Para a fogo de palha dos pés pequenos...
Se Rimbaud disse que “a gente nunca
parte, apenas retoma o caminho” – qualquer coisa nesse sentido, meu francês não
é lá muito bom -, eu diria que não há início de caminho, há retomada do caminho
de nobres patifes. Pelo menos comigo foi assim.
Frequentei os mais loucos e diabólicos
espíritos – na filosofia, literatura, música, jardinagem, etc. – porque desconfiei
que era ali que poderia encontrar alguma coisa de verdade. O resto era uma
enganação insuportável.
Foram anos tentando entender o que as
noites em silêncio na companhia de todo tipo de desgraçado poderia me revelar.
As pessoas raramente me disseram algo de relevante. Jamais me arrependi dos
fantasmas pelos quais senti empatia! Colecionei cemitérios com risos debochados
até me encontrar.
_Se
isso é minha história? E eu tenho tempo para história?
Ande em silêncio por três noites
seguidas e pensará muitas vezes (até a vertigem) antes de proferir qualquer palavra.
Tente, por anos, riscar com uma caneta preta seus sentimentos em uma folha e
terá convulsões quando for obrigado a escrever seu nome. Ame quatro ou cinco
mulheres até enlouquecer e saberá do que se trata essa vida. A única coisa que
muda é o preço da cerveja e os caminhos do fracasso. Pois é.
Na periferia da espécie vagam os tipos
marginais – não é? Perguntem para Cioran e Nietzsche. Mas os confirmados mesmo
são os do exílio voluntário! Aqueles que foram expulsos antes da escolha só
entendem de vingança. Claro que rendem umas risadas, mas rir não é o melhor
remédio.
O que vou dizer é que quando menos
esperei estava no caminho dos nobres patifes. Sabe aqueles que riem da sua cara
sem motivo aparente? Essas coisas não se ensinam e, paradoxalmente, se aprende
com muita perseverança. Nobres patifes estão anos luz da pedagogia, porém
deixam rastros. Fui – quem sabe ainda seja - o mais solitário e enlouquecido dos
cães, nem preciso dizer que farejei as pegadas. Agora estou aqui.
Você tem que entender – pela última vez
– que até encontrar o rastro o que apaga são as possibilidades de retroceder. Nesses
casos você só acerta se passar por sua cabeça que escrevi essa frase para mim
mesmo! O chão apodreceu embaixo de meus calcanhares e o próximo passo é sempre
sob a sombra de meu ego – a luz do sol ficou lá atrás.
A metáfora do “caminho” é uma das mais
antigas no imaginário da humanidade. Imagem imbatível para os que temem estar
perdidos, ou seja, todo mundo. (Daí que sei esse segredinho que escapou para
Rimbaud). Depois de seguir o rastro dos nobres patifes eu soube me perder
completamente! Agora aqui estou.
Já aprendi a esquecer tudo que deixei
para trás. Estúpido em minha inteligência, criativo na crueldade, mais
arrogante que um bom argentino, mostro os dentes por qualquer coisa e sou o
novo patife inventando minha nobreza.
Há tipos que não vencem, mas sua
derrota é maior que qualquer vitória.
_Confie
em mim garota, segure minha mão essa noite!
Tudo explode porque tudo tem seu
estopim. Que não reste nada exceto o rastro – já que este é inevitável. Agora
aqui estou, sinceramente, foda-se quem cair nesta armadilha.
É inútil me perguntar se isso tudo
valeu a pena e quem tentar conhecerá minha gargalhada mais oculta. Pelo menos
cruzei a linha e já conheço os dois lados (como se existisse dicotomia). Eu
realmente acho ridículo quem nunca farejou essa pista.
O resto? Apenas dispenso!
r.A.
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