sábado, 23 de julho de 2011

Tchau Amy?

.....O som e a palavra, muitas vezes o encontro entre duas fagulhas poéticas! Para não sufocarmos o traço mais potente de nossa singularidade nos livremos de aspectos históricos – que nesse momento, falando do que falamos, não passa de mera informação de calendário! Do que é, hoje se vai uma parte. Outro do clube dos 27? Os empáticos demais? Rasgados pela condenação meta-biológica, meta-psicológica, metá-física, sempre meta, sempre para além... e umas reticências... Que que importa? Manchas de nossos fluídos – alguém queima e arde em público e o povo quer um pedaço dessa carne frita! Nietzsche disse que a marcha da humanidade é puxada pelos grandes da espécie, o resto, megalomania: narrativa (pseudo) absoluta da espécie.

.....Uma noite, após uma aula medíocre na universidade, sentei na mesa do bar esperando um amigo – dos poucos que graças aos deuses, tenho. E vi na capa de uma revista Amy Winne House. Jornalistas de plantão, olhos esbugalhados para sugar de relance os que têm talento – assim suprindo em um artigo de revista a ausência de talento destes- falando sobre os problemas de Winne com bebidas e drogas. Seria isso e nada mais? Sorte dos que não são reféns da história! “Continuarás hiena, etc.” Quando a ela, enquanto eu estava trancado em um quarto de dois por nada, embalava minhas noites de insônia. Seria isso e nada mais? Meta e umas reticências!

.....Outra noite, 10min antes de subir ao palco para outro show da Sodoma H., Murilo (The Sulky) me diz: “Minha família queria me internar e eu disse não não não!”. E rimos. Olhei para o telão da casa em que iria tocar: Lá estava ela. Bebericando e cantando! Na minha cabeça, dediquei os dois primeiros poemas para ela.

.....Seguimos atravessando, na melhor das hipóteses, o poema com o som, o som com o poema, e nossos demônios saltam fora de nosso corpo, sapateiam pelo palco. Às vezes nos chutam, às vezes nos fazem chorar, gritar, parar no tempo, golpear o espaço, sem chance para a matéria, saltam no público, o público suporta quando lhes dá, jogam de volta, os demônios se multiplicam no palco, tentam nos esgoelar, a reza não tem vez nessa dança de xamã, nesse ritual pagão, sacralizar o profano, profanar ... profanar... profanar... Outra vez! É tentar não estourar, tentar, por vezes não conseguir... Tentar se recompor, tentar, por vezes não conseguir... É pedaços! Um tipo de música que gostaria de ser “profissional”, por vezes, mas não dá... Demônios não respeitam burocracias humanas – nem roteiro, nem método, nem narrativas!

..... Agora, bem, a hipótese é que ela se foi. O tempo todo se despediu e poucos tiveram a sensibilidade para captar. Penso que entendo algo de sua “alma”, não racionalmente, óbvio, mas algo desta linguagem universal – que Rimbaud previa-, uma linguagem de alquimia, verbos com cores e sabores. Como vi Iggy Pop em uma entrevista dizer, grandes músicas estão no ar e o músico esperto captura, nem espero que alguém mais entenda.

.....Tchau Amy, suportou 27 anos. É bastante para sua sensibilidade! Mais do que a história pode registrar e buscar compreender. Meta e umas reticências...

r.A.

Nota: Ao som de "Back To Black".

Um comentário:

dide disse...

Daqui uns 30 anos o Serguei vai dar uma entrevista para o Jo Soares falando que comeu essa a Amy...