terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O mais solitário e enlouquecido dos cães




Para a fogo de palha dos pés pequenos...


         Se Rimbaud disse que “a gente nunca parte, apenas retoma o caminho” – qualquer coisa nesse sentido, meu francês não é lá muito bom -, eu diria que não há início de caminho, há retomada do caminho de nobres patifes. Pelo menos comigo foi assim.
         Frequentei os mais loucos e diabólicos espíritos – na filosofia, literatura, música, jardinagem, etc. – porque desconfiei que era ali que poderia encontrar alguma coisa de verdade. O resto era uma enganação insuportável.
         Foram anos tentando entender o que as noites em silêncio na companhia de todo tipo de desgraçado poderia me revelar. As pessoas raramente me disseram algo de relevante. Jamais me arrependi dos fantasmas pelos quais senti empatia! Colecionei cemitérios com risos debochados até me encontrar.
_Se isso é minha história? E eu tenho tempo para história?
         Ande em silêncio por três noites seguidas e pensará muitas vezes (até a vertigem) antes de proferir qualquer palavra. Tente, por anos, riscar com uma caneta preta seus sentimentos em uma folha e terá convulsões quando for obrigado a escrever seu nome. Ame quatro ou cinco mulheres até enlouquecer e saberá do que se trata essa vida. A única coisa que muda é o preço da cerveja e os caminhos do fracasso. Pois é.
         Na periferia da espécie vagam os tipos marginais – não é? Perguntem para Cioran e Nietzsche. Mas os confirmados mesmo são os do exílio voluntário! Aqueles que foram expulsos antes da escolha só entendem de vingança. Claro que rendem umas risadas, mas rir não é o melhor remédio.
         O que vou dizer é que quando menos esperei estava no caminho dos nobres patifes. Sabe aqueles que riem da sua cara sem motivo aparente? Essas coisas não se ensinam e, paradoxalmente, se aprende com muita perseverança. Nobres patifes estão anos luz da pedagogia, porém deixam rastros. Fui – quem sabe ainda seja - o mais solitário e enlouquecido dos cães, nem preciso dizer que farejei as pegadas. Agora estou aqui.
         Você tem que entender – pela última vez – que até encontrar o rastro o que apaga são as possibilidades de retroceder. Nesses casos você só acerta se passar por sua cabeça que escrevi essa frase para mim mesmo! O chão apodreceu embaixo de meus calcanhares e o próximo passo é sempre sob a sombra de meu ego – a luz do sol ficou lá atrás.
         A metáfora do “caminho” é uma das mais antigas no imaginário da humanidade. Imagem imbatível para os que temem estar perdidos, ou seja, todo mundo. (Daí que sei esse segredinho que escapou para Rimbaud). Depois de seguir o rastro dos nobres patifes eu soube me perder completamente! Agora aqui estou.
         Já aprendi a esquecer tudo que deixei para trás. Estúpido em minha inteligência, criativo na crueldade, mais arrogante que um bom argentino, mostro os dentes por qualquer coisa e sou o novo patife inventando minha nobreza.
         Há tipos que não vencem, mas sua derrota é maior que qualquer vitória.
_Confie em mim garota, segure minha mão essa noite!
         Tudo explode porque tudo tem seu estopim. Que não reste nada exceto o rastro – já que este é inevitável. Agora aqui estou, sinceramente, foda-se quem cair nesta armadilha.
         É inútil me perguntar se isso tudo valeu a pena e quem tentar conhecerá minha gargalhada mais oculta. Pelo menos cruzei a linha e já conheço os dois lados (como se existisse dicotomia). Eu realmente acho ridículo quem nunca farejou essa pista.
         O resto? Apenas dispenso!

r.A.


p.s. Se não entendeu do que estou falando, considere a possibilidade de fazer uma torta de bolacha e ser feliz. (risos). 

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