecos... Oh sim... Falem bem de mim e eu falo bem de vocês! É quase uma colônia hippie, porém os hippies tentavam se livrar de serem recalcados, já estes, estão cada vez mais recalcados... Podemos ver seus recalques nas páginas! Li uma matéria alguns dias atrás, que jurei que a jornalista entrevistou só de calçinha... Nada contra, até seria divertido um pouco de verdade no jornal. A matéria terminaria assim: “E no final, ele me traçou!”
..... A citação de número 3 é de um filósofo qual tive o prazer de receber uma aula. A grande causa nobre que geralmente passa a borracha em cima de toda esculhambação dos pretensos artistas é de salvar o mundo, defender a vida, amar todos e todos são lindos e amém. Apresentei esta citação de Peter Pál Pelbart não para explicá-la, mas apenas acompanhando minha ideia de (ou eu acompanhando a dele – o que é mais apropriado) tomarem mais cuidado com esses “queridinhos da mamãe”. Todos estão em nome de uma sociedade mais justa, de uma vida mais digna, de um céu mais azul. Porém, vejo isso se desenrolar em um: Eu sou o eleito! O messias! Muito mais do que essa dita “boa ação”. E nesta cidade (prova alguns comentários do texto anterior), se você não disser para esses eleitos que eles são O messias do rock... Eles mandam a tua galera xingar você muito no blog”- Hahahaha-, É como aquele videozinho que colocaram no youtube: Vou xingar muito no twiter! E eles tem coragem de falar dos Emos... Todo moralista esconde uma vontade de fazer aquilo que critica meus amigos! Aprendam isso! – aí está outra relação possível com o texto anterior quando cito como exemplo o que me ocorreu ao testemunhar “nobres” psicólogos que queriam salvar uma cidade de uma enchente (Da Clarice Lispector: Havia um morto na grama e as pessoas discutiam a altura da grama...).
..... A citação de número 4 Edson Luiz André de Sousa, Elida Tessler, Abrão Slavutzky, lhes dão de presente! A próxima vez que alguém quiser colocar em questão se o “gesto do artista” é inferior “aos pagadores de tributo”, lembrem-se desta citação. Fazer arte, para mim, é inventar a vida (inclusive)! Caso ainda quiserem insistir, lembrem-se da “criança de nove anos com o violão trincado”, esta imagem me surpreendeu um dia... Poder ser surpreendido, afetado, hoje, sem condicionamentos estéticos (toca guns, toca AC/dc, toca Black sabbath...), vale mais do que vinte reais no sábado em um bar. Experimentem tentar – já que o contrário, vocês (e eu) já fizeram (fizemos).
..... Para John Cage (Estou citando uma obra chamada aisthesis: Estética, educação e comunidades – da autoria de Maria Beatriz de Medeiros, precisamente na página 33), som e silêncio são a mesma coisa. Ambos são sem intenção, estão na natureza, ou são criados pelo ser humano e seus instrumentos e máquinas. Para que um ruído seja música, é necessário que ele seja designado como tal. [...]A música é totalmente destruída quando utilizada como música ambiente em salas de espera, ou quando as insuportáveis musiquetas, por vezes, grandes músicas, nos fazem perder preciosos e longos minutos, quartos de hora, aguardando atendimento em telefones (Fim da citação – emendo com meu pensamento), e quando a música vira apenas entretenimento para bêbados em bares? (Antes que me chamem de moralista – e sou moralista sim para algumas coisas-, creio que ir em qualquer exposição de arte é para ir ver/ouvir arte e só pode ser “falta de educação” [ e não me refiro a uma educação elitista – embora também ache que falta um pouco disso e nem tudo é coisa de burguês como os marxistas nos viciaram pensar] transformar a música em pano de fundo para encher a cara).Quando há um círculo de amicíssimos que tentam obrigar este cenário a girar em torno deles e os desavisados babam e pensam: É isso mesmo! É assim que é! É com toda certeza que alguém que tenta avisar sobre isso precisa passar por um violento e turbulento mar de gritos de desacato! E tem de ter coragem para desacatar duramente também, pois já basta essas medíocres poses de bons moços (as)! Estamos em meio a uma moralzinha de bebezinhos dengosos. AZAR! Sendo dengoso eu nem se quer teria comprado minha primeira guitarra, escrito meu primeiro artigo em filosofia, gravado minha primeira canção! Sem dengo estou escrevendo, e pretendo continuar escrevendo assim.
..... Por fim, a citação de número 6, fica para mim e para vocês! É nela que me inspiro para escrever. Por tanto, nunca deixem ninguém dizer para vocês qual que é a verdade. Pensem sobre o texto!

r.A.- Ainda sentindo dor pelas coisas que tenho visto e chamam de rock.

PS. Dedico este texto a todas as bandas novas que estão surgindo nesta cidade!

PPS. Um dia vi em algum lugar da internet uma frase de Clarice Lispector que me chamou a atenção: “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca”. Provável que eu não tenha saco para ler um livro dela (já tentei), mas nem por isso desmereço a frase. Sugiro-a aos próximos que comentarem neste texto!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A situação do Rock em Chapecó (Parte I)


.....Entre trabalhos e momentos de descanso, hoje parei para olhar alguns blogs e o que me chamou atenção foram escritos e textos sobre música, mais precisamente, sobre a música nesta cidade. Notei que há um grande descontentamento inútil da parte de muitos músicos de rock, eles se resumem em cuspir no sistema o qual fazem parte, creio que vou proferir uma tautologia bem sabida agora, mas se você cospe em algo do qual faz parte: você cospe em si mesmo! Sendo assim, senti que sobre esse assunto que muito me interessa, deveria pronunciar minha posição – e aí o presente texto. Como de costume, vão precisar de força para ler e não vou subjugá-los.
.....Não é preciso ser muito rápido no raciocínio para perceber que há duas posições extremamente banais quando se discute música ou arte (música é arte, ok?) nesta cidade -e me refiro aos bastidores. Há um grupo que propõe algo e há um grupo que vive de imitar os que já fizeram suas proposições. Pessoalmente, creio fazer parte de um grupo que propõe, pois o que fazemos (Sodoma H.) NINGUÉM FAZ NESTA CIDADE E NEM NESTA REGIÃO, MUITO MENOS NO MUNDO, sendo assim, é deste lugar que eu falo. Toda criação se tratando de arte é singular. Vejam bem, quando falo singular é que não há como ser substituída. Nisso, já constatamos o seguinte: Quem imita, só imita. Bastante óbvio, não é? Temos uma diferença entre os que querem propor algo na arte e os que querem se aparecer! Porém, me parece, que algumas pessoas ainda insistem em ignorar isto que é bastante óbvio! Vou usar um exemplo para ficar mais claro. Uma noite eu estava sentado em um bar e vi um grupo de acadêmicos da psicologia se organizando para ir servirem de voluntários em uma cidade vitimada por uma enchente. Quando eu ri destes, alguns deles disseram: Você deveria, invés de rir de nós, nos apoiar. Ao que, eu proferi imediatamente minha sentença: Se querem ajudar alguém, saiam do bar e olhem do outro lado da rua. Tem mendigos lá, passando frio. Vocês não precisam ir tão longe para fazer uma boa ação – ao menos que querem mesmo é aparecer. Fazer uma boa ação é diferente de querer ser visto fazendo uma. Ou seja, uma coisa é mostrar-se solidário, outra coisa é querer aparecer sendo solidário. Na segunda possibilidade, vemos que querer aparecer é mais importante! Outra coisa óbvia é que eles me odiaram por ter dito isso, me chamaram de hipócrita, mas comigo mesmo, nesta noite, eu soube quem era realmente hipócrita – e isso já é o bastante para mim. Pois bem, agora chegamos a uma compreensão óbvia de princípios. Aplico agora uma questão análoga em relação à música.

........................O QUE QUEREM REALMENTE VOCÊS COM A MÚSICA?.............

