sábado, 28 de abril de 2012

Palavras, cigarros; vinho e fantasma


......Se a gente olhasse por trás das palavras não descobriríamos que elas são uma cortina vermelha que oculta o cadáver de um monstro se decompondo? Não nos sentiríamos desconfortáveis pousando o olho neste nada que sustenta nossas vidas? Não daríamos uma gargalhada comportada -“hohohoho”- e diríamos para qualquer desconhecido que passasse:_ está vendo, não há sombra alguma!... não seria assim? E o desconhecido andante não seria nós mesmos diante do espelho segurando uma espingarda? Ah, como a vida é bela e a carne continua doendo. “Fique atrás do homem que atira e na frente do que defeca. Assim se livra das balas e da merda”.

......Outro dia, caro Hemingway, olhei meus olhos no espelho e eu era Santiago com minha faca partida depois de brigar com um bando de tubarões. Mas não prometi nem um “pai nosso” e nenhuma “ave Maria” embora teria sido um espetáculo minha voz rezando, os anos cantando blues teriam servido como um doloroso ensaio. Mas não aconteceu. Você acha que ainda vai acontecer? Também penso que não. Com o acumulo de bofetadas que vamos levando da vida, no decorrer de nossa história, algo em nós vai enrijecendo como aço. Porém, em um outro lugar do ser, vamos amolecendo parecendo pudim - muitas vezes, sem nos darmos conta. Mas você sabe disso, melhor do que eu, já que completo meus vinte e poucos e você é um cadáver. E nossa força- me disse um mendigo numa noite dessas- vira fraqueza; e nossa fraqueza... me vê um cigarro?

......[Longo momento de silêncio]Então a vida humana é uma questão de poesia, muito mais do que de ética. Mas as pessoas continuam insistindo em ética e política, deixando a poesia ao encargo dos “incapazes”- para não dizer: covardões! Um putão colombiano fala em derrubar muros – exceto o de sua mansão na Itália- e os intelectualóides o proclamam “marginal”. Seria um marginal mesmo, no sentido de alguém que da margem manipula os desavisados. E em ambos os casos somos seduzidos pela palavra – e o monstro continua apodrecendo por trás dos panos, revelando o fedor da decomposição... Com falta de sorte, seremos (alguns poucos de nós) menos ridículos e quanto a eles: “poderão suas mulheres tê-los traído, mas ridículos nunca!”... esses príncipes, nossos irmãos! A propósito, meu amigo, você acredita nos muros? Se seu resmungo sinaliza um “não”, então o próximo show não será cobrado, já que o muro – The wall, yé (na festa do burro gritavam IÁ)!- separa os pagantes dos não pagantes. Pudera que a poesia antecipasse a ação...

......Tenha um bom resto de madrugada e “descanse em guerra”.





r.A.

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