sexta-feira, 21 de maio de 2010

Dias de Fausto em Chapecó


........ Com tanto por fazer nessa nossa existência sem sentido (dado exteriormente), de que forma conseguimos sentar uns sobre as cabeças dos outros, forçando o olhar, e dizer que não há nada mais a fazer “a não ser” ouvir os velhos discos de trinta anos atrás, tal como ler condenados ao peso do saber humano, os poemas daqueles que cuspiam palavras (reproduzir é como juntar o cuspe das páginas para escarrar novamente) - dizendo que aqueles caras sim sabiam viver- bebericar em bares detalhando o relatório de nosso cotidiano? Se essa questão é pertinente ou não fica a critério de cada um, mas dou-lhes a dica de olhar para “a galera” nos bares de Chapecó (... sim, eu sei que quase nem vale o esforço...) e reconsiderar a questão. É o caso de uma sociedade em decadência ou de homens e mulheres como medo de SER?
........ Para cada grupo que urra a plenos pulmões- e chamam isso de riso- é possível sentir o cheiro de uma impotência latente que eles adotam como uma estimação intrínseca!
........ Poderiam ser essas apenas reflexões de um aborrecido (mas um aborrecido digno de viver em uma ilha cercada por ostras) - e eu aceito isso, não me sinto de forma alguma ofendido com uma acusação dessas- mas e como não se aborrecer ao observar as pessoas nos bares ao mesmo tempo em que se teme manchar a roupa com a baba que escorre das bocas dessas pessoas de lábios molengas- tremendo- análogos a pudins?
........ É óbvio que não temos mais jovens bêbados como antigamente. Os jovens bêbados de antigamente tinham um pouco de “feras” contidos em si para gastar! Os de hoje bebem e florescem como rosas murchas e tímidas (isso quando não se mijam e choram por um amor que perderam...). Seria o problema da bebida que não faz mais efeitos devastadores? Ora meus queridos, é preciso ter um certo “talento construído e talhado na rocha” antes de se meter com a nobre cerveja (e o mesmo vale para o vinho, para a vodka e o whisky)! Uma cadela que bebe tende vir a ser uma cadela bêbada, um pistoleiro que bebe - após o oitavo copo- tem lá seu charme.
....... Um artista lá dos anos 60/70 dizia que no futuro todos terão seus sagrados 15 min de fama. Eu concordo (com esse cuspe), mas reformulo a frase: Em Chapecó, hoje em dia, todos tem seus dias de Faustão! Sim, aquele cara insuportável com trocadilhos infelizes que ri forçadamente até de uma banana. Às vezes tenho até a impressão que estou vendo uma cidade onde todos são Faustão. Uns com camisetas de bandas dedilhando guitarras, outros com skates fincados no sovaco, outros comentando os discos do Ozzy, uns falando de política e outros ainda simplesmente lá... Faustões introspectivos. Em silêncio, meditando sobre a próxima atração... Inclusive, dia desses, um cara em uma saveiro com sertanejo a todo volume passou por mim e disse: Ô LOCO MEU!- ostentei meu dedo do meio para ele e ele disse: ORRA...hihihihi...O CARA ME MANDOU TOMAR NO CAÇULINHA!
....... Fica então essa questão: O que fazer sobre isso? Tenho uma resposta para os que estão interessados em sabotar o modelo imposto aí. Primeiro temos a responsabilidade social (digamos) de educar nossos jovens pré- Bar (Rimbaud e Baudelaire são indispensáveis em qualquer ementa - Aos mais avançados indica-se Bukowski). A antropologia foi amplamente estudada, como sabemos, mas não se deteve em um ponto fundamental: As culturas indígenas educavam seus jovens para se entorpecer em uma continuidade mística! Em outras palavras, digamos que a educação ou instrução pré-Bar que data de milênios na história da humanidade foi perdida mesmo com todos os avanços tecnológicos e industriais. Sim, esse é o caso de uma retomada do projeto. Podem ter certeza, depois disso (e disso somos capazes, vejam como avançamos no projeto educacional anti- analfabetismo... Ainda temos advogados, bancários e psicólogos, mas não podemos fazer tantos milagres assim) o bar será um lugar mais feliz, mais atrativo, e melhor ainda: o bar vai voltar a ser um templo da criatividade feroz! Se isso não é suficiente, lembrem-se que no bar começou o blues, o rock, o jazz, a filosofia (a que não é inútil), a arte e a literatura que não dá sono - historiadores sérios, mediante pesquisas intensas, registram que o Emo não começou no bar e sim no salão de beleza unissex, portanto não há lado ruim do bar. Este é um pequeno passo, mas é possível fazermos isso imediatamente. Outra medida possível a ser tomada é aposentar o Ozzy... Mas isso requer outro longo texto. Podemos também preparar um longo relatório escrito a mão sobre nosso dia antes de ir para o bar. Entregamos no balcão do bar, devidamente nomeado. Aí, se alguém estiver interessado em saber como foi nosso dia, é só retirar no balcão o relatório. Chega ser fantástica essa ideia (certamente irei patentear e já digo porque...). Uma vez adotado esse método, esse método será superior a psicanálise, já que o sujeito além de melhorar a escrita (e sabemos também que quem bem escreve, bem se expressa) pode fazer uma análise sobre seu próprio cotidiano na leitura. O outro interessado pode, além de praticar a leitura fazendo, inclusive, correções, pode também acrescentar comentários, críticas, indicações de leitura, filmes discos -sabendo que o Ozzy está aposentado- e o melhor de tudo: Podemos deixar a conversa no bar muito mais proveitosa e construtiva já que a catarse do trivial já foi devidamente eliminada. Programas de incentivo podem ser adotados, por exemplo: “O mais fodido da semana”, ou “O mais interessante”, prêmios atribuídos mediante demanda (um crédito de trinta reais no bar), enfim, isso são coisas a serem pensadas ainda. Mas tomemos consciência que isso tudo tem de funcionar antes ou após o sagrado momento da mesa do bar. Assim estaremos assegurados contra o tédio.
....... Uma vez posta em prática à proposta veremos a erradicação gradual dos dias de Fausto em Chapecó. Saudaremos o inicio de bêbados mais humanos e sérios, todos implicados com uma causa nobre - a renovação juvenil e cultural na dita cidade-, logo se desmanchara a massa disforme e alienada de si dando lugar a intelectuais propositivos, críticos e que não deixam suas singularidades resvalarem pelos dedos. Não mais será pertinente a questão que coloquei no inicio do texto e que acredito que muitos, no atravessar de noites frias, se fazem.

r.A.

4 comentários:

Anônimo disse...

Também tive a incrível experiência de ouvir um babaca gritando ô loco meu! de uma saveiro com sertanejo a todo volume. Provavelmente o mesmo. Não que eu não haja como uma bacaca, bêbada ou não. Mas enfim...

Animais terrestres disse...

Eu acho que eu sei quem é o cara, um loiro de topete, calça apertada e atolada na bunda, com cintinha de couro preta e corentinha imitando "ouro"....

Anônimo disse...

utopia de bêbado filósofo!! hehe! acho que tu tá querendo montar um 'bar filosófico'..

ei.. rodrigon.. que tal uma conversa num bar? tu leva tua ibanez que eu levo um livro do jabor para torturarmos as pessoas lendo aos acordes da guita.. que me diz?!

rá!

r.A. disse...

Leva um Mirizola! Hehehe - Utopias de filósofo de bar... Gostei dessa! Hehehehe... Acho que vou mudar o nome do blog... Hehehe...

I (CORAÇÃOZINHO) IBANEZ!