.....Esta questão é, com toda certeza, a mais importante e que elimina todas as possíveis complicações. É óbvio que todo músico quer tocar, não é mesmo? (dããã...), mas se ele quer tocar, ele tem de ter alguma coisa para mostrar – não é mesmo? Mas agora, e se o que o músico quer provar é que toca uma música do LED ZEPPELIN, não seria muitíssimas vezes melhor nós ouvirmos um disco do LED ZEPPELIN do que ficar vendo um cara querendo provar para nós que sabe tocar LED ZEPPELIN? Até por que, se me acompanharam até agora, já sabem que toda a arte é singular: Por tanto, nem que o músico seja melhor tecnicamente em relação ao Jimmy Page, conseguirá ser o Jimmy Page, e isso também respeita um critério bastante óbvio: ele teria que ter nascido sendo o Jimmy Page e ele não nasceu! Teria que ter passado pelas mesmas experiências que Jimmy Page passou na vida, e isso é impossível, não é mesmo? Ele teria que ter não somente a mesma constituição biológica, como ter as mesmas ideias e sentimentos que Jimmy Page tem ao pegar uma guitarra- E ele não conseguirá. Vamos lá então meus amigos: NÃO LHES PARECE BASTANTE DÉBIL ALGUÉM QUERER SER O JIMMY PAGE? NÃO LHES PARECE BASTANTE IDIOTA ALGUÉM ACHAR QUE É GRANDE COISA ALGUÉM QUE IMITA O JIMMY PAGE? Mas vejam como anda o nível da música em Chapecó: Ainda há pessoas capazes de não pensar no óbvio! E por isso, ainda se mobilizam quando aparece uma banda que diz fazer um tributo ao LED ZEPPELIN. Outra coisa bastante óbvia é que qualquer criança de nove anos que escreve uma canção com um violão trincado é mais interessante do que um cara que toca LED ZEPPELIN, até por que, LED ZEPPELIN eu já conheço e o que uma criança de nove anos pode escrever eu não sei... Poderia me surpreender, ou não... O simples fato de eu não saber se me surpreenderia ou não já supera o nosso amigo tocador de LED ZEPPELIN. O máximo que alguém que se propõe a tocar led Zeppelin pode fazer é tocar led Zeppelin – Bastante óbvio ainda, não?
..... Há em Chapecó um grande desrespeito com o público, pessoas que parecem achar que o público é IDIOTA – e é claro que há bastante pessoas que se configuram em um publico que vai ver alguém imitar o LED ZEPPELIN que definitivamente são LEGITIMOS IDIOTAS, mas não podemos generalizar...-e me refiro precisamente às casas e bares onde se trazem bandas para tocar – mais certo ainda é que eles (casas e bares) querem dinheiro e não a arte!. Mas ficar falando sobre isso não vai melhorar em nada e eu poderia escrever milhares de laudas sobre o assunto sem mudar nada e é aí que eu prefiro escrever sobre outras coisas: MAS OS MÚSICOS DE CHAPECÓ PREFEREM FICAR RECLAMANDO INVÉS DE IREM FAZER MÚSICA! E isso é no mínimo decadente! A crítica tem que ter uma proposição, uma proposta, quando não há proposta eu entendo que é mais um lamento. Sobre os lamentos dos músicos nessa cidade insisto em dizer: Enxugue as lágrimas parceiro, o caminho é esse mesmo! Duro!
..... A última vez que fui a um show de rock, no Morrison Bar, vi uma banda que me fez rir para caramba! Uma banda que dizia que quanto mais velho melhor... Mas não foi isso que aconteceu. Vi um vocalista embriagado que mal conseguia entender o que ele cantava e um guitarrista e um baixista completamente cheirados de pó! Achei demasiadamente RIDÍCULO! Uma banda com 11 anos de estrada que em 11 anos ainda não aprendeu a respeitar o público. Se isso VOCÊS CHAMAM de ROCK AND ROLL eu terei que dizer para vocês que EU ODEIO ROCK AND ROLL. E entre essas bandinhas de emos alegres (restart, cine, calça amarela e cagada e mijada), desafinados e com voz de moleque e com letras ridículas e esse tal ROCK AND ROLL, eu prefiro ficar com esses emos alegres! Que pelo menos esses emos alegres tocam suas próprias músicas e se você curte ou não curte é problema seu, mas você vai saber o que é deles e o que não é e por isso, vejam bem, acho que adolescentes de 16 anos tem se saído muito melhor do que esses roqueiros babacas de quase quarenta anos que ainda querem ser arrogantes no palco e acabam é sendo grotescos e nojentos.No referido show, o público do Morrison Bar se levantou e foi embora. Por isso meus amigos, eu, como músico, não subjulgo o público! Sempre que virem a Sodoma H. tocar, saberão que eu dou o máximo de mim e quando paro de tocar é por que não tenho mais forças para continuar – seja meia hora ou três horas de show.E quanto à saber tocar... Bem, desafio qualquer um nessa cidade a me chamar para me mostrar que sabe tocar! Se alguém aqui nessa cidade se atrever a dizer que sabe tocar, será muitíssimo BABACA! Um músico de verdade se mantém na música por que é vencido todos os dias por seu instrumento, ou seja, por que não sabe tocar! Se alguém disser para vocês que SABE TOCAR, não tenham medo de dizer: SAÍ FORA SEU BABACA! Não importa o valor da sua guitarra e quanto a isso também estou aberto a discussão com qualquer um que ache ter força para tal, importa é A VERDADE QUE VOCÊ ARRANCA DA SUA ARTE! E isso eu aprendi na rua e não na academia e muito menos em manuais de como tocar guitarra e etc.
.....Algo também, bastante curioso e engraçado é que algumas pessoas ainda acham que o rock and roll é música de gente inteligente. Agora vou soltar o verbo sobre o que acho da maior parte das bandas de rock: ACHO ELAS RIDÍCULAS! A maior parte destes que dizem fazer rock and roll não leu se quer um livro na vida. Escrevem coisas cheias de clichês e frases tolas e são tão doentes por uns trocados quanto qualquer outro estilo ou gênero musical. Pensem em bandas como RAIMUNDOS ou VELHAS VIRGENS, eu não vejo nada de inteligente nas músicas deles! Ou vocês acham ainda que é revolucionário falar que VAI METER O PAU NO CU DE UMA MULHER enquanto faz um solo de guitarra? Acham que isso choca ou que isso tem alguma coisa que mereça ser proposta? (Existe um ditado popular que diz: enquanto você fala em transar, eu transo). Tenho certeza no que afirmo: isso é TEDIOSO! RIDÍCULO! Entre essas bandas e o funk que está disparado nos programas de T.V. onde mulheres esfregam seus órgãos sexuais na câmera, eu fico com o funk E NÃO COM O ROCK AND ROLL! As mulheres que dançam funk são bem mais atraentes do que os feiosos que tocam rock- HAHAHAHA!- é claro que estou gracejando agora, prefiro o suicídio a ter de escolher entre ambos, mas vejam bem: Dizer que o rock ainda é o estilo musical de gente inteligente é uma grande falácia! Não existem afirmações nesse sentido que se tornem verdades inquestionáveis. E se rock está ligado com á juventude, esta é outra ideia clichê que nos socaram guela abaixo como estratégia de marketing dos anos 60 e 70. Teríamos que encontrar uma “essência” da juventude para dizer o que é e o que não é da juventude e pelo que sei, o problema da essência nem na filosofia se discute mais! Se a juventude é rebelde, a maior rebeldia desta juventude é virar as costas para o rock and roll enquanto os roqueiros ficam lamentando: ei... jovens, nos dêem bola pelo amor de Deus! Não seriam os roqueiros MORALISTAS de cuecas?
.....Mas ainda no assunto, meus amigos, nesta cidade, creio que não há nem se quer um público educado o suficiente para falarmos em arte. E me refiro aos artistas! Vejo os artistas fazerem cada coisa que fico me perguntando se o melhor não seria a cegueira! Vou dizer-lhes uma coisa: EU NUNCA FUI NO SESC E VI ALGUMA COISA QUE PRESTE LÁ! Só vi besteira e mais besteira! Lixo, PURO LIXO! (e não vamos nos esquecer que a velha falácia da arte de “o que um sentiu não é a mesma coisa que o outro” e blábláblá é o sofisma mais sem vergonha e sem nexo da história da humanidade... Um relativismo patético! Quero que apliquem essa fala quanto tomarem um tiro no pé e me digam se o sentimento é tão relativista assim!). E artistas de egos inflados falando um monte de bobagens que nem eles sabem o que é. São tão estúpidos que chega doer agora, enquanto escrevo. Sem falar que a galeria de arte de Chapecó É DO LADO DE UM BANHEIRO PÚBLICO! Que acham de ir ver uma exposição de arte e sentir um pouco do cheiro de urina misturado com bosta? MARAVILHA, não é? E os artistas plásticos ainda passam rasteiras uns nos outros para expor nesse lugar! DECADÊNCIA É APELIDO! Nota: Ainda é preferível os emos alegres a isso! Se vemos uma multidão indo ao encontro desses emos alegres, deveríamos nos questionar o que temos apresentado para eles para chegarem a esse ponto. Só dizer: Eu sou do rock e por isso sou inteligente é realmente deplorável! O rock tem feito tanto fiasco quanto qualquer outro gênero musical e se tratando de Chapecó, vemos que os músicos nem se quer tem a dignidade de se levantar e dizer: Eu coloco o ROCK em xeque! Ainda estão ocupados bebendo e falando mal uns dos outros, quando não, jogando confetes em cima de si mesmos. Essa vanguarda me envergonha!
..... E por último, para finalizarmos essa primeira sessão de pancadaria, quero esclarecer mais uma coisa: Ainda tem gente que não tem mesmo vergonha na cara de dizer o seguinte “esses emos são famosos por que o mercado fez deles isso!” Pois bem, me expliquem o seguinte então se acham isso: O QUE FEZ DO LED ZEPPELIN ALGO MUNDIALMENTE FAMOSO SE NÃO A INTENSA CAMPANHA DE MARKETING?(Tão famoso que os cretinos que não tem nada para mostrar no campo da música se apegam a ficar imitando o Led Zeppelin). E mais, se você tem uma banda, ou se conhece alguma banda menor ou é amigo de algum integrante de uma banda menor, me diga se não gostaria de ter muito dinheiro para promover essa banda na mídia? Negue para mim que não quer isso, que não quer levar a sua música e a sua banda para muitos lugares nesse mundo e eu direi na sua cara: Então fica na garagem amigo! Você já alcançou seu objetivo!


...Nesta noite saberei quem é hipócrita...



r.A.

PS: E para o pessoal do “clube da amizade” que acha que o importante é falar bem de todo mundo para todo mundo falar bem de você, meus pêsames: Vocês são uns defuntos mesmo!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Eu quero o mundo, e vocês?


“Eu apenas sou lei para os meus, não sou uma lei para toda a gente. Mas aquele que pertencer ao número dos meus tem de ter ossos fortes e pernas ágeis; há de ser animado para as guerras e festins; nem sóbrio nem sonhador; disposto para as coisas mais difíceis como para uma festa; são e robustos. O melhor que existe pertence-nos, a mim e aos meus, e se não no-lo derem, tomaremo-lo; o melhor alimento, o céu mais puro, os pensamentos mais fortes, as mulheres mais formosas!”


_Nietzsche (Zaratustra: A ceia).



.....23 vezes 365 são 8.395. E 8.395 tardes e madrugadas são aproximadamente o número de dias que estou por aí, no mundo. Neste período de tempo eu avancei e retrocedi, mas 2.190 consistem na aproximação de dias em que eu li Rimbaud pela primeira vez! “Uma temporada no inferno” se for distribuída em um livro de bolso, tem aproximadamente 27 páginas. Aos 27 Kurt Cobain resolveu que já tinha vivido o bastante. Aos vinte e três eu não consigo ouvir uma pessoa falando por mais de 30 min. 1.095 consiste na quantidade de dias que existe este presente blog. Não sei qual é a média de sorrisos e lágrimas que derramei durante todo esse tempo, mas uma coisa eu posso lhes dizer: Este blog me faz sorrir!
..... Eu não consigo acreditar nos jornais, nas revistas, em 90% dos livros que leio, em 99,9% das pessoas que conheço, na história, na matemática e na porcentagem. Acredito em mim pelo simples motivo de desconfiar que não sou um charlatão. Tenho um pé atrás em relação a “razão”, mas afirmo todas as manhãs que Nietzsche, Cioran, Rimbaud, Kurt e Jim Morrison tinham razão, porém, Bukowski é o único cara que gostaria de ter encontrado em um bar! Fora estes, todos, para mim são questionáveis. Ah, acredito na arte como expressão, mas não acredito, de forma alguma, nos artistas. Acredito nas baratas por elas ser inúteis! Sua única função – se é que podemos chamar de função- é causar nojo. Acredito no nojo, pois é algo que sinto com bastante freqüência. Entre o amor e o nojo, fico com o nojo... Mas só para não ser amigo dos existencialistas. Alguém aí se perguntou se eu acredito em política e em igrejas? HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA (Infinito e etc).
.....Não vejo motivo para pensar que a psicologia, a psicanálise e a psiquiatria tenham alguma razão. A loucura foi conceituada de várias formas no decorrer dos séculos, o louco de ontem é o seu chefe hoje, seu professor, seu guia espiritual, seu pai... Estamos todos loucos e não faz nenhum sentido defender esta tese: Por isso eu a defendo! Já gostei dos bichos (quando parei de gostar dos humanos), acho que no fundo ainda gosto de um cachorro ou um gato, mas não tenho a capacidade de me apegar a eles. Acredito, no mesmo grau, na gramática quanto em uma cerveja quente no verão. Tenho medo de aranhas (de todos os tamanhos) e nunca fui picado por uma – e tenho certeza que todas estão esperando a chance de me picar para comemorar a vitória de sua espécie-, tento garantir que nunca tenham uma chance de sorrir, no entanto, sei que um dia uma dessas desgraçadas vai me pegar... tomara que eu tenha a chance de pegá-la quando isso acontecer...
..... Rimbaud escreveu que “pregou boas peças à loucura”. Baudelaire afirmava ter acesso a paraísos artificiais com o uso de alucinógenos. Penso que foram métodos formidáveis para sobreviverem em seus contextos, mas hoje pregar peças a loucura ou criar paraísos com alucinógenos não resolvem muita coisa e nem rendem bons versos. Até constato que estão todos gastando muita energia pregando peças a loucura e vivendo em paraísos artificiais. Para onde eu vou? Me pergunto nas noites, como escapo disso tudo que está aí? É o caminho que vou abrindo a golpes de machado.
..... Então meus amigos, é isso que vocês veem no presente blog. Iniciativas de sair! A-RÁ, VOCÊ ESTÁ TENTANDO FUGIR! Alguém poderia dizer agora. Eu responderia com todas as letras: SIM! Fugir é minha meta! Mas vejamos, lembrem-se de vocês na sala de aula, no escritório do trabalho, em uma reunião de família, no sermão do padre que você foi obrigado pela sua família a presenciar, recorde-se da conversa idiota no bar, de um (a) imbecil dando em cima de você em uma festa, de um cara em uma esquina lhe apontando um revólver e pedindo para você esvaziar os bolsos, e me digam se vale a pena lutar contra essas coisas. Alguém aí quer mudar seu mundinho do macro social para o micro social? All right baby, lute por mim! O que eu quero realmente? Ridicularizar isso tudo aí, reduzir a uma pose cômica, piada mal contada, entulho e bobagem! Críticas construtivas? HAHAHAHAHAHA! Por favor, me chamem quando alguém for fazer uma crítica construtiva, eu preciso dar umas boas risadas de vez em quando!
..... Soren Kierkegaard descreveu uma imagem para a filosofia. “Um palhaço no interior de um teatro lotado, percebeu que estava iniciando um incêndio! Apavorado, correu até o palco e gritou para os expectadores: ESTÁ PEGANDO FOGO NO TEATRO, CORRAM, FUJAM! Os expectadores do teatro, pensando se tratar de uma piada: riram! O palhaço, apavorado com a possibilidade de o teatro desabar sobre a cabeça das pessoas, matando todas – inclusive ele-, repetiu: ISSO NÃO É UMA PIADA, É VERDADE, O TEATRO ESTÁ EM CHAMAS! E os expectadores ririam mais ainda. Em algum lugar se ouvia um: Nossa, esse palhaço é bom mesmo, até senti um pouco de medo!” Pois então, meus amigos... Está é a figura deste Blog. Crimes & Ursinhos LMTda, é este palhaço que grita desesperadamente! Se seu conteúdo consiste, precisamente, em todas minhas manobras criativas enquanto olho um teatro em chamas, não significa de forma alguma que sou um magoadinho, que sou “critico”, ou que almejo o lugar que ocupam aqueles que eu crivo com minhas ironias! Este espaço é o espaço da revolta sem revolução, lugar de danças de fogo, chicotes de serpentes e orgias da noite! Aqui eu mantenho a todo custo os versos mais pesados... Acreditem, creio ser bom nisso. Se por vezes sou contraditório é que não acredito em linhas retas. Se me engano, é que só concebo a existência no auto-engano! Se não há nexo, é que não há desejo de nexo (parafraseado Fernando Pessoa).
.....Está semana comemoramos três anos de Crimes & Ursinhos LMTDa. E se há um motivo de comemorarmos é justamente o espaço que a Crimes & Ursinhos (Marchando com os pepinos de fora...) abriu para o que antes não era possível escrever. No tocante contrário, temos outro motivo de triste comemoração. Ele existe, inclusive, por haver muitas “vergonhas” para apontarmos por aí! No mais, se vocês que acompanham o blog já leram alguns textos anteriores, já sabem que me coloquei a árdua tarefa de ESCREVER ATÉ CAIR! O que mudou desde então foi pouca coisa em relação à tarefa! Hoje, minha tarefa (a tarefa que escolhi para mim) consiste em escrever até depois de cair! Portanto, vou escrever até quando não tiver mais forças nem motivos!
.....Quando li Rimbaud pela primeira vez, recordo-me de uma sensação terrível! Era como se estivessem apertando contra meu peito toneladas de rochas – soltassem essa tonelada vagarosamente-, eu fui asfixiando, os ossos das minhas costelas estalavam de forma audível e assustadora! Como alguém viveu tanto por meio das palavras? Eu sentei em um gramado em um sítio e fiquei olhando a água de um riacho, completamente assustado! Eu tinha 17 anos e não tinha feito absolutamente nada que preste até aquele momento! Rimbaud já tinha feito um furação de navalhas e caos até ali... Disse para mim mesmo: Não posso mais viver uma vida sonolenta dessas, preciso dar “o bote surdo da fera”! E desde lá, vocês tem visto o que temos feito (seja com escritos por aí, com este blog, com a Sodoma H.) e mesmo que me encontrem em uma rua, em um lugar qualquer, podem olhar bem fundo nos meus olhos e sentir que não estou aqui para coisas mornas e lisonjear bovinos.

