Nota:
Este é o primeiro de três curtos ensaios. Este falará BASICAMENTE de ALGUMAS
impressões que tenho em relação à juventude em geral no contexto atual de
minhas experiências como Filósofo e a condição da educação que nos é
apresentada no estado de São Paulo (2012-2013) – “Ensino médio”. Se você não
gostar o problema é seu, não estou aqui para ser agradável.
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......Primeiro
é necessário que eu lhe diga os motivos que me levam a escrever. Escrevo porque
gosto e porque me entendo melhor texto após texto – isso me basta! Entre ficar
babando por aí, defendendo opiniões pouco refletidas e apenas falando que tudo
está errado, me parece que escrever é alguma coisa a mais. Isso e o simples
fato de que para ser lido é preciso que bote o leitor a pensar já é um bom
começo. A filosofia só pode ser feita por pessoas que pensam juntas mesmo com
ideias diferentes. Em pouco mais de três
anos de experiências com a educação, alguma graduação acadêmica e intensa
reflexão Filosófica chego à conclusão que mudanças imediatas na educação são
necessárias e mais. Penso que se essas mudanças não partirem daqueles que
frequentam as escolas, mesmo com a falta de atenção social e política, evidente
em relação à educação pública, então a escola deverá em pouco tempo que deixar
de existir.
......Se
você comemora o fim da escola, você não se deu conta ainda do grau avançado de
sua idiotice! Pois a escola, mesmo que em condições precárias, ainda é um dos
lugares de fator decisivo para mudanças necessárias (boas e más) para a
sociedade atual. Tornar um lugar de “boas” mudanças é nossa luta cotidiana –
Professores, alunos, funcionários e família, enfim, comunidade.
......O
que devemos ter em mende é que se tornou necessário que abandonemos velhas
frases de efeito em relação a escola. Não adianta dizer apenas que “a educação
é importante”, que os alunos devem ir à escola buscando “garantias melhores
para o futuro” – O futuro é incerto, não podemos viver prometendo melhoras!
Agora para aqueles que dizem que a única justificativa para ir para a escola é
“porque os pais e responsáveis obrigam” não há muito o que dizer. A própria
falta de vontade já venceu a luta entre o existir e o se arrastar. Alguns
educadores dizem que é preciso “forçar” os adolescentes, pois esses não sabem
muito bem o que querem. Quanto a mim, discordo! Penso que os adolescentes sabem
muito bem o que querem – na maioria das vezes – mas trabalham com noções
confusas que precisam ser provocadas, sacudidas, para se desenvolverem e me
recuso a tratar adolescentes como se fossem cachorrinhos a serem adestrados até
que se tornem dóceis animaizinhos de estimação da sociedade. Provocar, sacudir
e desenvolver noções é a porta de entrada para a Filosofia!
......A
escola tem de ser um lugar para a construção do pensamento crítico (até os
limites da criticidade) para o agora! Mas gente que há muito já entra na escola
sem vontade não há de construir pensamento crítico algum (agora me refiro a
professores e alunos). E desse tipo de gente a sociedade está entupida! Há
multidões! A velha falácia de que é um sintoma social ou mero resultado de
condições históricas, para mim, é só uma desculpa esfarrapada! Essa conversa
fiada de tratar as pessoas como vítimas o tempo todo e em todas as ocasiões é
conversa para boi dormir. Outro velho papo pedagógico de que estamos em
constante “construção do pensamento” precisa ir para além das frases de efeito.
Estamos em construção, mas isso não nos priva de maneira alguma da necessidade
de tomarmos as rédeas de nossa existência. A Filosofia nunca foi mais
necessária do que nos tempos atuais. “Dar um tempo” e se perguntar o que
realmente se quer fazer desta vida é uma necessidade bastante imediata, não se
pode adiar. Se um adolescente consegue enviar uma mensagem pelo facebook ou
fazer uma ligação no celular, então está em condições básicas para avaliar sua
própria existência- se quiser! Nem vou entrar nos méritos sociais e políticos
de uma reflexão destas, seria falar o óbvio. Não digo que isso é Filosofia,
digo que a Filosofia pode proporcionar isso para aqueles que desejam. Para
aqueles que tem coragem. É tão fácil hoje em dia se “deixar levar”... Nem uma
barata se deixa levar, mas quanto a algumas pessoas já não tenho certeza.
