O
importante é desistir lentamente porque o problema é que não há problema algum –
a gente que é dramático. O tempo não é remédio para nada. Criatividade não é
solução.
De orgasmo em orgasmo se escala o amor.
Encapamos esse delírio com as melhores palavras que esses resmungos adestrados
foram capazes de produzir – vai ver é porque o tesão não suporta uma tarde de
domingo. Observar a bunda de alguém se apagando no horizonte, depois o pôr do
sol.
Um escritor não pode se perguntar sobre
o sentido da vida, pois se responde a pergunta primeira, é com palavras que se
revolve, nunca com a realidade. Essa coisa é suportável – repito –, a gente que
é dramático. Jogamos com as palavras, os termos são palavras cruzadas. De
oração em oração (subordinadas ou não) atiçamos nosso próprio demônio.
_Sei
lá.
Toda vez que alguém tentou me ensinar o
que é importante tive ataque de risos. Não acredito mais que conseguiremos
preencher o silêncio para nos salvar... daí que consigo ser feliz quando
calado. Só não quero ser salvo do silêncio. Todo dia é domingo. Entre o velório
de um e o nascimento de outro é uma choradeira sem fim: apegue-se aos pequenos
e belos detalhes da vida. “É importante”. Essas vitrolas, rapaz, me chutam no
saco.
_Só
me deixem quieto, por favor.
Me restou escrever, como se não
bastassem todos meus defeitos. Enquanto escrevo, vou enfeitando toda minha
desistência, colorindo meu abandono – de si. Ambição – jamais vou confessar! Se
a questão fosse ser feliz, poderíamos falar em otimismo e pessimismo. Porém,
nem dá para ser triste sempre. E o problema é que não há problema algum – a gente
que é dramático. Até Freud já li e não mudei de opinião: Sonho é o cocô da consciência.
Mas se a gente não caga, apodrece de dentro pra fora. “O mundo é um sonho” –
disse Buda. Tai que a diferença de Buda para Bunda é apenas uma consoante.
Nunca vi o Buda desaparecendo no horizonte... acho que não queria ver uma coisa
dessas. Sou muito apegado com consoantes.
Tenho uma lei, que para mim, é mais
verdadeira do que as leis de Newton. Segundo essa lei, sujeitos que escondem a
sujeira embaixo da gramática, não se sujeitaram a nada. Tudo uns bosta! O tempo
não me curou e se tenho sido criativo ao longo dos anos em que imitei o
silêncio escrevendo, é porque fui bom numa única coisa: Esconder o jogo.
Brincar com as regras.
E pensar que toda vez que encarei a
bunda de alguém, sempre me deparei com o horizonte – e foi lá que Rimbaud disse
que encontrou a eternidade. Penso que Rimbaud não assimilou direito à lição.
Era jovem demais quando desistiu. Eu não sou Outro – a gente é dramático
demais.
Existe vida antes da morte? Várias – e várias
mortes também. Os mestres em suicídio não conseguem dar aula inaugural! Como se
não bastasse morrer uma única vez, seguimos resistindo. (É que “resistir não é
resistir” – me segredou Mirisola; fudeu com minha ingenuidade). De bunda em
bunda mentindo o amor. Depois o pôr do sol.
r.A.
Para
Flademir Roberto Williges,
Paulo
Cesar Padilha,
Marcelo
Mirisola – melhoras pra ti.
Rodrigo
Inácio.
Fonte
da imagem: Blog Fabíola Cidral.
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