We Want the Word and we Want it… NOW.

r.A.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

...Uma mulher que vivia bem!


.....Então eu conheci, neste fim de semana, uma mulher que vivia bem. Seu método, se condensado em um livro – ou um texto em um blogzinho miserável-, venderia mais do que água. Sabemos que toda mulher bebe água, mas que nem toda mulher vive bem; aí está uma boa propaganda! É sabido também que toda lógica é um truque que faz padecer mais rápido do que o cigarro... Por isso os professores de matemática nunca me pegarão com vida! Mas como eu ia “quase” dizendo, antes de meus pensamentos retóricos se atravessarem na conversa – deixando tudo sem crédito-, conheci uma mulher que vivia bem!
..... Em primeiríssimo lugar, os objetos não satisfazem nossos desejos mais intensos (embora prometam). Os filhos da mãe, dos objetos, tendem a perder seu brilho, mesmo que não percam sua rigidez. Por isso, conheço muitíssimas mulheres que passam o domingo polindo vibradores! Vibradores, objeto não comumente abordado em textos em blogzinhos miseráveis, provavelmente são os objetos que se apresentam com a maior variabilidade de formas. Uns tem formas de carro, outros forma de bíblia, outros ainda forma de coxa de jogador de futebol, mais outros tantos tem forma de discurso, lembrando os vibradores da moda : forma de cifrão! São basicamente os super-gêmeos (essa piada só tem sentido para quem assistia a liga da justiça dos anos 70), gêmeos que assumiam a forma de animal ou líquido em diferentes apresentações (gelo, água, vapor...). Como eu ia “tentando”dizer, este não é o caso dessa interessante mulher que eu conheci. Como ela sabia que o domingo é um dia amaldiçoado em toda a história da humanidade, dia em que acarretam as maiores desilusões – os humanos só sobrevivem na ilusão, à verdade (condição ápice do desiludido) nos sufoca!-, não podia encontrar sentido polindo em uma tarde de domingo. Aproveito esta deixa para confidenciar-lhes dois seguintes: 1- não deixem os professores de história pegar vocês com vida! 2- nunca esqueçam o seguinte nº 1.
.....Eís que essa esperta mulher sabia dos objetos! Foi aí que descobriu uma potente segunda realidade a qual ainda é estranha para nós: Os homens! Todos falamos da humanidade em geral, fazemos campanhas para salvar o mundo e humanizar o homem, porém resvalamos mais nos objetos do que em tobogãs de piscinas de clube (e a bunda se diverte...). A geração atual é a geração vibracal! Esta importante descoberta dos fabricantes de celulares. Há tantos celulares no mundo que carregam a natureza ambígua de não servirem para a comunicação. Alguns dizem que é para ouvir música, outros para ver vídeos pornôs, mas a verdade insuportável e asfixiante consiste no vibracal. O vibracal nos lembra dos vibradores – e por isso gostamos de usar o celular no bolso: as mulheres no bolso dianteiro, os homens no bolso traseiro... e etc.. -, e os vibradores nos lembram do domingo, e por isso somos todos niilistas (redundantes do nada): vivemos em busca do domingo e quando este chega, nos arrastamos para fora dele e saímos semi-mortos (quando saímos...)! – agora devo um galo ao Pcê-. Mas eu falava de uma mulher, portanto sigo, ela descobriu o homem, aliás, descobriu dois!
..... Os homens se ocupam o tempo todo com as mulheres. Precisam ficar bem para elas, ter os vibradores certos para as mulheres certas! Enrijecer os músculos : é um vibrador também! Escovar os dentes, trabalhar para ter dinheiro (roubar é trabalho também, pois dá trabalho ser ladrão – mesmo que na marginalidade : sim, há ladrões que não são marginais!), ir nos lugares certos, na hora certa, com a roupa apropriada e falar a coisa certa (para um homem, falar a coisa certa é decorar sete piadas para fazer uma mulher rir e no mais, calar a boca!), portanto, o homem enaltece o objeto, mas não é o objeto o que ele realmente quer : o objeto é uma isca! Não se pesca dourados com minhoca pequena! Não se abre a porta de um fusca para uma loira do premier! Quando tudo quanto é objeto fracassa, o homem abandona a luta, pois, já matou a charada: a mulher quer sinceridade! Que cobrança perigosa! Se fossemos sinceros não conseguiríamos nem se quer olhar no espelho! Se procurarem a palavra mentira no dicionário da vida, verão a foto de um homem ilustrando a palavra (alguns dicionários - os bons- inclusive, trazem a foto de um homem fazendo sinal de positivo com a mão direita)! Um homem sincero termina como escritor ou guitarrista da banda Sodoma H., portanto, olhar para isso não é nenhum reforço ou convite a ser sincero! –HAHAHAHAHA!-,SER SINCERO É AFIAR OS CASCOS PARA DAR BONS COICES. Já sei que não é assim que se sobrevive nessa (s) cidade (s), é o circuito de lisonjas bovinas que sustentam as amizades e a arte por essas bandas... Como eu ia dizendo, os homens ocupam o tempo todo com as mulheres!
..... As mulheres são mais inteligentes em relação aos homens! Não se ocupam com os homens, se ocupam com os objetos. Um homem para namorar com uma mulher precisa levar 28 foras por noite no tempo estipulado de um mês – nesse espaço de tempo ele adquire um objeto e aí uma mulher aceita ele -. Uma mulher só precisa dizer sim uma vez depois de 28 “nãos”! Existem exceções, mas todos sabemos qual é e no que consiste a regra. Sobre mulheres que procuram homens sinceros, sugiro que procurem na lista de propensos ao suicídio. Provável que atalhem meio cominho. Infelizmente a sinceridade não vibra e nem anda por aí rebaixada com o tampão erguido! Mais certo que esteja na última mesa do bar, sozinha, lendo Rimbaud. As mulheres são mais inteligentes em relação aos homens, mas isso não lhes agrega muita vantagem. Sabendo que os homens são fraudes ambulantes falando de suas iscas, por vezes acabam se fisgando às iscas, e é aí que toda sua inteligência se transforma em tartaruga que caiu de costas! Não preciso descrever mais, não é mesmo? Vocês sabem do que estou falando! Quando vejo mulher saindo de motéis, parece que me recordo de tartarugas voltando para o mar! Mas eu falava dessa tal mulher que vivia bem...
...... Um dia ela me disse em um bar:_ Você continua sozinho pelo que percebo... E eu respondi afirmativamente. Ela disse: _você já sabe que a palavra amor muitas vezes é um clichê? Respondi com outro aceno. Ela : _ Seu problema é que gasta seu tempo desenvolvendo os objetos errados... O que você faz ninguém sabe fazer, é bonito, mas ninguém quer! Aí falei para romper o silêncio: _ O que você pensa ser meu problema consiste no seguinte: Não quero ninguém! E ela me contou que tinha dois homens na sua vida! Nenhum namorado, apenas dois amantes!
.....A diferença de um ser humano para um objeto é que o objeto te obedece (por isso não adianta bater em computadores quando eles travam). Poderiam me dizer que o ser humano é vivo e o objeto não... Mas se olharem com mais atenção em volta, repensariam essa diferença! Essa mulher que conheci, sabia disso e assim optou por dois : nesse sentindo, rompendo com a moral vigente! Só sabemos viver para um, desejando possessivamente um (foi isso que nos socaram na cabeça). Quando há três, não há como haver essa possessão, já estamos em um lugar impossível de cobrar este “ser objeto” do “ser humano”. Se cobrarmos a moral, no sentido que nos foi imposto pela cultura, fracassaremos em uma relação assim. Desta forma o “bem estar” nessa relação não poderia mais se tornar um bem estar na prática moral de um namoro! Assim, essa mulher, ria de mim por eu ser sozinho e dizia: tenho dois homens! Nada mais perigoso e excitante do que isso! E eu dizia: eu tenho a solidão. Ela tem lá seus lados perigosos... De certa forma, eu entendi o que ela disse. Outro ser humano é complexo, há sempre uma possibilidade de ele fazer algo imprevisível , e como o ser humano sempre lhe escapa das mãos como um sabão, talvez o desejo se potencialize e se intensifique... (diferente dos vibradores, que só te dizem que é possível você obtê-los e te dizem que vale a pena) No mais, o que ela dizia era o seguinte: Toda mulher, para viver bem tem que ter dois homens! Eu sorria e concordava: _deve ser mesmo...Cada homem desempenhava um papel insubstituível na vida dessa mulher que vivia bem. Um era um jovem perigoso, metido a grande coisa, escapava-lhe das mãos por correr atrás de outras e ela sentia nisso um fetiche, ou seja, algo que ela não conseguia viver sem... O outro dava-lhe o cordeiro de Deus que o primeiro negava-lhe, e assim, ambos a disputavam e ela disputava ambos sem nunca permitir a eles aproximação. No fim das contas, ela me disse sobre o amor: Amo mesmo é meu cachorro! Esperando meu choque ela recebeu de volta:_eu amo mesmo é “eu” fumando esse cigarro!:_o que a gente não encontra em um, precisa procurar em outro... Ela concluiu e foi aí que vi que ela nunca esteve definitivamente com nenhum dos dois e talvez nenhum dos dois com ela, embora transasse com ambos. Mas ela dizia viver bem assim... eu, no meu canto, imaginei que sim...


r.A.

