quarta-feira, 25 de março de 2015

Talvez o nojo aguente, colega...



(-Segundo Niti [primo distante do filósofo Nietzsche]: O que caracteriza um tipo reativo, ou ressentido, é ser escravo da negação do nobre).
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         Sim, lá no Zaratustra. O nojo como uma negra e pesada serpente entalada na boca. Um dos símbolos do niilismo: infelizmente a humanidade não deu certo e não há nada que possamos fazer - é isso que simboliza esse nojo.
         Eu acredito profundamente na galera foda das artes & afins. Como pode ver, não sou um descrente. Abraçado com minha fé atravesso o salão ao som de um tango. Às vezes eu passo a mão na bunda da minha fé e ela me soca na cara. Rimos.
         Excetuando isso, também acredito no que leva certas pessoas fodas a não conseguirem produzir algo de um “sorriso sério” e apenas multiplicar manifestos. Ocorre que sorrisos sérios não impressionam ninguém. Os “manos e as minas” não entendem muito de metodologia. Disso decorre uma dificuldade em molhar as calcinhas e endurecer os pirulitos. Sei desse jogo. O negócio é o prestigio, mas tem que ser feito como se você não quisesse tê-lo. Qualquer coisa que lembre Kurt Cobain. No palco, mas de pijama.
         Num belo dia Deuses e Divas pedem esmolas. Eu sempre ajudo, porque acredito na causa nobre. 24 horas depois, atiram sobre mim suas luzes e fogos: anúncio de grandeza! Acendo meu cigarro e bebo meu café pensando: Só eu que fracasso na vida ou é reles impressão?
_Glamour do underground!!! – você pode não acreditar, mas dá para se lambuzar disso.
         “Quem é você para vir aqui dar lição de moral?” – sabe àquelas horas em que você entende que não é uma questão de lição e muito menos de moral?
_Eu me engano, só comigo mesmo.
         Ele tem inveja! Ele gostaria de estar no seu lugar! Ele gostaria de ser você ou parecido! É um resignado! Enquanto ele reclama abraçado na sua fé-de-mais, a gente faz acontecer! A gente pinta e borda! É “a vida como ela yeah!”
         Não é fácil se arrastar para fora da adolescência. Quase esqueci de te contar isso. O nojo também pode ser legítima defesa. Quem sabe uma resistência. Daí que todo adolescente, para salvar um pedaço de seu ego, faz cara de nojo. Mas quem poderá nos salvar quando já abrimos mão do ego e ainda sentimos nojo? “Pai Nietzsche que estás no céu, santificado seja vosso nome...”.
         Quem disse que também não levei umas facadas? Umas dez ao todo. Nem deu para me gabar das cicatrizes. [sempre que quis mostrar minhas cicatrizes para as gatas, elas vomitaram no meu colo]. Na ponta das facas, estocada pós estocada, puro nojo. Ficou alojado em mim. E como dizia o poeta, eu continuo “Farto de semideuses”.
         Não é difícil entender porque em Nietzsche toda a admiração por Richard Wagner se tornou repulsa. O glamour de Bayreuth:_ Perverteu a Arte, seu canalha! – soprou por baixo daquele bigode – se apegou ao glamour! Em outro contexto Wagner teria se dado bem com Malcolm Mclaren (empresário dos The Sex Pistols). Você já imaginou Wagner com um copinho de whisky e uma jaqueta de couro, pavoneando por aí? Eu também, não.
         No fundo só estou brincado. E só brinco com coisa séria. É evidente que não tenho fama e nem motivos para ser admirado. Me faltou o “dom” – rá rá rá rá, ai ai... essa foi boa. Em algum lugar de “Para além de bem e mal” está escrito que todo glamoroso é escravo de sua fama. É assim que me consolo. Nada de escravidão para mim. E se não tivesse lido lá, teria que inventar uma frase parecida. Cá entre nós, para sujeitos sem muita criatividade – meu caso – é muito bom que exista Filosofia.
         Para terminar essa confissão aberta do meu paradoxo: Li e reli e não aprendi (me refiro a ser “reativo”, às vezes). É por isso que sei ensinar. Tai o texto para comprovar. Por outro lado meu nojo me salvou tantas vezes de fazer parte de cada grupo... não é fácil me emocionar com migalhas.

r.A.


ps. Esse eu escrevi rindo mesmo.  

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