terça-feira, 24 de abril de 2012

...por trás da face



......Em geral as pessoas são desesperadas, mas lhes ensinaram algumas vezes – na escola, na igreja, na universidade, em cursinhos técnicos, na família, entre os “amigos”-que é falta de educação demonstrar. Aí elas recalcam. Se alguém titubeia lá vem um outro e diz: a-rá! Tu é depressivo! Como se saboreasse cada palavra da acusação. E saboreia, acredite, como se fosse um prato raro. Mas não é. Saborear a desgraça do próximo é saborear apenas vômito. É porque existe o recalque que existe, na maioria das vezes, a repressão (Lacan). Não, não é ocontrário! Quanto a mim, admiro muito mais os desesperados do que os seguros de-si mesmos. Se tenho um motivo? Claro! E é banal, mas é meu: pessoas seguras de si mentem. A questão nem é que mentem, é que parecem idiotas fazendo isso. No fundo, todos nós somos idiotas, mas uns admitem e outros negam. Ninguém quer parecer idiota, muitos me dizem. Por isso que poucos querem tornar-se o que são, eu replico. Já faz algum tempo que quando estou no meio de muitas pessoas penso em pavilhões psiquiátricos, presídios ou zoológicos. Uma "boa parte" nega o momento – por não estar à altura do momento – delirando com dias melhores. E termino por acreditar (logo eu que acredito com pouca frequência...) que justamente esta negação do momento que nos torna indiferentes tagarelas,falando sobre nuvens e dizendo que no futuro passearemos pisando sobre elas. Mas aqui entre nós, ainda desejamos. O futuro? Não. "Desejamos" e isso sempre foi um começo! Desejar é um desespero bastante concreto e real. Você nunca parou para pensar que desesperar é “des-esperar”, não esperar mais? E por isso sonhar não é “sonhar com...” mas simplesmente sonhar, “potência de sonho”. Poder sonhar e ,inclusive, poder dizer não para o sonho (Agamben e Aristóteles [em sua compreensão de potência, no caso]) – “quem não consegue dizer não é viciado!”(nesta eu assumo toda responsabilidade). Quanto espanto o escriturário Bartleby(Livro de Melville) provocava com seu “Prefiro não fazer!”. Inadmissível para aqueles que só conseguiam “sonhar com...” e não simplesmente sonhar.Inadmissível para aqueles que só conseguem “desejar aquilo...” e não simplesmente estar à altura de seu momento, simplesmente apoderando-se da potência(possibilidade), o poder de afirmar decididamente o “não! Prefiro ficar aqui,apenas parado – mas aqui, não em outro lugar”. Para aqueles que defendem uma noção única de vida como movimento acreditam piamente que o individual é uma catástrofe- um escarro do social. Baseado nisso dou gargalhadas quando alguém das ciências humanas usa o termo “modernidade cartesiana” – não conseguem perceber o que o filósofo René Descartes nos deu de presente! Mas vou pular daqui, não vou explicar minha gargalhada. “Prefiro não fazer e ainda assim, continuar o texto”.



......Samsa, metamorfoseado em barata (livro de Kafka), morreu porque chegou o momento do “Samsa-barata” morrer! Situação sem saída? Ora, morrer é sem saída! Ele não morreu porque era uma barata, mas porque era um ser que morreria de qualquer maneira! Ele, Samsa, compreendeu que não conseguiria (plenamente) comunicar o que era de sua intenção – como nós, raramente conseguimos e raramente nos damos conta que uma comunicação depende do desejo e “abertura” do outro – pode haver aí o perfazimento de uma tragédia, mas cá entre nós, a vida não é trágica? O “Deus ex machina” não é o fato de morrer, imagino, é o fato de não poder comunicar com mais detalhes sua vida. Os familiares de Samsa, foram comunicados de algo... houve comunicação... várias... é só prestar atenção. Ou melhor, é só não prestar tanta atenção, é só distrair-se diante de um ser (“sentir é estar distraído” F.Pessoa). A linguagem é uma espécie de prostituta que “profissionalmente” aceita qualquer cliente, mas cobra o seu preço. E você (sentado na janela esperando a mensagem de um rei morto- outra metáfora de Kafka), ainda não quer pagar?- só em outra vida camarada! E talvez...! Se as pessoas não se lembram, eu posso fazê-las lembrar da voz de Fante (livro: Pergunte ao pó) por trás da persona de Arturo Bandini: “Aqui está você, arrastando-se ao longo dos dias, um gênio passando fome, fiel a sua sagrada vocação. Que coragem você possuí!”.



......Quanto a mim (que uso o “mim” por uma questão de estilo, do contrário diria EU), não me venham mais com historicismo e catalogações psico-sociais (quando forem catalogações...)– pois sou dos que “entendem” e não dos que “compreendem”- e tenho Rimbaud gritando do mais profundo inferno que “fosse quem fosse no século passado, não dou comigo senão hoje”, afirmo minha “singularidade incalculável” e aceito para mim a filosofia como Nietzsche a aceitava – nem que  louco -: “A filosofia como até agora a entendi e vivi, é a vida voluntária no meio do gelo e nas altas montanhas a procura de tudo o que é estranho e problemático na existência, de tudo quanto foi banido até agora pela moral”. E para finalizar, tomando Cioran como meio e não como fim, a última coisa que prometo é contribuir – sobretudo – para um mundo melhor.
E fim de papo.






r.A. - FILÓSOFO.

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