Nota: A sombra da mão na foto é minha!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A gente nasce, cresce, reproduz e vira jornalista!


.....Olá pessoas! Bem, primeiramente queria falar-lhes de minha ausência – e espero que tenham sentido muito por isso (:D) -, pois eu senti. Gosto de escrever, porém, escrever tem um prazo para mim! Não é bonito o quanto essas coisas trágicas potencializam a gente? Mas não é esse o motivo de não ter escrito nas últimas semanas... Estava muito ocupado com coisas que não são úteis, porém necessárias no momento.- alguém poderia dizer: Como assim? Inútil e necessário? Eu responderia: SIM, igualzinho um prefeito! (Risos). O que faríamos sem um prefeito? Provavelmente as mesmas coisas que temos feito, mas sem um prefeito! O que faríamos sem os jornais? A resposta é a mesma! HAHAHAHA!
.....No mais, hoje, consegui desempenhar a maior parte destas minhas tarefas inúteis e necessárias e por isso estou bem humorado. Portanto, diferente da maioria dos meus textos no blog, este eu vou escrever sorrindo (e ouvindo The doors)!
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.....Hoje, enquanto preparava o almoço, lembrei de uma coisa inútil e necessária! Uma aula que tive na 4º série (no colégio Geni Comel). Uma professora de Estudos Sociais passou no quadro a seguinte frase: O homem nasce, cresce, casa, reproduz, envelhece e morre. Ela pediu para que a turma repetisse essa frase várias vezes (em coro – de alguma forma “mágica”, pouca coisa muda entre a igreja, a escola e a penitenciária). A utilidade deste exercício é duvidosa (de forma alguma penso em desconsiderar as pessoas que gostam desse tipo de coisa – tive uma disciplina de estatística na universidade esse semestre e vocês não acreditariam que lá o pessoal aprende matemática repetindo em coro o que a professora ensina. Todo mundo [ menos o r.A.] : Os dados devem ser organizados em um rol para facilitar a distribuição dos dados PRO-fe-sso-RA! {Nota: Eu sei separar as sílabas, só separei os dois “s” juntos para dar um efeito mais dramático} COISA LINDA ESSE NEGÓCIO DE APREENDER!), como disse, a utilidade desse exercício é duvidosa, mas deve valer para alguma coisa. Por exemplo: Para alguém lembrar isso uns sete anos depois, enquanto faz o almoço, e rir um pouco.
.....Neste exato momento eu estava picando uma abobrinha para cozinhar ela com carne moída (na verdade é mentira, eu não tinha carne moída, aí piquei dois hambúrgueres – Não aconselho que façam isso...). Olhei para a panela (a abóbora esquartejada) e disse para ela: Vê? Você não é um homem! Você não casou! Só nasceu, cresceu, reproduziu, envelheceu e agora eu vou te comer! Eís que talvez o espírito dela estava vagando por cima da panela e me sugeriu o seguinte: Nem todo homem casa! E isso foi o fantasma da abobrinha quem me confidenciou! Retruquei o fantasma: É... Alguma razão você tem... Lembrei que enquanto o coro dizia: O homem nasce, cresce, casa, reproduz, envelhece e morre; eu dizia: O homem nasce, casa e está morto! É óbvio que eu não sabia que tinha razão já tão jovem! Eu fazia isso para encurtar a frase e dar tempo de olhar para os outros que estavam falando e olhando para o quadro. Eu sempre achei engraçado as pessoas repetindo coisas em coro! Estou falando sério! Experimentem fazer isso uma hora dessas... Fiquem olhando as pessoas repetindo alguma coisa em um grande grupo. Parece que “rola” um “lance” de competição. Se você observar com atenção as pessoas batendo palmas para alguém, sempre tem uns que batem com mais força e ficam bravos com os que tem mais força que eles... Sem contar que o cara que puxa as palmas geralmente estufa o peito e se sente feliz consigo mesmo por ter sido o primeiro a puxar as palmas. Ele transpassa os outros com um olhar do tipo: VIRAM? FUI EUZINHO QUE FIZ ISSO, FUI EU, VOCÊS ESTÃO APLAUDINDO AGORA, MAS FUI EUZINHO QUEM COMEÇOU ESSA FOLIA TODA! E os que queriam ter começado com as palmas olham de volta com uma cara do tipo: ... ria enquanto pode... quando você se distrair serei eu a puxar as palmas... quem ri por último ri melhor! E por aí vai.
.....Senti algo assim na última apresentação da Sodoma H. Só não escrevi sobre isso imediatamente pelo fato de outras pessoas sentirem a necessidade de escrever sobre isso – inclusive eu publiquei aqui no blog sem a devida autorização um texto de uma artista plástica que se referia a isso: ela há de me perdoar a traquinagem... espero...). Algo me chamou a atenção nesse último show... A hipótese de um poeta amigo meu é que “os ouvidos vão se desentupindo com o tempo”... O fato é que muita gente saiu de casa para ir no domingo nos ver (e isso, por incrível que pareça, incomodou muita gente – principalmente integrantes de outras bandas). Eles olhavam com raiva para as pessoas que aplaudiam (sinceramente, não me importa muito como as pessoas reagem aos poemas que nós jogamos nelas... Me importa em passar esse poemas da melhor forma possível... etc...), até pensei na hipótese que esses integrantes de outras bandas ficavam com raiva pelo motivo de quererem ser eles a puxar as palmas, mas sabem, há sempre alguém mais atento do lado da gente e acaba sendo mais rápido no gatilho – palma. Ainda sobre a importância: Nos preocupamos tanto dessa vez com nosso recital de poesia que nem se quer nos demos ao trabalho de registrá-lo. Prefiro pensar na hipótese das palmas, pois, por outro lado, teria de pensar que essas pessoas não estavam gostando da “apresentação”. Aí, acho um ato de extrema burrice. Ficar em um lugar onde você não gosta do que está vendo para falar mal depois não é um exercício crítico, é um exercício de masoquista! Eu mesmo já fui masoquista, hoje prefiro perder meu tempo picando abobrinhas... vejam, as abobrinhas tem muito mais a dizer que muitas pessoas nessa cidade! Por último, para finalizar esse desvio de rota no assunto, só gostaria que algumas pessoas deixassem de ser hipócritas e não nos parabenizassem por fazer aquilo que há muito não se faz nessa cidade. Prefiro que falem sobre o meu tênis que está descolado na ponta (e não tenho dinheiro para comprar outro par) antes de ficarem fingindo que gostam do que a Sodoma H. faz ou deixa de fazer. Como escrevi em outro texto e acho que não foi lido (ou recordado) e por isso vou reescrever: Não vão pensar que eu não sei o que vocês realmente pensam de nós! Vocês não são tão bons assim em fingir um sorriso e uma lisonja! Eu sei... Entendem? Eu sei!
.....E aí eis que terminei de cozinhar a tal da abobrinha!Não ficou tão ruim. Me trouxe aquela recordação da aula de estudos sociais e eu fiquei pensando sobre a reprodução enquanto fumava um cigarro após o almoço. Pensei: Quem se doa demais em ficar unicamente reproduzindo já está morto e esqueceu-se de cair! E vai que alguém lembra esses mortos de que já morreram? Eles já tem embutido toda uma filosofice que engendra na patifaria. Se você diz para eles que eles estão apodrecendo em pé, eles ainda acham que você está oprimindo eles! Inclusive disse semana passada para uma amiga que ela estava ridícula fazendo o que estava fazendo e ela achou que eu queria comê-la! HAHAHAHA... Que que é isso? Eu gosto mesmo é de comer abobrinhas!

r.A.- Dando risada que nem jogral!

Obs: Espero ter matado a saudade dos que me gostam com essas palavras todas... Viu guria que me cobrou um texto na sala de aula? Eu escrevi outro! :D

NOTA DE RODA-PÉ-NO OUVIDO: Para as pessoas que fizeram todo um estardalhaço em relação ao fato do Paul McCartney estar em Porto Alegre... Por favor, me poupem desse assunto! Não vejo nada que valha a pena nisso... É um noninho milionário com um violão que vale mais do que o dinheiro que vocês conseguiram reunir em toda uma vida, porém, é preciso fazer muita força para encontrar alguma coisa de poesia nas músicas dele – “quem sabe inventar” que lá tem alguma coisa de poesia-(E ISSO PROVA QUE UM EQUIPAMENTO BOM NÃO É TUDO!). John Lennon disse: Paul só fez yesterday, o resto é fiasqueira! E eu quase concordo: Acho Yesterday chata e BICHENTA! Para a geração Beat aposentada que cuida dos netos e fuma maconha escondida, acho que é bem didático torrar uns 400r$ para ter alguma coisa para falar até o fim do ano... Para a juventude que baba ovo dos livros beat, por favor, comprem uma garrafa de gim e vão para o outro lado do bar que eu tenho alergia de pseudo-saudosistas (pois, a única referência que eles têm dos beats é os livros que os beats escreveram para não passar fome... ou para afastar a ideia de fome...).

sábado, 13 de novembro de 2010

Nós sempre faremos isso...

(Texto da artista plástica Monique Cescon).


.....Por vários momentos nessas ultimas semanas estive me questionando e com isso questionando a que público devesse se colocar a arte contemporânea. Mesmo estando convencida que estão claros meus questionamentos a cerca da arte contemporânea, vejo que alguns de meus amigos imaginam que já devesse ter-me esclarecido sobre tais assuntos, porém, permito-me um pouco mais de suor e lágrimas no que diz respeito á minha arte. É mais sabido que, mesmo por diversas relações e definições que se tem da palavra “público”, todos somos membros de um.
.....Os artistas que vieram de toda a geração de Botticelli não ousariam negar a perspectiva ou toda a anatomia do sec. XV, mas, quando Matisse rompe com a pintura do sec. XX que até então se definia acadêmica, técnica e bela e a torna expressiva e gestual é criticado por grandes pintores da época que sabiam utilizar de critérios teóricos e formas numa analise estética visual na arte. Picasso rompe com Matisse e o modernismo, para expressar mais ainda a arte em formas e temas não questionados e utilizados pelos padrões da época. Não foi simplesmente para se divertirem que fizeram suas respectivas críticas, isto é evidente! Quando Matisse apresenta sua tela (Alegria de Viver. 1906) recebe a seguinte crítica do pintor Paul Signac:

“ Matisse parece ter se perdido. Numa tela de dois metros
E meio, ele contornou alguns estranhos personagens com
Uma linha da espessura de um polegar. Em seguida
Cobriu tudo com uma cor plana, definida, que embora
Pura pareceu de muito mau gosto. Lembra as fachadas
Multicoloridas das lojas de tintas, vernizes e produtos
Domésticos.” ( STEINBERG, Leo. 1972. P.22)


