quinta-feira, 14 de maio de 2015

Péssimas influências e chega de Dostoi-Yeah!-vski



         Estava no táxi. Pensando na minha vida e fazendo “aham” para as observações de Zé não-sei-o-que. Exceto pela possibilidade de alguma mulher ter feito bruxaria para mim, não sei como justificar que cheguei ao fundo do poço – e continuo afundando. “Eu sou ateu, essas coisas só pegam em quem acredita”, justifico para meu pensamento. Não se fazem mais espíritos do mal como antigamente. Cadê a honestidade de seguir as regras? Cadê a beleza dos duelos ao pôr do sol?
         Sofri péssimas influências minha vida toda. Todos – sem exceção – me obrigaram a suportar. Suportei todo tipo de merda e todo tipo de filho da puta, esses anos todos. Não dei nem um pio. Sinto inveja do meu pai, que nunca precisou de razão para mandar alguém tomar no cu. Mas ele também foi uma péssima influência para mim: faça o que digo, mas não faça o que eu faço.
_E tome no cu, também.
O inconveniente de ser obediente.
         Quero reclamar do seguinte. Eu sei – infelizmente – que não vou mudar. Vou continuar fiel para com todas as péssimas influências que sofri. Já não posso mais ler Memórias do subsolo (Dostoi –Yeah! -vski) sem sentir profunda empatia pelo narrador idiota. E meu destino, imagino, será o mesmo de Gregor Samsa (A metamorfose – Kafka). Vou acabar na janela. Será assim. As ciganas acenam positivamente.
         Achava que iria produzir literatura. Juro. Me preparava para escrever com uma enorme qualidade. Sabe o que aconteceu? Me encolhi. Tipo uma cadelona que caiu do caminhão de mudança e agora só sabe rosnar. Nomeei minhas pulgas e meus bernes. É meu principal passatempo nessas noites solitárias e insones.  
         Além de me sentir ridículo, hoje, quero pedir licença para fazer uma Apologia (que eu acho que será breve).
         Enquanto me acabo na janela e as maldições me balançam de um lado para outro (como um João Bobo), tenho comigo que nunca fui vítima. Mas também não fui cúmplice. Tive a decência cavalheiresca de não participar da piora de tudo que me cerca – mas ninguém notou. Ganhei só uns poucos prêmios literários mesmo sem ter publicado nem a orelha de um livro – tem uns por aí que já são renomados e atingiram a imortalidade em vida, sem ter ganhado um concurso de redação na escola: me mijo todo de inveja! Tipo cadelona quando vê o dono.  
         Fui beliscado por dez ciganas radioativas – em pontos estratégicos - e os poderes delas saltaram todos no meu coração peludo. Daí meus dotes proféticos, sacou?
         Veja. Enquanto penso na minha vida e assovio das profundezas de meu poço, suportando, não tenho vergonha. Eu poderia ser pior, e, serei. Deu para suicidar, depois de muitos exercícios, essa procura infindável por tapinhas nas costas. Enquanto uns e outros estão gozando no glamour – vou encerrar a apologia com essa frase -, eu ainda estou aprendendo. Me basta.
_Concorda comigo, Zé não-sei-o-que ?
_O Sr. Vai dar gorjeta pela corrida?
_Talvez...
_Então, talvez eu concorde!
         Sabe quando você percebe que chegou na maturidade e se responsabiliza pelo que faz em arte? Eu também não, mas adivinho.


r.A.


ps. Chega de Dostoi-Yeah!-viski. Mas de Dostoiévski, não. 

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