......É
comum reclamarmos da indisciplina. E essa conversa é tão antiga quanto à
humanidade. Houve uma modinha intelectualóide de péssima interpretação de
pensamentos sobre o poder e a disciplina (má interpretação dos escritos de Michel
Foucault, para citar um Filósofo nessa conversa) que coloriu os discursos
daqueles que gostariam de fazer o que bem desejam quando convivendo em grupo.
Hoje é comum rebeldes sem causa acharem bonito não ter “eira nem beira”,
propósito ou objetivo. Tem até aqueles que acham graça nisso! Bebezinho que
bate o brinquedinho na parede para chamar a atenção da mamãe. Há quase um
consenso entre os profissionais da educação de dizer que isso é falta de
educação, limites, bons modos, em casa. Dizem “má educação vem de família”. Não
acho que seja apenas isso. E como disse acima, essa conversa de sintoma social
e efeito de condições históricas não cola comigo. Assim como é tão “velha”
quanto à humanidade a queixa em relação à indisciplina, também é velha a “pane
mental” dos desejos que se chocam com a moral. Sendo a moral normativa e a
própria cultura um tipo de controle, não é raro gente que não consegue atingir
um tipo básico de sensibilidade ética para com o “outro” que está na sua
frente. Para resumir, se gasta mais tempo tagarelando contra a disciplina do
que ponderando que alguma disciplina e “controle” – sim CONTROLE – é necessária
para qualquer convívio coletivo. Vou citar um exemplo bem ilustrativo: Um
sujeito que chuta uma porta ou derruba uma cadeira está dizendo com esse gesto
duas coisas. 1- que não está suportando um tipo de disciplina que lhe é
imposta; 2- que é incapaz de um gesto mais emancipador e proveitoso de suas
energias. É óbvio que qualquer “tolo” pode chutar uma porta – e chutar uma
porta nunca deixou ninguém mais inteligente. Agora se o sujeito não consegue
passar do 1 (chutar a porta) para o 2 (aproveitar melhor suas energias,
questionando, por exemplo, o que é essa disciplina que não suporta), jogar a
“culpa” toda na sociedade é de uma preguiça gigante! De uma falta de caráter
vergonhosa!
......Sinto
que estamos cercados de teorias/praticas que infantilizam pedagogicamente os
jovens (tratam adolescentes como se fossem bebezinhos ) enquanto nossa cultura
se encaminha a longos passos para a excitação e desinibição moral. Lidamos
todos os dias com uma cultura que banaliza a sexualidade e a violência, que
mente que o dinheiro irá resolver todos nossos problemas existenciais. Se não
descontruirmos essa cultura “idiotizada”, não haverá amanhã para nós! Diria que
é a pior situação da educação esse beco sem saída. E ao menos que chamemos para
si a tarefa de contornar as desculpas sócio-históricas (muitas delas difundidas
e incentivadas nas universidades por aí afora) a tendência é a “idiotização
plena” de toda uma “geração”. Quanto aos
interesses políticos ideológicos em jogo e interessados no avanço dessa
decadência, vou deixar para outro momento! – Já estamos “carecas de saber” as
consequências disso.
......O
resultado é um grande número de professores cansados tentando ensinar algo para
adolescentes que não querem saber – e ainda acham que estão no seu direito
(risos)! Mas a cobrança é que se ensine “na marra” – a pau, como se diz no sul.
E a situação piora uma vez que a cultura continua sendo hierarquizada e
excludente, enquanto a escola trabalha numa lógica “contra-cultural” promovendo
“inclusão”, mas com uma sociedade “idealizada” enquanto caminho. É mais ou
menos querer mover uma parede apenas assoprando! Sinceramente, antes de
pensarmos o “ideal” de escola ou até os objetivos da educação atual, eu sugiro
que se abandone a ingenuidade em relação ao ser humano. Se você quer ainda
“salvar a alma e queimar o corpo”, sugiro que vá para a igreja. A escola não
deve nem pode fazer isso!