.....Anos depois quando Picasso apresenta (Les Demoiselles d’Avignon) é julgado como falso e contraditório pelo mesmo Matisse que também rompeu um dia com padrões estabelecidos na arte. Percebe-se que os artistas rejeitados por museus, salões, e criticados por sua arte, ouviam e eram submetidos a críticas, por pintores, poetas e artistas da mesma época e na maioria das vezes artistas acadêmicos. É como se quisessem que você fosse a uma formatura de direito, usando calça jeans e camiseta do Ramones sem ser tomado com impertinente. Nota-se que o rompimento perturba em excesso.
.....Quando Baudelaire critica o pintor Courbet e fala sobre a “retratação das faculdades espirituais”, que se impõe sobre si mesmo para atingir um ideal sereno e clássico, e que assim toda a imaginação e movimento são banidos de uma obra, é visto como insensível e inferior a Courbet. Mas Baudelaire, literato, seria insensível aos valores visuais?
.....A crítica que ele reporta a Courbet mostra que tendo seus próprios ideais, ele não estava disposto a sacrificar coisas que o pintor havia posto de lado. Courbet, como qualquer bom artista, também seguia seus próprios objetivos, os valores que descartava (a “beleza ideal” e a fantasia) para ele há muito se perdeu, no entanto, sua virtude positiva, não constituía uma perda. Mas eram sentidos como perda para Baudelaire, que consistia na fantasia e a beleza ideal não exaurida.
.....Sobre isso, penso, e não penso sozinha, que uma pessoa (público), diante de uma obra de arte contemporânea, não pode ser vista como alguém que não entendeu a obra (ouvimos isso sempre). Pode simplesmente, significar que, tendo uma forte ligação com certos valores, essa pessoa não pode servir a um culto não familiar no qual esses mesmos valores são ridicularizados. E a arte contemporânea é um convite a aplaudirmos a destruição de valores que ainda pregamos, não é para ser CLARA. Ou me engano? Talvez não seja isso que esta acontecendo... A “arte contemporânea” esta sendo embelezada, VALORIZADA, Rafaelizada. É possível ouvir anjos quando se comenta certos trabalhos hoje.
.....Percebi essas coisas no ultimo final de semana (sim depois de tanto me permitir dar socos em mim mesma), recebi um convite para uma apresentação musical de uma dupla de músicos trágicos e poetas excelentes desta cidade. Como toda a boa arte, cerveja e composições musicais próprias, lá fui com meu corpo. Inevitável é não observar outros corpos.
.....Em certos momentos senti que houvesse pessoas daquela festinha de direito, que falei anteriormente, me observando... Convide alguém para jantar e sirva-lhe algo como estopa ou parafina e vão entender o que estou falando! O que vi, até onde pude ver (depois disso algo foi maior) foram pessoas, sangue, indefinições tentando encontrar alguma explicação para aquela “magia” que tomava conta de seus seres, das suas peles e das suas “almas”. Mas também, como era a hora e não pude fechar meus dedos, vi mais coisas. Pessoas irritadas com amigos que estavam gostando de tudo aquilo que não consigo definir, apreensivos com a ideia de que pudessem gostar de fato do que estavam ouvindo. Furiosos consigo mesmos por terem sido desmascarados por toda aquela situação. A música agia e os deprimia. Mas toda aquela situação era motivo para ficarem tão deprimidos? Se não gostaram daquilo porque não iam embora, não ignoravam? O que realmente os deprimia era sentirem aquela música e o que aquela música podia causar a toda a arte.

.....E tudo isso, que me questiono, também me responde... A que público serve a arte?
--- Ao público.
.....Porque não dá pra ter uma experiência como tive e voltar ao trabalho na segunda feira como se nada aconteceu. Me cansa o público que diz estar em outro nível, pressupondo, assim, estar acima de ser "público" e analisa formalmente, e critica a todo tempo as formas de arte pela “qualidade”, “avanço”, “medindo” a arte numa escala comparativa, dizendo a um artista aquilo que não deve fazer e ao publico o que não deve ser. TODOS SÃO PÚBLICOS!
......Uma obra pode ser indiferente a crítica, agora a crítica... É como alguém que tem esperanças em ir à praia e infelizmente, o tempo indiferente, faz chover. Na noite desta apresentação musical, pode-se ouvir palavras como “eu não gostei” ou “eu gostei” proferidas tanto para a musica como para a bebida que ali se encontrava. Ora, o gosto em arte não pode ser uma entrega a qualquer estímulo interessante.
.....De toda essa forte experiência estética que pude fazer parte, juntando com todas as questões que me atormentavam por mais “simples” que se imaginam, certamente posso afirmar que as coisas estão acontecendo! E, pode ser mais rápido do que possuímos!
.....As semanas que me passaram com indecisão, decidiram para mim, em um momento enquanto eu me colocava como público. Presenciei a arte, inevitável negá-la. Você pode fechar seus olhos, seus ouvidos, seu corpo inteiro e ela ainda assim estará por perto. Deixo uma autocrítica do escultor Jean Tinguely (1962):

“ Não é um gesto de trabalho
Não é um gesto de esporte.
Não é um gesto de amor.
Ce n’est pás dans La vie”.
( não está na vida)










Monique C

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Uma psicologia da afirmação do "vago"


.....”Com a face e os membros pintados de mil maneiras, assim me assombrastes, homens atuais.
E com mil espelhos à vossa roda, que adulavam e repetia o efeito das vossas cores.
Certamente, não podíeis usar melhor máscaras do que a vossa própria cara, homens atuais.
Quem poderia reconhecer?”

-Nietzsche (Assim falou Zaratustra – Do país da civilização)

..... Se pudesse hoje, sem mais análises, pintar o símbolo de homens em seu estado psicológico mais vazio, pintaria um carro de capo aberto e imprimiria nesse carro a insígnia que identifica um grupo! Não necessitamos de maior aprofundamento psicológico para figurar o símbolo de “machos em decadência”, aquilo que aos mais nobres dos homens já obriga uma reflexão de no mínimo três dias antes de poder proferir a frase: “eu sou um homem!” É perigoso dizer que é homem contemporaneamente, ora, acredito que alguns poucos de vocês irão concordar comigo, mas eu não sinto a menor vontade em ser contemporâneo dos homens que tenho visto em meu cotidiano, aliás, sinto imensa tristeza quando passo por um deles! E digo tristeza por cortesia, pois facilmente poderia substituir tristeza por náusea! Depois disso, se me fosse pedido para pintar um segundo símbolo de homens em seu estado psicológico mais vazio, pintaria a idolatria a times de futebol! Nada que necessite, novamente, de um aprofundamento psicológico, ora, nada que retrate melhor homens vazios do que a sua própria nulidade elevada na enésima potência: Um amontoado de músculos suados a correr atrás de uma bola, incentivado por gritos de outros homens, e, um grande montante de dinheiro! Ao olhar para a história da humanidade e grosseiramente posicionar, lado a lado, os homens mais antigos com os de hoje, sinto dizer, mas, estamos na época do homem mais ridiculamente inferior! Alguém, com uma esperança fúnebre gritará: Mas nós evoluímos! Hoje não batemos em mulheres!(?) Eu responderia: Claro amigo, não se deve arrastar na terra vossos enfeites! Pois digo, nada mais “oposto complementar” (como uma jornalista adora usar esse termo) para um homem tão decadente, quanto uma mulher que lhe serve como adorno, como enfeite, algo para exibir para os amigos e chorar publicamente: Meu amor, não sei o que faria sem você! Um homem que não sabe o que fazer sem uma mulher não é virilmente um homem, mas um pedaço de infantilidade! A muito nem as crianças são tão infantis! Nem as crianças, me parece, são tão covardes ao ponto de jogar suas expectativas nas costas de uma mulher! (e versa no vice).
..... Se por um lado somos um herdeiro em comum com o macaco que evoluiu (Darwin e Neodarwinistas, psicologia fisiológica – biológica, psicanálise até um ponto...), começo a pensar que o macaco está a rir de nós! Que macaco gastaria seu salário para equipar um carro a fim de constituir um argumento para sua fêmea de que é um bom partido (que macaca acreditaria no argumento?)? Digam-me, que macaco ligaria sua imagem ao porta mala de um carro entupido de batidas distorcidas para chamar a atenção? Melhor ainda, que macaco passaria horas em uma academia malhando o corpo a fim de alterar sua imagem inaceitável para si mesmo frente ao espelho? Me desculpem as mulheres, mas uma macaca não se impressionaria com isso, algumas de vocês sim! Hoje, caímos todos no truque de sentirmos nojo de nós mesmos sem poder admitir (pense positivo), psicólogos de linha de produção dizem: nada de aborrecimentos, o importante é ter saúde, vamos trabalhar! O homem, pobre e pequeno homem, antes de ficar nu (em todos os sentidos...) já esta pensando no transcender as expectativas, nem aproveita seu momento de nudez, e por vezes beija tanto os bíceps que esquece de tirar a roupa! Outras vezes (a maioria das vezes) seu bíceps é o carro rebaixado com som – aqueles que não possuem a inteligência e coordenação motora suficiente para executar um instrumento musical tem de apelar para as máquinas mesmo! Afinal, elas não se cansam como o fracassado homem! Sobre som automotivo, devo lembrar-lhes que música é algo composto de melodia e acordes, no tocante que som automotivo, quando possuí, possuí apenas melodia – portanto não é música, é apenas ruído... Devo lembrar-lhes? O violão mais desafinado supera dez carros de som (para não dizer todos), pois ainda é plausível de arrancar-lhe um acorde, já para o ruído, basta arrastar as unhas no corpo do violão – Vejam homens (e mulheres), é preciso um pouco de bom gosto para a arte e certa competência de intelecto – e se ainda acham que tiram de mim alguma razão afirmando que “gosto não se discute”, eu retruco-lhes como Nietzsche que “a vida é uma questão de gosto!” e complemento, não discutir sobre a vida, é o que lhes atolou no estrume até o pescoço! Pretendem afundar mais? Quem via o homem moderno, jamais imaginaria que se tornaria um adepto da “coprofilia”.
..... Se por outro lado ainda, se acredita que o homem é imagem e semelhança de Deus, talvez Deus tenha se tornado o mais anêmico dos super-seres! Se o mais grandioso ser pariu tamanha imperfeição, não deveríamos nós duvidar de sua perfeição? “Amamos o perfeito” dizia o poeta Fernando Pessoa, já que é o que nunca seremos! Cansados de nossa impotência ao buscar algo maior que o homem, hoje destinamos um lugar de santidade a toda a idiotice! Logo que ser idiota esta ao alcance de qualquer homem – E se escrevo isso é por não sub-julgar o homem, de outro modo, teria eu de admitir que a idiotice seja caráter intrínseco ao homem. Aí, escrever seria absurdo! Se pudesse justificar minha escrita, diria que tenho gosto por montanhas altas... Escrever para idiotas é fácil demais... Mas já aprendi em uma madrugada que minha escrita se justifica sozinha.
..... Hoje, vejo aparecer, semelhante às gangues de delinqüentes os ditos grupos. Não há grande diferença para mim, em um ponto nodal, essas gangues delinqüentes dos grupos, ambos se agrupam em nome de uma identificação negada e buscam uma identificação afirmativa. Sozinhos se sentem incapazes, juntos manifestam pensamento gregário (que faz parte da “grei”, rebanho; que vive em bando). Vou definir a que tipo de grupo me refiro, para que melhor me faça entender: Juntam-se em nome dessa identificação negada – negam quem não faz parte do grupo-, e na seqüência, com esse rebanho, buscam afirmação elegendo símbolos. Usam uniformes (camiseta e calção) com um símbolo estampado, elegem um nome (geralmente algo em inglês, de alguma forma acreditam que isso lhes atribuí algum status maior) e fixam em seus carros e motos. E o que fazem com isso? Aparentemente nada! Apenas o pertencer ao grupo é o suficiente! A baixa auto estima por si mesmos é a denuncia. Como disse no começo deste texto, “se pudesse hoje pintar o símbolo de homens em seu estado psicológico mais vazio”... Este é o adesivo! A insígnia de um grupo! Me livrarei de análises psicológicas e sociológicas que atribuem a esse exercício a necessidade da constituição de ser em uma sociedade que não mais abraça os cidadãos. Como notaram desfragmentei os comportamentos no inicio a fim de desmantelar suas propostas. Meu faro aponta para algo mais perigoso, uma psicologia de afirmação do “vago”.
..... Por vago, entendo, O que vagueia; O inconstante; Perplexo; Indeciso; Indeterminado; Confuso; Devoluto; Desabitado. Vagueiam, apenas isso, sem preposição alguma. São inconstantes, pois podem ir da nulidade de sentar sobre os capôs dos carros para ouvir ruídos, tal como, serem agressivos, atacarem outros como uma gangue, um rebanho, um único motivo: “mexeu com um, mexeu com o grupo”! Perplexo, pasmado, irresoluto, característica que não passa disso, mantém-se pasmado, não sabe o que o espanta e tão pouco procura saber (resolver-se). Indeciso, não decide, o grupo (que é todo indeciso) decide pelos indivíduos – sem preposição, mais uma vez. Indeterminado, pois não se determina por valores que vão para além desse grupo ou antes (comprar um carro, ter uma mulher enquanto enfeite...). Confuso, ao ser questionado, consulta ou informa o grupo. Devoluto (nesse sentido que aplico), não cultivado – não cultiva o engrandecimento de seu ser, destituído dos valores desse grupo, resta pouco enquanto identificação consigo mesmo. Desabitado de sentido singular. Quando falo nesse sentido do grupo, não nego que é em um grupo que se adquire a construção psicológica do sujeito, com seus valores, sua linguagem, afirmo que essa nova forma de grupo os levam a uma afirmação de uma psicologia (tal qual é o sentido do texto) do vago. Um levante vazio de manifesto a sociedade que deixa a desejar? Poder-mos-ia dizer que sim, porém, o fato de não haver manifesto algum fora um sintoma de nadidade, niilismo, direcionamento para super-valoração dos objetos acima do ser, não nos deixa dizer que isso é uma forma de manifesto.
.....Alguma preposição para sair desse atoleiro? Esperarei contribuição de psicólogos e afins no presente blog – ao mesmo tempo que não, pois já desenha-se na minha mente uma preposição baseada na transvaloração. No mais, continua no próximo texto.

r. A.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Da dignidade frente um filósofo...


