Tudo bem, já sabemos que o “eu” quando não
é uma ficção é uma reação (quase alérgica) ao coletivo. Entre essa máscara
trincada que usamos cotidianamente para lidar com as pessoas e nossos
pensamentos mais obscuros e incertos, esse murinho facilmente transposto.
_É
mais complicado do que isso, mas essa analogia, por hora, me serve.
O que quero dizer é que o ditado
popular “a gente se vira como pode” é mais um: A gente se vira na medida em que
consegue. E no fundo a gente não consegue muita coisa.
Dependendo do tipo e grau de
sensibilidade de cada “persona dramática” (também vale falar máscara), há o
sentimento de que vamos sendo empurrados com chutes no rabo até qualquer lugar.
E não vá pensar que você não é o chute na canela de alguém. Também é o caso de
que quando chove e estamos no meio da rua, não avaliamos muito bem a beleza do
lugar para onde corremos buscando escapar. Não conheço quem não tenha dito pelo
menos seis vezes “era o que tinha para me consolar”.
Você pode estar pensando aí: Puxa r.A.,
que pessimismo! Bem, talvez. Cada ponto de vista é a vista de um ponto – reza toda
generalização. De minha parte, sou mais simpático aos que revelam em algum
momento que não aguentam mais do que os que pregam um sorriso frouxo na boca
enquanto murmuram “é a vida e está tudo bem”.
Não me parece meramente um pessimismo –
embora pense que o pessimismo deixa as pessoas menos ingênuas – o fato que
constato dia a dia: luta constante para polir esse Eu (seja como reação seja
como construção de uma ficção mais suportável) e salvá-lo da “exuberância
corruptora da vida”.
A necessidade constante da reação e da
ficção, nesse momento, compreendo apenas como condição humana. É tão óbvio que
chega nem valer a pena apontar num texto. Quero dizer, o óbvio é nossa
fragilidade e as desculpas que vem na sequência. Culpar qualquer coisa pelo
gosto amargo na nossa boca.
_E
tem outro jeito?
_Acho
que não!
Mas! Dado o óbvio, dado que reagimos e
polimos nossas ficções, por que não admitimos? Por que essa birra infantil quando
alguém nos toca a máscara? Não seria mais honesto batermos com a máscara na
cara de alguém do que nos encolhermos xingando a ousadia de outrem?
Gostaria que as pessoas fossem mais
razoáveis nessa questão. E quem disse que as pessoas podem corresponder ao que
me agrada? (risos). De qualquer forma fica essa provocação do texto. Assim como
ninguém está no mundo para agradar todos, não dá para transformar em regra que
todos estão no mundo para construir escudos na frente das máscaras. No fundo é
só entulho.
Não acreditava que fossemos todos tão
óbvios, mas começo a acreditar nisso. A burocracia impessoal – a grande ilusão
de marketing pessoal do nosso contexto psicossocial – se tornou um castelo no
fundo de nosso espírito? Aposto vinte (qualquer coisa) que vai aparecer um grande
intelectual para soprar do fundo dos pulmões: É cultural. – como se dizer “é
cultural” explicasse algo...
Nesse circuito de pura defesa e choradeira
quando alguém nos toca a máscara, a musa poética de nossas ficções está nos
virando às costas e preferindo observar o vasto horizonte. Daí que nossas
máscaras nunca são o que pensamos e queremos. – penso que vale mais admitir
isso do que recorrer aos best sellers de autoajuda.
Se tivéssemos aprendido a perder a
máscara antes de reconstruí-la compulsivamente nos queixaríamos menos da falta
de sinceridade das pessoas. (aprendi isso recentemente). E mais uma obviedade:
ser sincero não significa ser verdadeiro... mas essa é outra história.
r.A.
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