......Mas
se você acha que não pode piorar, deixe-me lhe dizer uma coisa que não se
ensina nas universidades. Os alunos numa escola muitas vezes acabam pensando
que os professores são seus adversários – e vice versa -, já que esse conflito,
por vezes, acaba por colocá-los numa impressão de luta/disputa pelo “poder” e
não luta contra a ignorância. Tanto professores quanto alunos que se deixam
levar por essa impressão apenas se consomem em uma rivalidade que não existe...
Acredite, vivo isso diariamente. Adolescentes, como qualquer ser humano com uma
boa dose de maldade não tratada no fundo do coração (afinal, somos humanos, não
anjinhos perfumados), querem ver você se perder e cair! Já vi mais professores
desistir de dar aulas por causa disso do que por causa do salário! (Uma pessoa
não leva a melhor medindo forças com trinta, entenda bem esse princípio
concreto). Se você acha que estou exagerando, consulte os dados estatísticos
sobre professores agredidos (e assassinados) por alunos em São Paulo. Quanto a
mim, quando trinta pessoas me empurram, eu simplesmente dou um passo para o
lado deixando essas trinta pessoas fazer força à toa! (se for muita força, elas
se esborracham no chão). É importante para um professor lembrar os alunos
quantas vezes forem necessárias o real motivo de estarmos ali, juntos. Por
exemplo, o meu motivo, é a Filosofia. Qualquer coisa que escape disso não me
interessa! E qualquer um que não tiver vontade de aprender algo com a
Filosofia, muito pouco me importa -menos ainda me ofende. Se em 2.500 anos de
história a Filosofia continua firme e forte em sua tradição deve significar que
ela não vive nem se importa com quem dela tira sarro!
......Por
fim, ao menos que à princípio, os adolescentes se deem conta de sua atual
condição e do quanto tem desperdiçado o espaço que é resultado de muitas lutas
sociais – a saber, a escola -, ao menos que por um momento esse exercício de
tomada de consciência ocorra, não importará as mudanças políticas que sejam
implantadas na educação –investimentos financeiros e tudo mais. Tudo tenderá a
piorar até que não nos suportemos mais! Será lamentável que acabemos com o
ensino público porque nos tornamos incapazes de uma gota de pensamento ético e
sensibilidade. Se a escola pública acabar, não pense que a escola privada/particular
(e na esteira dessa, a educação privatizada) fechará suas portas! Provavelmente
o “conhecimento científico, tecnológico e crítico” voltará a fazer parte unicamente
da camada social das “elites econômicas” e o povo verá afundar o esforço
histórico de muitas gerações unicamente por causa de caprichos adolescentes
mimados! Provavelmente haverá o dobro de teorias que gostam de transformar
preguiçosos em vítimas. E o império da banalidade e futilidade atingirá seu
ápice.
......Quem
sabe não seja o momento de fazermos uma reflexão negativa. Quem sabe não seja
melhor mesmo o povo “entregar os pontos” de todas suas tentativas de deixar de
ser “massa de manobra”, “massa ignorante”. Quem sabe, realmente, a sociedade
devesse ser regida por uma elite econômica ou “intelectual” e esse povo, esse
“rebanho”, não devesse se ocupar dos trabalhos para ganhar o pão de cada dia e
assistir um circo de banalidades nos fins de semana. Não duvide, tem muita
gente que quer e não passará disso! Mas para esses, infelizmente, a Filosofia
não tem muito o que dizer... E é até melhor que uma “massa ignorante” veja a
Filosofia como apenas “uma viagem na maionese”!
Rodrigo
A. Machado- Filósofo.
P.S.:
Não adianta apenas ensinar o “Ivo Viu A Uva” nem dizer que a sociedade
capitalista é opressora e desumana. É preciso dizer para o “Ivo” que se ele
continuar sendo um “bosta” seu futuro é a privada!
“116.
Todos os homens podem conhecer a si mesmos e pensar sensatamente”.
Heráclito
de Éfeso.