Ler filosofia tal como usar de seus conceitos – parindo outros- tem sido o meu trabalho que ultrapassa qualquer remuneração. Procurei por algum tempo algo que me desse à liberdade necessária para que me expressasse, deparei-me com a literatura e seus gêneros, a música, mas o meu, digamos, melhor campo de manobra tem sido esse meu trabalho. Sabia das dificuldades disso que escolhi, o mais duro foi aceitar essas dificuldades. Aspirar ser um filósofo requer bastante disciplina, não ter hora para dormir, apagar durante alguns dias, sentir-se exaurido cognitivamente. Quando me aparece algo que exige de mim um posicionamento filosófico – uma questão cotidiana, um problema de patamares maiores, uma angústia, ou até mesmo, a busca por um sorriso- sinto como se estivesse a embarcar em um navio sombrio, sozinho, contemplar uma tempestade em alto mar. Sei que outros trilharam esse caminho e encontraram além de mares revoltos um sorriso sobre humano! Atualmente quando me deparo com essa necessidade de embarcar, penso nesses meus 23 anos e como outros amigos deixaram alguma pista para mim séculos passados (me refiro a Nietzsche que escreveu sua primeira obra aos 24 anos). A contemplação do homem em alto mar, sentindo na pele sua embarcação sendo surrada pelas ondas, pelo vento, pela tempestade, pela noite, há alguns anos tem sido o meu lar... Os tesouros e as cicatrizes da aventura, até mesmo a morte que paira no ar, o sufocar-se, isso tudo é o sinal do grito desesperado e humano que trago na córnea dos olhos da alma e no coração. Uma tremedeira e um suor gelado frente ao perigo, eis os meus deuses! Quando meu radar-corpo alerta que isso me escapa (ou que outros relutam em me tirar), prontamente arranco minha espada trincada de pelejas e a empunho sobre minha cabeça. Há brandir a espada com toda força sinto não só o punho, mas o corpo inteiro que enrijece. Com o passar dos anos pouco me importa se me acusam de arrogância, de agir de forma ridícula, animalesca, vil, obscura ou sanguinária! Sou realmente capaz de por a correr amigos e quem dirá inimigos! Tenho palavras que esmigalham rochas, arrancam árvores gigantescas, esfarelam muros, decepam pernas, braços e cabeça de monstros. Vivo acuado como uma pantera e ganho palmo a palmo a floresta. Também sei dar festas dionisíacas aos amigos, recebê-los com vinho, música e dança! Recito um poema como um lobo uiva para a lua, acaricio pernas com o corpo todo, semelhante a um gato sonolento e roliço. Apartar-me da filosofia é ação inútil, desperdício de força! Jogá-la na lama e um convite para um duelo, é oferecer-me a lança, polir minhas garras e presas, despertar minhas feras! Ao pedir para eu içar as velas de meu navio tenham a dignidade de deixar-me atravessar o mar, do contrário, deixem-me na integridade de minha loucura – é para poucos! Saibam desde ontem, é para muito poucos!

r.A.

sábado, 25 de setembro de 2010

Manual para jovens escritores...


.....Escrever, aparentemente, não requer muita coisa. A prova que não sou um bom escritor provavelmente reside nessa primeira frase! Só escrevo em estado de tragédia – tal como só consigo compor canções assim... -, dando-me conta que alguma coisa esta rompida em algum canto obscuro da minha psique. Contos, músicas, poemas, canções, crônicas, são ferramentas enquanto metodologia. O que realmente se passa por trás do domínio destas metodologias é lamacento. Assimilar que alguém pode morrer ou viver fazendo isso é mera tautologia, mera lógica discursiva. Uma mulher atravessa a rua e é atropelada por um ônibus, isso não é tornar-se um escritor, de forma alguma, mas ninguém diz: atravessar a rua era a vida daquela mulher – ou a morte (talvez um escritor narre à história dessa forma). Narrar é uma luta contra o tédio (inclusive?). Toda a magia com que adornam o “ser” de um escritor é uma brincadeira de mau gosto. Sei que Cioran disse isso, e outros milhões de escritores copiaram isso dele, inclusive eu agora, mas de fato, em todos os prólogos e orelhas de livros está escrito: Um dos maiores escritores de todos os tempos! Quando leio isso eu fico imaginando o quanto tediante era o cotidiano desse tal sujeito para escrever tanto ao ponto de ser dito dele que ele era um dos maiores. Eu, por exemplo, mesmo sendo duvidoso usar-me como exemplo, escrevo para manipular o tédio. Talvez outra forma de sufocar isso é a televisão, o trabalho (com toda a sua carga estúpida e moral), os filhos, as namoradas (os), os amigos (as), um bar ou uma igreja. Notem que para alguém escrever um bom poema ou uma boa história não pode estar lá fora vivendo uma boa história. Não é por acaso que os professores (eu dou aulas, mas professor NUNCA!) discutem que os jovens tem lido pouco. Quando saio e vejo um bando de desajustados vagando por aí – não é difícil encontrá-los, se você for até a janela vera algum, certamente -, penso ser uma pena eles não encontrar o que saíram para procurar. Um bom escritor se empolga com uma formiga e escreve horas sobre a formiga. Um bom poeta escreve sobre as folhas no chão, sobre o vento e a chuva, sobre a bebida, sobre o mar, etc... Eu, vejam, disse que eu não era bom, não dou a mínima para essas coisas todas. Me cansam pessoas suaves, prosas com lantejoulas, carnavais na escrita. Inclusive não sou um músico embutido de erudição musical, logo que me canso em estudar música. Talvez meu enorme gosto pela filosofia seja guiado pela empatia para com outros entediados como eu. Que, certamente, diferente da maioria intensa de bilhões de habitantes desse mundo, algumas filosofias fazem mais sentido para mim do que a natureza é inegável para comigo mesmo. O curioso é que tenho como companheiros os atravessados na filosofia, os avessos! Ao que Medina Reyes escreve no prefácio de um livro de poesias que “a poesia não impede uma guerra nem cura gripe, mas ajuda a suportá-las”, eu digo que a filosofia impede guerras e inclusive ajuda a suportá-las. Ambas ajudam com uma “loira peituda” – do citado prefácio -, porém, a filosofia me ajudou a manter-se afastado delas (por algum tempo – me guiou para as morenas). Fazendo livres associações eu imagino que já tenham percebido que eu sou mais filósofo do que um escritor – já disse que não sou bom???
..... Escrevo e mantenho o presente blog – e até o divulgo- unicamente para compartilhar com vocês essa minha brincadeira, onde quanto mais os convido para brincar comigo, mais sei que se aparecessem me estendendo à mão eu recusaria. Notem que as primeiras postagens são as mais interessantes – a meu ver- porém são aquelas que ninguém olha. Depois eu comecei a tratar de questões que eram próprias para todos e as pessoas começaram a visitar-me (visitar minhas palavras, aquilo que estranho em mim mesmo, inclusive agora)! Hoje descobri que há um lugar para se consultar as visualizações e ri quando vi que mais de novecentas (900) pessoas visitaram esse blog no último mês. Porém, ainda assim, os textos menos acessados são os mais importantes – ainda a meu ver. O que viola minha rabugentice, justamente pelo fator que já sabia e comprovo, o que faz de um texto (um escritor, um filósofo, um músico) um texto é o quanto os outros acham ele relevante. Isso tudo é estranho, pois, se escrevi sobre coisas que as pessoas acharam interessante ler, foi um acaso (em relação ao esforço). E mesmo assim tem pessoas que se ofendem ou encontram grande sentido para seus dia-a-dia nisso. Quando alguém fica bravo ou me acusa de ser destrutivo e obscuro (patológico) eu não me enfureço e nem faço grande esforço para me justificar. Sei que o que as pessoas veem em geral é o que doe nelas admitirem. A acusação de escrever na escuridão eu aceito até como lisonja, sendo que, é esse meu lugar habitual há muito tempo – certamente antes da escrita.
..... O que eu diria para jovens escritores (e diria para mim mesmo) é apenas para escreverem se lá fora esta chato demais. Diria isso para jovens músicos também. É uma forma de brincar, de se conhecer, de conhecer as outras pessoas. Mas não chorem por falta de reconhecimento ou se alguém criticar suas escritas... Nada se torna pessoal quanto tudo é pessoal, o nada é tudo usando uma máscara! Se desejam fazer objeções a tudo que esta aí (como eu faço e admito fazer) façam isso se perguntando se é necessário três vezes. Se for, ninguém mais é capaz de dizer o contrário. Quando disserem, escrevam mais. Agora se choram, considerem fazer outra coisa. É possível rir tropeçando em uma pedra e chorar descascando cebolas. Eu gostaria de ter me dito isso à alguns anos atrás – mas nunca é tarde quando é tarde demais!

r.A. – Aos que encontrarem esse texto perdido no blog.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Outra Maravilhosa Capa de disco da Dupla citada no texto abaixo (esses deixaram saudade (?)

As picuinhas musicais dos Jovens/Velhos chapecoenses... (Part II)


Nota: Será longo, mas será prazeroso... Prometo.

