terça-feira, 4 de outubro de 2011

O último pistoleiro em pé


.....Disse que eu não parecia um cara romântico, talvez porque eu me mataria por qualquer outro motivo – exceto amor. Claro que não tentaria entender o poço de vontades estranhas que é uma mulher! Mesmo sabendo que não sou do tipo que machuca, mas do tipo que sai todo feridas. Valeria à pena dizer que detesto jogos mesmo sabendo que era um blefe? Meu. Seu. Nosso. Ela olhou para mim e sabia que mesmo que ali só se apresentassem dois, havia também centenas de vozes. Milhões de vontades. Uma multidão de ódios, um mundo de prazeres assassinos.

.....Quando a cabeça esta cheia de dinamite, o coração metamorfoseia-se em fósforo. O corpo todo é faca sem cabo... pura lâmina enferrujada. E lá fora – olhei para ela enquanto acendia meu cigarro, apontei para a janela entre aberta- todos estão loucos por uma aventura, mas estão cagando de medo... Ao abrirem a boca, saem filetes de mentiras visíveis a olho nu. “Que tristeza um homem tão jovem, que mesmo são, fala como um bêbado”. “Na verdade Srta. ocorre que, a única diferença que há entre eu estar são e eu estar bêbado, é que bêbado vou mais vezes ao banheiro e não penso em mulheres”.

.....Sou o único dos homens que conheço que gostaria que o sol não existisse. Tenho treinado um cruzado de direita na toalha pendurada no cabide do banheiro. Desconfio que uma noite dessas serei o último pistoleiro em pé. Sem norte. Os pêlos dentro do meu ouvido estão coçando para ouvir alguma coisa relevante. Mas você olha para toda essa gente se arrastando pelas ruas, pelos bares, pelos postos de gasolina, mercados e restaurantes self-service, e toda esperança é abortada. “Você não está atrasado para o trabalho?”. “Não tenho trabalho querida. Apenas me divirto por aí...”. Rimos.

.....Peguei o Tauros, cano médio e ventilado, niquelado, tambor para seis menininhas, fixei o coldre na cinta, na parte interna das calças. Estava na hora da última ronda antes do sol dar o ar de sua desgraça. “Odeio os homens!”. “Eu também querida”. “Estou dizendo que odeio homens como você!”. “Idem”. Aquilo que vocês chamam de romance eu chamo de ladainha pós – pré – sexo. Nosso maior problema é a tagarelice e o fetiche por histórias de amor. No fundo, os verdadeiros protagonistas de todas as histórias de amor são o egoísmo, moralismo e medo. Retire esses sentimentos de uma relação e capuft a história toda! Porém, pense, o que mais fariam os seres humanos se não ocupassem quase todo o seu tempo com besteiras? Talvez felicidade, hoje, signifique estar mergulhado em tolices!

.....Finalmente calcei os sapatos e cruzei porta à fora. Ainda precisava fazer aquela minha velha ronda. Dinheiro fácil e nem um pouco perigoso como presumia a maioria das pessoas. O problema é que aqueles filmes idiotas de detetive tinham bastante a ver... Um homem com uma arma começa a ficar xarope. Começa a gostar de ouvir o som de seus próprios pensamentos. Desenvolve uma tripla personalidade, aliás, três personalidades tolas. Minha vantagem... Desculpe, não há vantagem alguma. Girei a chave no carro e parti. Pela janela observei os últimos movimentos na noite. Olhei as prostitutas nas calçadas das quadras. Faltavam duas. Sempre há uma ou duas engraçadinhas! Terei de esperar para cobrá-las, infelizmente.



r.A.

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