quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Cheguei ao cúmulo da rebeldia


Ao som de Start wearing purple – Gogol Bordello
(Pois combina comigo)


         Será que imito as coisas inanimadas que utilizo?
Falo isso encarando minha botina favorita. Além de estar coberta de aranhões no seu couro, percebo que, vai descolar nos cantos. Antes que eu me esqueça: simpatizo com coisas arranhadas e descoladas.
 Li um artigo sobre física quântica onde certo fulano argumentava que é errado falar “objetos inanimados”, uma vez que, há movimentos complexos e reações múltiplas até mesmo em uma pedra. Banana para o certo fulano, não vou mudar a primeira frase do meu texto.
         Segundo uma grande especialista no assunto (mamãe) não vale a pena eu procurar um sapateiro para remendar minha botina. Melhor seria comprar uma nova. Não vou dizer:_ Banana para a senhora! Meu repertório de xingamentos vai só até a ciência.
A botina vai ficar e pronto. Duvida?
         Uma anedota. “O cúmulo da rebeldia é morar sozinho e fugir de casa”. Agora percebo que nem nisso obtive uma vitória. Até a fuga me cansou e terminei minha cruzada pelos bares da cidade – bem aqui!
         Uma das coisas que confessei para um senhor bigodudo foi que perdi meu coração em uma rinha de galo. Já apostei alto nessa vida, sabe? (quem disse que parei?). Não contente com a confissão aproveitei para acrescentar um conselho para o bigodudo.
_Na dúvida aposte no mais pesado e não no mais bonito!
_Isso vale para mulheres? – sussurrou pensativo com seu copo.
Olhei para a aliança de ouro em um de seus dedos gorduchos.
_Não vale, não.
Ganhei um pacote de salgadinhos de cebola por essa sabedoria. Tenho testemunhas sobre o fato! Não foi? ein Shirley?
         Aproveito para informar esse senhor bigodudo (não lembro o nome, mas sei o caminho para o bar que ele frequenta) que seguirei sua dica de experimentar a cachaça da Cantareira.
         Enquanto estava em minha fuga alucinada e com minha botina (quase) descolada, uma evangélica depressiva tentou salvar minha alma - praça Roosevelt.
 O que não contaram sobre mim para aquela loira é que se um dia perdi meu coração em uma rinha de galo, outra noite, aluguei minha alma para comprar um violão de blues. Devolveram minha alma tão estragada – descolada – que parei de usá-la. O violão ainda uso. Dai que foi um bom negócio, apesar de tudo.
Quando for ao sapateiro perguntarei se tem como remendar a alma junto da botina. Quem sabe costurar o couro da botina com a alma. Veremos...
         Além de fugir de casa, apesar de morar sozinho; fui informado, por uma saltadora de catracas de metrô, que não era certo alguém querer se desfazer de sua “vida interior”. Para essa aí, o que não contaram é sobre a situação de minha alma. Veja só.
         O gênero masculino está dividido, lá no topo, entre Homens e Cães negros cheios de sede ao cair da noite. Homens mentem e Cães negros desafiam. Não sei direito em que grupo me encaixo, mas a grande dica é que estou sempre morrendo de sede.
         Minha botina descolada, minha fuga fracassada,  meu coração perdido em rinha de galo, minha alma inutilizável, minha sede de morte... atrás da máscara um escudo e atrás do escudo um casal de pistolas.
         Será que as coisas inanimadas que utilizo me imitam? Elimino contradições com o tesão por ambiguidades!

          
         “Todo seu bom-senso e juízo desaparecerão, eu prometo, é só uma questão de tempo”.





r.A. 

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