terça-feira, 19 de julho de 2011

Os especialistas: Manual do Sucesso!

“Ele não tinha nenhuma pretensão a sábio e pronunciara a frase para começar a se desculpar; mas quando viu aquela enxurrada de saber, de títulos, a sobrenadar em águas tão furiosas, perdeu o fio do pensamento, a fala, as ideias e nada mais soube nem pôde dizer.” *

..... Há coisas suportáveis, por exemplo: quase nada! E esse quase nada não incluí pessoas – muitas, digo. Em Cioran vi o alerta: cuidado com os religiosos do “eu”. Aqueles que convertem a si mesmos em religião. Os especiais, sabem? Aqueles do tipo “tarados”, que impossibilitados de se masturbar em público – de fato – passam a disfarçar em escrita ou blábláblá de mesa de bar. Espécies, não muito raras, de Jesus Cristo de sua própria narrativa! Escutá-los ou ler estes, é uma odisséia. Uma narrativa de grandes feitos. E eles nem ocultam isso! Em suas “coisinhas”, “ficções com a boca”, “estalar repugnante da língua”, “eu, eu, eu, eu , eu, e mais EU”, como dizia, em suas “coisinhas”, se esforçam mais do que o titã Sísifo (que empurrava uma rocha ladeira acima) para convencer os fiéis (da religião de seus egos) que são o caminho, a verdade e a vida. Aleluia! Pena que o alerta de Cioran veio tarde! Poderia ter me convertido em objeto mais cedo. Mas como me recordo de já ter dito (infelizmente): _nunca é tarde quando já é tarde demais! – Retórico? Sim, me dou ao luxo de minha própria patetice.

.....Esquecer faz parte da consciência? Oh, parece que sim! Esquecendo do fracasso inerente ao ser, alguém rapidamente deseja se converter em herói. Podemos observar os lapsos de “ingenuidade” forçada. “ELOGIAR E INCLUIR-SE!” Em outras palavras: “Manual do Sucesso”. Coisinha de gente cheia de gás! Talvez cheios de gases... Peidorrentos do tagarelar! E como isso funciona? “_AH! (esse ah é de gozo, ok?) Meu amigo! Você é tão importante nesse nosso meio! E eu estou do seu lado... Vê? Sou importante, assim como você, assim como toda a narrativa absoluta da espécie! É sim, é sim! Li livros que concordam comigo, contigo, conosco! LOGO, somos o sucesso encarnado! Somos especialistas, somos especiais, nós, vós, eles? Não! Eles não! Nós e vós!” E os elogiados, menos hábeis e estrategistas, na sequência, embalam o refrão (típico de platéias de auditório): Sim! Sim! Você tens a razão que nos faltava! Eis a boa nova! Somos especiais, somos especialistas! Estamos na narrativa absoluta! E rapidamente se tornam adeptos do novo Jesus. Aleluia! Pouco importa se essa nova santidade seja apenas destinada a um fanatismo local. De uma pequena cidadezinha. Ignora às verdades que doem. Dissimula verdades suportáveis – às adéqua na inversão – dizendo: Sou necessário, ao invés de inútil. Vitorioso, ao invés de fracassado. Inteligente, ao invés de masturbador. Etc. Tenho trabalho por fazer? NUNCA! Já sou completo! Sou lei! Aleluia! Amém!

.....Dá para aprender algo com isso... Rir. Você senta, abre uma cerveja, acende um cigarro, observa e ri. É melhor que circo! Pois no circo, os palhaços representam (quase) seguros do heteros-autos. E estes fanáticos locais, como formigas, andam em fila e chocam às anteninhas. É cômico. Acreditam! E o mundo continua conspirando contra eles: Ô DÓ! Não se preocupem meus amigos, até o cocô do cachorro e o mijo do gato têm seu lugar na sociedade. Agitam os sapatos – a gente desvia para não pisar.

“_ O major, hoje, parece que tem uma ideia, um pensamento muito forte.

_Tenho, filho, não de hoje, mas de há muito tempo.

_É bom pensar, sonhar consola.

_Consola, talvez; mas faz-nos também diferentes dos outros, cava abismos entre os homens... ”*

* Triste fim de Policarpo Quaresma – Lima Barreto

r.A.

Um comentário:

Janete Maria Gaio disse...

do pouco que tenho, ainda o uso o juízo... hehe

Estás escrevendo bastante! Gostei dos teus textos! Parabéns!

:D