.....No texto anterior eu parei no pós segunda guerra (no que diz respeito ao sertanejo), pois bem, no pós segunda guerra (meados de 1960) ouvimos pela primeira vez a guitarra elétrica aparecendo neste estilo. Os autores da façanha, até onde se tem notícias, é a dupla Léo Canhoto e Robertinho (as lindas figuras da foto). Agora faço uma pausa para lhes dizer como é que sei disso tudo que falei no texto anterior (e sigo falando neste): Minha mãe é uma dos últimos de uma geração (desta região) de “gaiteiros”, ou melhor, tocadores de acordeom. Nesse meio então, eu tive acesso a algumas centenas de discos e outras centenas de histórias sobre as canções. Meu avô faleceu há alguns anos e deixou um dos acordeons mais caros e raros enquanto lembrança da família Webert do Nascimento (italianos com caboclos). Sobre meu avô, a história mais engraçada que já ouvi foi um “causo” sempre lembrado na reunião de músicos da família, consistia, resumindo, que um dos seus antepassados (e meu, óbvio!) morreu de um enfarte e foi enterrado com um acordeom (a muito ele dizia que era seu desejo). Algumas pessoas sabendo o valor que esse instrumento possuí violaram o seu túmulo a fim de pegar o acordeom, ao que, o defunto levantou e começou a tocar o acordeom! Quando ouvi essa história eu ri e disse: Mas que mentira fajuta! E ele riu de volta e disse: O coração dele deve ter voltado a bater e graças aos ladrões de túmulo ele não morreu “novamente” asfixiado embaixo da terra. Estou lhes contanto isso para deixar em maior evidência que cresci ouvindo esse estilo de música. Aliás, até me recordo de zanzar em torno de minha mãe, com menos de quatro anos de idade, enquanto ela dava aulas ou simplesmente tocava para pessoas que queriam conhecer o estilo desses “gaiteiros caboclos”, um estilo que era mais que tocar música, eram pessoas que viviam a música que tocavam. Infelizmente para mim, a forma de execução deste instrumento não é uma forma que respeita uma estrutura precisa, teórica, da música como é ensinada hoje... Eles apreendiam com o “sentir”, como dizia meu avô (estou falando desse estilo de tocar, não de tocar acordeom, precisamente). Disse infelizmente e disse, pois eu, por mais que tentasse compreender esse estilo, não consegui aprender! Um dos músicos que conheciam esse estilo era José Mendes... Músico do estilo gauchesco – outra história longa...-, pois bem, voltamos ao Leo Canhoto e Robertinho. Para vocês terem uma ideia do quanto era semelhante ao rock esse primeiro estilo onde se introduziu a guitarra, até hoje, quando me recordo de um dos discos (que se perderam), não sei onde termina o sertanejo e onde começa o rock. Em dois dos discos dessas duas figuras, a poética é simples e divertida! Eles contam histórias semelhantes ao velho oeste. Para terem mais uma idéia, o nome de uma das canções é “Delegado Jaracuçu” (nome do disco que me referi). É uma narrativa que lembra as histórias contadas pelos bluesmen do Mississipi. Fala sobre dois amigos que “bebiam cachaça dia e noite em um tonel”, terminavam por discutir e se encher de tiros – na canção há colagens de sons de tiros. A estrutura da canção vai do blues ao folk – sertanejos, meus amigos... Sertanejos! No final da narrativa/canção, o delegado os obriga a ir para o alto de uma montanha e matarem um ao outro – o que eles fazem com prazer (o nome das duas figuras que se matam é “Urutu Cruzeiro” e “Cascavel”- [risos])! As pessoas quando encontram o corpo de ambos “furados de bala igual tábua de pirulito” começam a rir de uma forma meio maluca – as risadas estão incluídas na música. Em outra canção de outro disco (que não me recordo no nome do disco, mas a canção é “Motoqueiro apaixonado”) que possuí arranjos de violino e é tocada no estilo mariachi, ouvimos um refrão novo no que diz respeito a esse gênero de Sertanejo (Sertanejo moderno): “Você não presta, mas eu te amo, como eu te amo, o seu amor meu bem, faz bem para mim!” Lembra vocês de alguma música do aclamado sertanejo universitário? – Talvez todas! E é rock do sertão meus amigos, anterior ao movimento chamado jovem guarda! Mas pasmem amigos roqueiros de plantão: eles é que eram os avessos da música nessa época! Eles é que estavam andando na contramão do convencional! Me desculpe o Roberto e o Tremendão, mas esses dois pistoleiros chegaram na frente naquilo que é mais singular ao rock (contra cultural). Outras influências que se encontra nesses dois é a polca paraguaia e a guarânia, inclusive a rancheira mexicana! O que mesmo a gente encontra no rock nos anos 60? Blues, folk, música indiana... (Bossa nova, no caso dos Doors e blues cigano). Ainda há uma frase fantástica em outra canção dessa dupla, não consigo não achar divertido quando ouço: “Não pare esse baile gaitêro, se não é hoje que você vai deitar na fumaça!” Violento? Sim é, mas isso é completamente a oposição do flower Power dos hippies. Aliás, para não dizerem que eu não falei de flores, em uma outra canção dessa dupla de pistoleiros os instrumentos param de tocar repentinamente e um deles perguntam para uma mulher: “Você gosta de flores mulher?” E se ouve uma voz feminina e meiga que responde: “Adoro flores!”. Aí vem um “Bang “(de um revólver) acompanhado de um: “no seu velório vai estar cheio de flores!” Ao perguntar para minha mãe se ouviam esses caras e gostavam, ela respondeu: Claro que não! Era terminantemente proibido ouvir esses “cabeludos”! (mais risos). ”Isso era música de vagabundo sem futuro!” – Alguma semelhança ao que ouvimos de nossos pais em relação ao rock? Sinceramente, penso que ouvir rock é mais “educativo”, mas vejam, achamos os malditos do sertanejo! E põe maldito nisso! Se um roqueiro se atrever a gravar essas coisas hoje em dia, prontamente será perseguido. Nem o trash dos trashs metals mandam tão bem na maldição como esses caras! Outra canção : “se prepara bodegueiro, lá vai o braço!” – e tem gente que me fala de Matanza ainda... Se vocês me perguntarem se eles fizeram sucesso eu temo ter de responder que sim! Mas vamos seguir depois dos malditos para concluir o texto.
..... Como todos sabem, o grande boom do sertanejo foi os anos oitenta. Não preciso nem descrever o que aconteceu: Tinha mercado e gravadoras desesperadas procurando um produto para massificar! Os punks fizeram alguma algazarra, mas como mostra Gastão Moreira no documentário “Botinada”, uma campanha da rede globo (sempre ela...) aniquilou o levante – e óbvio, a imagem do rock e todos os seus gêneros não foi facilmente desvinculada a esse movimento! Muitos foram os que eram partidários do rock que perderam seus empregos, que foram perseguidos socialmente, mesmo não tendo nada a ver com o gênero punk. Ao mesmo tempo (80-90) surgiram os nomes que vocês ouvem todos os domingos: Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano, Leandro (finado) e Leonardo, Cristian e Ralf (que tentaram ser artistas solo no rock, mas foram convertidos da noite para o dia (?) para o sertanejo) , Gian e Giovani, João Paulo e Daniel, Batman e Robin (opa, esses são dos anos 50-60) e outros cuja a existência não fora comprovada ainda (risos), Alan e Aladin (um dos dois morreu extraindo um dente...), Chico Rey e Paraná, Roberta e Miranda (alguns dizem que era uma só, mas tenho lá minhas dúvidas), e por aí vai... Lembrei do Sergio Reis, mas ele é dos anos 70, mas aparece entre esses aí também nos anos oitenta e noventa. Para os que gostam de teorias conspiratórias, sinto desagradá-los, mas verdade seja dita, mesmo que o gênero sertanejo nunca tenha sido censurado pela ditadura militar (embora houvesse sim músicas de crítica política ao sistema vigente entre 64 e 85), os sertanejos não eram bem aceitos nos programas de t.v. e rádios. Eram tidos como iletrados e chulas – embora, como constatei antes, eles absorveram muitas vertentes de vários estilos e formas de se fazer música-, e assim, imagino que o primeiro programa de grande audiência sobre música sertaneja e em t.v. aberta veio no fim da ditadura militar (1986 –sbt). Portanto, arrisco afirmar que as acusações de um gênero musical que não cultua críticas políticas ser responsável do descaso político (nunca confundam quando eu digo política com partidarismos, com politicagem...) no país é um pouco de extremismo.
.....Para encerrar esse assunto, vou dizer-lhes o que percebi ser o sertanejo universitário: O resultado de uma história de um gênero musical que agora bebe na fonte da indústria cultural (o rock bebe da mesma fonte, podem acreditar) – ou seja -, simula ao mesmo tempo que é um estágio da cultura, melhor dito, ao mesmo tempo que simula ser um movimento cultural contemporâneo é um movimento – uma figura para pensarem: um cara que esta desesperadamente afim de uma mulher e simula estar a fim de outra forma (com um pouco de descaso) para forçá-la a mostrar suas intenções – nessa jogada, ela faz o mesmo (Stigler, filósofo contemporâneo, diz que a industrialização é um estágio da cultura e cultura sempre foi controle, então, juntamos a fome a vontade de comer...) . Acredito também ser o retrato mais fiel da atual forma de pensar niilista (modo de pensar niilista é uma contradição, pois pensar é sempre sobre algo e niilismo seria “nada”, ou seja, é uma forma de pensar em nada – vejam: como disse, em texto anterior no blog, “sair de casa para não pensar em nada, entreter-se”-, não me recorre aqui algo diferente de um círculo onde os extremos se tocam) tão bem difundida no Brasil – e no mundo. Para retratar da melhor forma possível, nada mais denunciador desse movimento do que uma letra que impulsiona o ouvinte a trair o parceiro (a), justificada na traição respectiva do parceiro – ao mesmo tempo em que gostaria de não ter sido traído e nem se sente vingado traindo. E se ainda não me fiz entender, vou apresentar a vocês o trecho que retirei do Wikipédia ao pesquisar Sertanejo universitário para encerrar o presente texto (vão lá e vejam com seus próprios olhos): “Por surgir após o segundo movimento sertanejo (o Sertanejo Romântico), esse estilo já não conta com letras tão regionais e situações vividas por caipiras (como o Sertanejo Raiz). Geralmente as músicas tratam de assuntos do Sertanejo Romântico da forma como os jovens veem (assuntos como sair com várias mulheres e traição)”.

“Como os jovens veem...” – Pensem nisso! Será que o rock não esta fazendo a mesma coisa?

r.A. –Agradeço aos membros da banda Elefante Branco por me provocarem as palavras! E a todos que leram esses dois textos gigantes.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Palhaços escravos em uma fábrica de robôs (Ou o artista enquanto gesto - Conceito de Agamben)

Nota: 1- Gostaria que lessem esse texto antes de lerem a segunda parte de “As picuinhas musicais dos jovens/velhos chapecoenses”- Acredito que o texto se fará mais compreensível nos seus pontos nodais. 2- Eu espero que esse texto seja curto (risos). 3- Não pude deixar de escrever esse texto, tomem ele como uma resposta a mim mesmo para minhas lamentações presentes no texto “Todos meus conhecidos tem sido campeões em tudo...” que esta nos textos do mês de setembro no presente blog. 4- Se possível, gostaria que lessem esse texto escutando (se não tiverem, coloquem tocar no youtube) a canção “Dumb”, do Nirvana. Recomendo também, a leitura da tradução da letra (caso a compreensão do inglês não for suficiente). 5- Chega de ladainha, né?

