quarta-feira, 13 de junho de 2012

Crimes e ursinhos lmtda e um louco que arde na loucura!


“Começou como se fosse um erro”.

...... É assim que começa o primeiro romance do escritor Henry Charles Bukowski e foi assim que começou esse blog e talvez minha própria existência... Hoje pela madrugada – lá pelas 4 horas-, não conseguindo dormir resolvi levantar esta enorme carcaça e fumar um cigarro na sacada do apartamento. Pensava intensamente, como em outras situações, como vim parar aqui e com isso tudo acontecendo em torno de mim. Se me dissessem, um ano atrás, que estaria em São Paulo, vencedor de um concurso nacional de contos, com um artigo na USP para ser defendido e com portas se abrindo para minha banda (ou duo) – Sodoma H.- eu cantaria um trecho de uma música da banda punk “Os replicantes”: A minha casa era um canto no porão e meu destino era morrer na escuridão! Mas começou como se fosse um erro. Eu encontrei um livro na biblioteca da escola. Schopenhauer. E aqueles dias eram dias em que olhava para o mundo e ele não me dizia nada! Cursava o primeiro ano do ensino médio e ficava maluco com o fato dos professores não me darem nada para pensar... Então era isso! Eu era um cara fodido com uma história fodida, as poucas coisas que tinha vieram de fracassos dolorosos e a melhor frase que encontrei foi “o mundo é feito de dor e morte”. Muito tempo se passou até que constatasse que uma vez que o fundamento do mundo era dor e morte, tudo que construímos só se mantem de pé se esquecermos do fundamento... e o corvo empoleirado na janela (poema de Edgar Alan Poe) só sabe dizer “NEVER MORE” (nunca mais).

......Assim a minha vida é o “blues note”, aquela nota maluca no meio da escala “penta tônica do blues”. Ela aparece mediante a sua noção sentimental de que é preciso “inventar” essa nota para que a escala atinja alguma harmonia! É como se fosse um erro, mas se torna um obscuro acerto. Para mim o jazz nunca será tão perigoso quanto o blues! E se você quiser me perguntar o motivo “venha como você é” (Come as you are), mas não esqueça de trazer uma garrafa de conhaque.

......A filosofia é a tradição de pensamento mais arrebentada que o mundo já viu – e pariu. Todos os nomes que figuram nesta tradição são marginais! Todos – de Heráclito à Cioran- pagam com suas existências a dor de um exílio, “o não pertencer a isso ou aquilo”, e só depois de destruídos em uma existência que arde na loucura alguém de fora diz: Quem sabe esse fodido tinha lá alguma razão (o segredo é que ter razão não nos importa...)... Schopenhauer, já com o pé na cova, repreendia seu cachorro em público – quando este mostrava as presas para alguém- dizendo:_ QUIETO HUMANO! => Numa madrugada regada na cerveja e na reconciliação com um amigo caro, cuja amizade pude por à prova (pois meus verdadeiros amigos são aqueles que já cruzaram espadas comigo e quem é meu amigo sabe disso...) antes de me erguer cambaleante da cadeira disse:_... mas fique você sabendo que vivo bem com a filosofia! E o que esse amigo pensou desta frase nem sei, pois realmente nem eu sei! Mas é só isso AND NOTHING MORE!

......Quando o sol nasceu, eu estava lá. Não o saudei com orações, obviamente. Aliás, brandi o punho desafiador para ele! Disse:_ era isso a vida? Pois bem, quero uma dose dupla e sem gelo! E o vizinho respondeu:_ esse maldito filósofo outra vez provocando Deus! Quanto a mim, não pude conter um sorriso no meu rosto. Ando vagarosamente pelas ruas sujas de São Paulo, embriagado de vida e morte, mas sinto que existe uma chama negra ardendo em mim! Quão patético é alguém julgar que a filosofia é uma escolástica – mera disciplina da história das ideias. Eu arranco conhecimento de situações e não de livros! O livro é uma palavra morta – já disse Sócrates (talvez disse...), o que importa é o “blues note” que arranco desta tradição. Filósofo para mim é quem vive como um filósofo e não quem estuda filosofia! Quem será que o Tales de Mileto estudava quando caiu num buraco?- É sério que você leu Nietzsche? Então guarde para si, pode ser que este conhecimento interiorizado te exploda e daí você terá alguma coisa para falar de filosofia. Mas se você apenas leu... na boa, vá montar um movimento. Salve o mundo, apesar de mim.

......Hoje, não estou longe do lugar onde nasci. Nasci no meu joelho, quando meteram seis pinos de platina nele – depois de dez anos lutando Judô. Nasci quando roubei um livro do Schopenhauer, pelo motivo que pensava que era uma perda de tempo para o livro ficar juntando poeira dentro de uma biblioteca. Nasci quando numa aula de estatística na universidade o amigo “Tonho” me respondeu uma pergunta sobre teoria musical:_Você me perguntou quando se usa a “blues note”? Não se preocupe, você vai descobrir... essas coisas não se ensina! Nasci quando minha mãe me ligou e disse:_filho, acho que sua irmã não está bem! Nasci quando um amigo e professor me disse:_acho que você deve voltar para casa e aprender a escrever! Quando disse para mim mesmo:_ Foda-se essa gente que acha que é preciso ser especialista para dizer alguma coisa sobre isso tudo! Quando andei quatro horas de metrô para ir trabalhar! Quando André Romanoski disse:_acho que podemos montar a Sodoma H., quando foi demitido de uma mecânica em Balneário Camburiu e fiquei com vergonha por não conseguir dinheiro para ajudar em casa (com onze anos de idade)!, quando chorei escrevendo isso, quando aprendi a nascer de mim mesmo e de todas as situações, quando amei e fui amado, quando fracassei e não quando venci, nasci agora pouco, você não viu? Me fale mais de contextualização histórica enquanto me acabo de rir da sua cara!

...... Comecei como se fosse um erro e não me interessa mais se acertei! Hoje tem gente que recebe tapinha nas costas criticando este blog e eu penso: que bom que você conseguiu os parabéns, pelo menos fui um degrau para algo e você não receberia esse tapinha nas costas se eu não escrevesse o que escrevo! Quem enche a boca para me criticar está simplesmente transbordando de mim! Eu o penetrei, fui uma espécie de estupro sem querer (clic, piscadinha de olho). Você pode ler todos os textos deste blog e eu não estou contido em nenhuma contextualização já que minha escrita fluí e não se ocupa de levantar dados – e nem por isso é menos ou mais verdadeira. Ontem uma amiga, professora de história, disse:_ depois da nossa última conversa e de ler o seu blog, percebi que não sei se consigo descrever um fato... mesmo tendo me ocupado disso já faz tantos anos, agora fico pensando... “calma aí, você está entrando na filosofia”... Respondi:_ Olha, você não está entrando na filosofia. Está começando a entrar na história enquanto vigor de pensamento. Você só entra na filosofia quando ela entra em você, você não escolhe isso- conscientemente!

...... Hoje, lá pelas 4 horas, percebi que comecei como se fosse um erro e por isso sigo errante por aí... Olhei para esse blog e foi uma das poucas vezes que senti que um dia acertei.







r.A.



Nota: Se você mora no velho oeste e pensa assim:_ porra, o cara precisa falar que está em São Paulo? Saiba que se eu escrevi é porque preciso, sua anta! Hahaha.

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