(Édipo e a esfinge - Gustave Moreau)
“Se você navega
em direção ao sol,
Cuidado com os
olhos de cor verde.
E se toda sala
lhe diz que você é o único,
Eu desafio você
a não acreditar neles, meu filho.”
Babyshambles – The man who came to stay
Existe essa garota e ela não pensava que
alguém pudesse ter interesse em ler o que escreve e saber o que sente. Você
acha que devemos contar que cada vez que somos expostos nos tornamos mais
esquisitos para nós mesmos?
As palavras são a porta dos fundos de um
depósito arrombado no meio da madrugada. Depois do roubo os objetos jamais encontrarão
o caminho do dono.
A alquimia funciona sem trocas
equivalentes. Os sofrimentos não abrirão caminho para uma felicidade no final
da linha, assim como um beijo nunca é dado por merecimento: quando é desse
jeito o tesão não vem.
É
trabalhoso – não dá para negar – fazer esculturas com entulhos. F. Pessoa e
seus coleguinhas de crânio não sorriam como o povo imagina. Só que a gente não
chora para não estragar a maquiagem, garota. Pois é.
Jamais poderei dizer meus motivos,
porém, lembro de cada mentira que invento para justificar o jogo jogado. É quando
verdade e mentira fazem um bebezinho. E nesses anos todos tenho ganho as ruas
dentro de meu uniforme com um olhar bastante perverso. Se eu aconselho as
crianças fazerem isso em casa? Adivinhe!
A alma é que parece virar lâmina e a
sensibilidade que se torna pedra de afiar. Você pode cortar cada vez mais fundo
se puder suportar o contragolpe. Rimbaud foi quem me sussurrou no ouvido, aos
dezessete, que o poeta é um ladrão de fogo. É na sutileza desse crime que
poderá mudar a forma do que lhe cerca, garota.
Nem tapinhas (em forma de facas) nas
costas lhe parabenizando e nem mãos estendidas na sua direção para te arrancar
do ninho de formigas podem seduzir o horizonte.
É
impossível saber quem se importa com o que escreve e o que sente antes de ter sacudido
sua pata demonstrando o comprimento de suas garras de esfinge.
Bem. Existe essa garota e ela não
pensava que alguém pudesse ter interesse em ler o que escreve e saber o que
sente. Agora me sinto mais esquisito do que antes.
Mudando de assunto – o café acabou.
r.A.
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