Estava no táxi. Pensando na minha vida
e fazendo “aham” para as observações de Zé não-sei-o-que. Exceto pela
possibilidade de alguma mulher ter feito bruxaria para mim, não sei como
justificar que cheguei ao fundo do poço – e continuo afundando. “Eu sou ateu,
essas coisas só pegam em quem acredita”, justifico para meu pensamento. Não se
fazem mais espíritos do mal como antigamente. Cadê a honestidade de seguir as
regras? Cadê a beleza dos duelos ao pôr do sol?
Sofri péssimas influências minha vida
toda. Todos – sem exceção – me obrigaram a suportar. Suportei todo tipo de
merda e todo tipo de filho da puta, esses anos todos. Não dei nem um pio. Sinto
inveja do meu pai, que nunca precisou de razão para mandar alguém tomar no cu.
Mas ele também foi uma péssima influência para mim: faça o que digo, mas não
faça o que eu faço.
_E
tome no cu, também.
O
inconveniente de ser obediente.
Quero reclamar do seguinte. Eu sei –
infelizmente – que não vou mudar. Vou continuar fiel para com todas as péssimas
influências que sofri. Já não posso mais ler Memórias do subsolo (Dostoi –Yeah!
-vski) sem sentir profunda empatia pelo narrador idiota. E meu destino,
imagino, será o mesmo de Gregor Samsa (A metamorfose – Kafka). Vou acabar na
janela. Será assim. As ciganas acenam positivamente.
Achava que iria produzir literatura.
Juro. Me preparava para escrever com uma enorme qualidade. Sabe o que
aconteceu? Me encolhi. Tipo uma cadelona que caiu do caminhão de mudança e
agora só sabe rosnar. Nomeei minhas pulgas e meus bernes. É meu principal
passatempo nessas noites solitárias e insones.
Além de me sentir ridículo, hoje, quero
pedir licença para fazer uma Apologia (que eu acho que será breve).
Enquanto me acabo na janela e as
maldições me balançam de um lado para outro (como um João Bobo), tenho comigo
que nunca fui vítima. Mas também não fui cúmplice. Tive a decência
cavalheiresca de não participar da piora de tudo que me cerca – mas ninguém
notou. Ganhei só uns poucos prêmios literários mesmo sem ter publicado nem a
orelha de um livro – tem uns por aí que já são renomados e atingiram a
imortalidade em vida, sem ter ganhado um concurso de redação na escola: me mijo
todo de inveja! Tipo cadelona quando vê o dono.
Fui beliscado por dez ciganas radioativas
– em pontos estratégicos - e os poderes delas saltaram todos no meu coração
peludo. Daí meus dotes proféticos, sacou?
Veja. Enquanto penso na minha vida e
assovio das profundezas de meu poço, suportando, não tenho vergonha. Eu poderia
ser pior, e, serei. Deu para suicidar, depois de muitos exercícios, essa
procura infindável por tapinhas nas costas. Enquanto uns e outros estão gozando
no glamour – vou encerrar a apologia com essa frase -, eu ainda estou
aprendendo. Me basta.
_Concorda
comigo, Zé não-sei-o-que ?
_O
Sr. Vai dar gorjeta pela corrida?
_Talvez...
_Então,
talvez eu concorde!
Sabe quando você percebe que chegou na
maturidade e se responsabiliza pelo que faz em arte? Eu também não, mas
adivinho.
r.A.
ps.
Chega de Dostoi-Yeah!-viski. Mas de Dostoiévski, não.