(Ensaio
do Steinhager)
......Ludwig
Wittgeinstein (Filósofo) disse que tudo que um homem precisa é de uma mala com
algumas roupas. Desconfio que ele esteja certo. Mas sou uma parte interessada
nessa questão. Tudo que tenho cabe numa mala. Mesmo quando me mudei – e não
gosto de permanecer muito tempo num lugar só – deixei metade da mala para trás.
Só não fico enchendo saco com essa história de capitalismo porque sei que um
ser humano que acumula propriedades é pelas suas propriedades completamente
consumido – aniquilado como “ser”. A imagem que tenho de um desgraçado – no contextua
atual, me refiro - é alguém bem sucedido economicamente. Aposto que tem um
chato – dos bem chatos!- pensando agora:_ r.A. faz apologia dos mendigos! É
óbvio que não é nada disso.
......Frequentei
demoradamente a escola dos vagabundos! Charles Bukowski, Henry Miller, Baudelaire,
Rimbaud, Nietzsche e Cioran – só para
citar uns nomes. Mas, sobretudo, conheci outros vagabundos inglórios, infames.
Prestei atenção neles como se fossem verdadeiros mestres – porque eram!
......Longe
de invejar os bem resolvidos, quase sempre tive que me livrar da pena que
sentia dos tais. Minha compreensão simples é que alguém com casa, carro,
dinheiro no banco, possuí um estresse inútil à mais para se atormentar – ter coisas
é conjurar o inferno da manutenção das coisas. Não sei ao certo se foi a
Filosofia que me auxiliou nesse exercício de percepção da nulidade das coisas
ou se já estava infectado por essa percepção.
Hoje,
que vejo os benditos Filósofos bem sucedidos ministrando palestras para
empresários, acho no mínimo engraçado os bem sucedidos buscando ajuda na mais
atormentada das tradições. – Os Filósofos não oferecem auxílio, eles só ampliam
o veneno!
......Mas
se por um lado a Filosofia me livrou desses valores ridículos que sempre
estiveram presentes em todas as configurações de sociedades nos últimos 2.500
anos – ou você acha que a ideia de acumulo de propriedade só apareceu depois da
revolução industrial... bobinho – por outro lado a Filosofia (pelo menos a
acadêmica...) quase fez de mim um “religioso”.
Penso ser este o maior mal da Filosofia! Veja só.
......Assisti
muitos que conseguiram abdicar dessa ilusão de uma vida bem sucedida, mas se
tornaram reféns do “conhecimento”. Deixe-me explicar. Muitos que conheci foram
contaminados pelo “gen” da Verdade. Quero dizer, aqueles que se tornam
fanáticos do conhecimento, do saber. Paranoicos dos livros e dos autores! Longe
de mim me tornar um “sábio”. Nem aspiro a tal coisa! A maior de minhas
fidelidades para com o saber é nunca confiar nele. Assim como me livrei da
ilusão de acumular propriedades, me livrei rapidinho da ilusão de acumular
conhecimento. Aliás, acho os tais “intelectuais” uma espécie genérica de
comentador de futebol – nesse caso, eles comentam a cultura-, apenas uns
piolhentos que sentem desejo de se coçar em público. A tentação de ser um “formulador
de opinião” – como dizem – ou “agitador cultural” – o que abomino -, não fez de
mim uma vítima. O máximo de minha participação na sociedade é o deboche e a
ironia.
......Sei
bem o drama de ser um sujeito e pertencer a um rebanho (massa). Se numa
sociedade organizada na configuração de uma democracia o número é mais forte
que o saber, o consenso faz a lei. Logo que o consenso não significa o melhor
dos caminhos, um sujeito (singularidade entre o rebanho) só pode garantir sua
sobrevivência intelectual recolhido na solidão. A sociedade é qualquer coisa
que parece sem saída. Para evitar padecer dos nervos, prefiro não participar.
Mas não participar disso não significa deixar de pensar e agir. Significa aplicar-se,
no cotidiano, como terapia, o riso. Se você quiser me encontrar entre a
multidão, é só prestar atenção de onde vem o deboche. Cuide que se você encontrar um
palhaço com uma mala na mão – e um trago na outra mão -, se não for Eu, é
alguém parecido comigo.
r.A.
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