quinta-feira, 1 de maio de 2014

Qualquer coisa que parece sem saída



(Ensaio do Steinhager)

......Ludwig Wittgeinstein (Filósofo) disse que tudo que um homem precisa é de uma mala com algumas roupas. Desconfio que ele esteja certo. Mas sou uma parte interessada nessa questão. Tudo que tenho cabe numa mala. Mesmo quando me mudei – e não gosto de permanecer muito tempo num lugar só – deixei metade da mala para trás. Só não fico enchendo saco com essa história de capitalismo porque sei que um ser humano que acumula propriedades é pelas suas propriedades completamente consumido – aniquilado como “ser”. A imagem que tenho de um desgraçado – no contextua atual, me refiro - é alguém bem sucedido economicamente. Aposto que tem um chato – dos bem chatos!- pensando agora:_ r.A. faz apologia dos mendigos! É óbvio que não é nada disso.
......Frequentei demoradamente a escola dos vagabundos! Charles Bukowski, Henry Miller, Baudelaire, Rimbaud, Nietzsche e Cioran –  só para citar uns nomes. Mas, sobretudo, conheci outros vagabundos inglórios, infames. Prestei atenção neles como se fossem verdadeiros mestres – porque eram!
......Longe de invejar os bem resolvidos, quase sempre tive que me livrar da pena que sentia dos tais. Minha compreensão simples é que alguém com casa, carro, dinheiro no banco, possuí um estresse inútil à mais para se atormentar – ter coisas é conjurar o inferno da manutenção das coisas. Não sei ao certo se foi a Filosofia que me auxiliou nesse exercício de percepção da nulidade das coisas ou se já estava infectado por essa percepção.
Hoje, que vejo os benditos Filósofos bem sucedidos ministrando palestras para empresários, acho no mínimo engraçado os bem sucedidos buscando ajuda na mais atormentada das tradições. – Os Filósofos não oferecem auxílio, eles só ampliam o veneno!
......Mas se por um lado a Filosofia me livrou desses valores ridículos que sempre estiveram presentes em todas as configurações de sociedades nos últimos 2.500 anos – ou você acha que a ideia de acumulo de propriedade só apareceu depois da revolução industrial... bobinho – por outro lado a Filosofia (pelo menos a acadêmica...) quase fez de mim um “religioso”.  Penso ser este o maior mal da Filosofia! Veja só.
......Assisti muitos que conseguiram abdicar dessa ilusão de uma vida bem sucedida, mas se tornaram reféns do “conhecimento”. Deixe-me explicar. Muitos que conheci foram contaminados pelo “gen” da Verdade. Quero dizer, aqueles que se tornam fanáticos do conhecimento, do saber. Paranoicos dos livros e dos autores! Longe de mim me tornar um “sábio”. Nem aspiro a tal coisa! A maior de minhas fidelidades para com o saber é nunca confiar nele. Assim como me livrei da ilusão de acumular propriedades, me livrei rapidinho da ilusão de acumular conhecimento. Aliás, acho os tais “intelectuais” uma espécie genérica de comentador de futebol – nesse caso, eles comentam a cultura-, apenas uns piolhentos que sentem desejo de se coçar em público. A tentação de ser um “formulador de opinião” – como dizem – ou “agitador cultural” – o que abomino -, não fez de mim uma vítima. O máximo de minha participação na sociedade é o deboche e a ironia.
......Sei bem o drama de ser um sujeito e pertencer a um rebanho (massa). Se numa sociedade organizada na configuração de uma democracia o número é mais forte que o saber, o consenso faz a lei. Logo que o consenso não significa o melhor dos caminhos, um sujeito (singularidade entre o rebanho) só pode garantir sua sobrevivência intelectual recolhido na solidão. A sociedade é qualquer coisa que parece sem saída. Para evitar padecer dos nervos, prefiro não participar. Mas não participar disso não significa deixar de pensar e agir. Significa aplicar-se, no cotidiano, como terapia, o riso. Se você quiser me encontrar entre a multidão, é só prestar atenção de onde vem o deboche. Cuide que se você encontrar um palhaço com uma mala na mão – e um trago na outra mão -, se não for Eu, é alguém parecido comigo.



r.A.

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