.....Então eu estava escorado na parede de um barracão abandonado, às 22:00hrs, próximo ao ponto de ônibus urbano da rua da academia Sport Center, academia essa que a uns dez anos eu iniciei meu treinamento em judô – Agora é só um lugar para se bombar o corpo a fim de sentir menos vergonha dele (embora a vergonha do corpo seja apenas mais uma das ideias fincadas na nossa cabeça pela grande mídia da causa da boa –pseudo- saúde). O que eu fazia lá? Fumava um cigarro, pensava, esperava a lotação com moedas contadas no bolso a fim de voltar para casa. Sobre o que eu pensava? Pensava sobre a arte, em específico sobre a música. Eu estava escorado em um portão de lata todo destruído. No chão havia dois sacos de lixos esparramados – um do meu lado direito e outro do meu lado esquerdo- (estava contracenando com a paisagem), no ponto da lotação, escorados, estavam alguns jovens e duas senhoras. Um dos jovens usava tênis allstar puído, jeans e uma flanela. Ele tropeçou e os outros riram. Eu ri também (foi aí que eu o notei). Aquela roupa, do tipo que eu usava no ensino médio... Estilo grunge. Uma moda acessível! Aquilo chegou até ali, Setembro de 2010, uma cidadezinha provinciana do interior tentando fazer pose de grande cidade. E eu, uma hora esperando o maldito ônibus Urbano. Uma saveiro passou vagarosamente, com o som extremamente alto, completamente distorcido – imaginei dentro do carro-, os garotos sentados no ponto de ônibus riram, ouvi alguém dizer: mas que babaca... E mais risos. Eu com umas moedas enroladas em um papel – que rasguei de um convite para uma apresentação de rock em um bar- a fim de não esparramá-las. Fumando o último cigarro de uma carteira que meu ex-professor de filosofia sentiu de me dar. Cinco reais e vinte e cinco centavos no bolso da mochila em frangalhos. Eu, vinte e três anos. Se você me perguntar alguma coisa sobre Nietzsche eu sei te responder! Se você quiser saber sobre o teatro grego, sobre as divindades gregas, especificamente sobre Dioniso (ou Dionísio, ou Baco), teremos assunto para uma noite. Se você me perguntar sobre a história da música, falaremos por alguns dias. Se me perguntar sobre Kurt Cobain ou Jim Morrison, creio que falaremos por um mês... Agora se você perguntar sobre mim... Haverá um longo silêncio – há silêncio agora enquanto escrevo sobre mim. A rua escura e suja, folhas de jornal bailando com o vento. E eu li no jornal um cara dizer que as pessoas saem de casa para se divertir, ouvir músicas que eles já conheciam, que não havia sentido fazer música própria... Eu ri. Quando deixaremos de ser presunçosos e estipular o que as pessoas querem ou não querem ouvir? Como é que você pode dizer que as pessoas querem ouvir música que já conhecem se você nem apresenta para elas coisas novas, novas preposições, novas possibilidades, novas formas de encarar sentimentos, novas angústias e novos sorrisos? Uma senhora arcada passou por mim puxando uma mala na mão direita (com rodinhas que emperravam por causa da sujeira das ruas) e com uma sacola na mão esquerda. Um olhar triste e desconfiado para mim. Seriam meus magníficos 110 kg distribuídos em 1,85 M. ou talvez meus cabelos espessos e revoltos no vento. Minha vestimenta negra da ponta do pé até o último fio de cabelo. Minha barba por fazer, ou melhor, ainda, seriam meus olhos vermelhos como sangue (a minha amada ceratocone que tanto amo... Que tanto arde nos meus olhos...)? Se eu fosse jornalista eu perguntaria: E aí meu amigo, essa senhora sofrida saiu para se divertir? Talvez ela esteja esperando uma música do The doors toda esculhambada... Ah, me poupe! “As pessoas querem...” O que é que nós temos na cabeça quando dizemos isso e proferimos uma sentença? Minhocas? O mais engraçado é que você pode substituir as reticências por aquilo que o cara que profere a frase esta fazendo. O que é que eu tenho a ver com o que as pessoas querem? Virei uma mercadoria? Não sou mais um ser humano? Não faço mais uso da arte para criar uma nova comunhão? Agora eu vou dizer para as pessoas (olhei para os garotos no ponto de ônibus): VOCÊS QUEREM O QUE EU TENHO AQUI PARA VOCÊS MEUS AMORES, VOCÊS SÃO LINDOS, MAS QUE LINDOS QUE VOCÊS SÃO!!! Tirei mais uma baforada do cigarro e ri no meu silêncio. Quanta falcatrua eu vejo por aí! Quanta tolice! Quando os artistas contemporâneos começaram a dizer que lata de sopa era obra de arte – nada novo para os índios navajos ou os que já habitavam aqui no Brasil (no sentido da comoção) – aparentemente faltou para alguns aspiras a artistas lerem o resto de todo o trecho... “Desde que esse elemento seja uma síntese e carregue todo o sangue do seu coração”. Se eu fizesse música para convencer os outros a ouvir estaria ferrado! Alguém poderia estar rindo agora e dizer: Também, com as músicas que você faz... uma droga! Eu replicaria: Faça uma você também! Experimenta cara! É outra coisa, consegue me entender? Quer uma analogia? Vou parir uma para você: Imagine que você quer transar com a sua namorada, mas você não sabe se ela vai gostar (se excitar) de ver você pelado, aí você chama o ex-namorado dela, porque ele você tem certeza que ela vai querer – ora, ela já quis... Provável que vá querer novamente! HAHAHAHA – Não é mais ou menos isso, ou eu extrapolei agora? Faz assim, de vagarinho você mostra a bunda – e o ex lá-, ai você mostra um pouco da barriga – e o ex lá -, você mostra aos pouquinhos – e o ex rindo da sua cara e lá...- Acaba o show e o ex gozou e agora é você que esta lá, escondido, encolhido, porque não tinha certeza se ela queria ou não ver você nu. Mas e o que sei eu? Vinte e três anos e cinco reais e vinte cinto centavos enrolados em um pedaço de papel para não perder as moedas. “Eu não sou como eles, mas posso fingir” acabei de ouvir Kurt recitar. Não estou com o som ligado, sabem, mas ele recitou aqui na minha cabeça. Nenhum de vocês vai poder chegar perto disso, nem vocês e nem eu! Isso era dele – continua sendo dele- e ele se foi, não é mesmo? Mas estamos vendo aqui em Chapecó (e região) uma carência de criatividade, de fazer parte da grande tradição cultural – que extravasa com a cultura - que é a arte, por isso o recurso mais usado é a reprodução. Presenciei um cara dizer para mim: O Black Sabbath tocava uma hora de Black sabbath, nós tocamos três horas de Black sabbath, entende?, nós tocamos mais do que o Black sabbath. AHAHAHAHAHA... Eu teria coragem para expor quem disse isso, mas não vou fazer pelo único e grande motivo que isso me causa pena! E se me causa pena eu acho covardia expor ele. Como é que essa gente embarca nessa? Eu me perguntei. A minha hipótese é simples: Os artistas tinham tradicionalmente o papel de apresentar suas obras para uma sociedade – mas não faziam isso pela sociedade em si, faziam a fim de renovar a cultura aniquilando a cultura estabelecida (Não confundam isso com atos anarquistas, são atos políticos sim! Mas não filiados a um tipo especifico de política) – mas como essa forma de fazer arte (ou melhor: A FORMA DE FAZER ARTE) caducou com os simuladores de arte – gente que simula ser artista!- plagiando os artistas estamos, agora, dando voltas. Vejam bem, aí caímos nesse círculo vicioso: Os simuladores de artistas ficam plagiando os artistas e os artistas se retiram de cena e restam apenas esses simuladores (pseudo-artistas). Eu queria ver os covers de Black sabbath plagiar o Ozzy agora, velho, enrugado, falando um monte de besteira- HAHAHA-, desculpem a ironia, é força do hábito. Se restam só simuladores a cultura não se renova, ela fica patinando, estagnada, e os problemas das mudanças dessa cultura perduram (pois a cultura não muda e assim não caem por terra antigos moralismos). Tem quem ache que isso não é grave, mas eu sou dos que acham que isso é grave! Chegamos à democracia neoliberal, e aqui, tudo é válido, todos podem fazer o que bem quiserem. Se um cara subir no palco e disser no microfone: Aí galera, quero que todos vocês vão se foder! É, se foder, vão tomar no cu! Eu não sei mais se vão aplaudir e rir, achar aquilo bacana ou se vão vaiar. Vejam, nos bailes funks brasileiro, os caras chamam as mulheres de cadelas e elas gostam (?), inclusive se vocês não se lembram eu os faço relembrar, um programa da tarde dominical insistiu por seis meses em mostrar caras falando essas coisas para mulheres e a câmera fazia um mergulho por baixo da saia de bailarinas para mostrar o mais próximo possível da vagina delas – Uma amiga psicóloga me contou ontem que isso continua a acontecer. Pergunto: Isso tudo tem ou não tem a ver com o que se tem feito enquanto arte nos últimos tempos? De fato, outra amiga, em uma boate, certa vez foi dizer para o segurança que um cara estava tocando nela. Ele respondeu: Você poderia não ter vindo de saia... E riu. Ora, o que é que esta mais correto: as mulheres usarem uma armadilha pega-urso (aquelas dos desenhos do pica-pau) por baixo da saia ou ensinar os homens a respeitar as mulheres? Me atrevo a chamar para uma discussão qualquer artista (e não artista) que disser que arte não tem um dever político/cultural e é apenas expressão. Na última bienal que fui, em Porto Alegre, assisti o registro de uma performance que consistia em um homem introduzindo a bandeira do Brasil no ânus (?). Em primeiro lugar, não me chocou, em segundo não me causou nenhum tipo de sentimento e nem se quer me fez pensar em algo... Foi somente aquilo – e estava lá, na bienal de Porto Alegre-, enquanto estava sentado em um banco na frente do Masp (que descobri que era uma obra) eu via ônibus saídos de Chapecó (da escola de arte, da unochapecó) trazendo jovens pretensos artistas para verem aquilo. Eu pensei: É isso a arte hoje? É para isso que estamos rumando? Alguém poderá me repreender dizendo: Sim, mas não causou nada em você, poderá causar em outras pessoas! Aí, eu responderia: Na boa, esquece um pouco os manuais de arte contemporânea que lhe socam guela abaixo. Estes possuem mais fugas para a arte do que proposições! Na referida bienal eu ouvi um registro poético de 1986 onde o artista dizia: “O que interessa na arte não é arte...” (o nome da obra é “interesere”). Hoje, quando lembro dessa frase eu ainda sinto um calafrio. Mas e agora, vocês acham que ser artista é ficar reproduzindo essa frase? Eu nem se quer sabia se queria ou não ouvir isso que ouvi... Mas ouvi. E olha que saí de casa para me divertir - hahahaha. Se vocês puderem assistir o documentário do Gastão Moreira “Botinada”, a história do punk no Brasil, verão uma coisa muito interessante; embora os músicos que acham que instrução musical é tudo digam: a vá, os punks eram uns analfabetos musicais! Os punks diziam somente o seguinte: Nós queríamos fazer a música que queríamos fazer e não tinha na época. Não queríamos ficar estudando música dez anos se com o que tínhamos já conseguíamos fazer e nos expressar suficientemente! Podia ser uma merda de uma barulheira, mas eles criaram aquilo... Vejo que o mais sujo e iletrado dos punks já colocam 90% do que esta sendo feito hoje em Chapecó no bolso. Quando alguém fala em Dionísio eu começo a rir, pois a criação artística provém de Apolo, os dionisíacos não criavam, não encenavam, eles viviam e se despedaçavam nessa vivência. Eu li em uma entrevista um cara falar que usava elementos dionisíacos na sua música... Eu ri muito disso! Nem se quer sobreviveria se usasse um pingo de elementos dionisíacos no palco! Nem Jim Morrison era dionisíaco – como adoram falar, um grande jargão clichê-, ele tentava manipular elementos dionisíacos – isso é a tragédia grega, mas a tragédia grega é apolínea, não dionisíaca. O que sugiro? Sugiro aos artistas lerem um pouco mais a respeito do que realmente estão fazendo e não ficar procurando frases de efeito para dar entrevistas – sugiro isso aos jornalistas também.
.....Giorgio Agamben no seu livro “Profanações”, parafraseando Michel Foucault, diz algo que vou traduzir mais ou menos assim: O que interessa saber se Albert King (Blues) usava cueca de seda ou calcinha fio dental? Isso não muda o seu blues! O artista, você compreende no gesto de sua arte e não na sua história individual! O que me interessa se Nietzsche tinha bigode, se Rimbaud era homossexual, ou se Van Gogh tinha um dente de ouro? Isso muda o que eles criaram? Na academia – falo agora da filosofia que estou cursando – filósofos marxistas não leem Heideggar porque ele foi Nazista... Que atraso isso significa para um filósofo! Mal posso expressar! Tem gente que não lê Kant porque Cioran impossibilitou à metafísica... Que grosseria! Difícil entender essas últimas frases, não é? E já pensou se eu digo que vocês são todos uns idiotas por não compreenderem isso? Hahahaha! Certamente eu seria mais idiota ainda! A diferença esta no seguinte: Eu me propus a fazer filosofia, então eu entendo de filosofia! O que eu espero é que quem se propôs a fazer arte entenda do que esta falando e fazendo! Ninguém desconstrói nada sem entender como a coisa é construída – grande aprendizado que tive de pintores abstratos! Portanto meus amigos, plagiadores, simuladores, são plagiadores e simuladores, não artistas! “Contenham as lágrimas”...
.....E eis que o ônibus aparece. Entulhado! Eu deixo que ele passe dessa vez... Decido esperar o próximo – cruzando os dedos para que apareça um próximo, afinal, eu saí para me divertir – quero aquilo que é previsível, não quero ser surpreendido!- (Risos). Mentira, eu decidi não pegar esse ônibus logo que vi que recuperei as palavras (encontrei as pessoas). Uma noite eu me debrucei na janela do meu quarto e olhei para a cidade. Vi que no céu se tapavam os horizontes tetos de fábricas. Conceituei fábricas e cheguei nas pessoas... Que gesto veio depois disso... Que gesto!

r.A. Ironicamente digo: Não negue o seio quando chegar a sua vez!

=> Agora vamos a continuação das picuinhas...