quarta-feira, 5 de outubro de 2011

FIque com Van Gogh & Bukowski...


.....Aprenda a perder – minimamente- três vezes ao dia com uma caneta e um papel em punhos. Risque nos intervalos. A última perda será a da inspiração. Perca a inspiração acompanhada de uma sessão de desilusão, lágrimas ácidas, mau humor e sorriso de deboche. Conte as moedas para mais uma carteira de cigarros, acumule dívidas e trabalho por fazer... Brigue com os amigos sem motivo algum, fique longe de namoradas sérias. Sinta um vazio filho da puta no estômago, uma fisgada no coração e deixe os olhos arder sem esfregá-los. Pelo menos uma vez sinta aquela sensação terrível de que suas palavras são idiotas ou impertinentes. A impertinência lhe dará garras e dentes de fera! Se você desenvolver uma relação de cumplicidade com suas palavras idiotas, ninguém mais irá pará-lo! Pague o aluguel e sinta-se como se o esforço fora inútil. Fique em silêncio por horas consecutivas. Exercite o silêncio e fixe a visão na parede rachada ou na teia das aranhas. Ame apenas o amor que se retira, nunca o que abana o rabo ao redor de você. Cante uma canção secreta, esqueça de pedir benção aos padrinhos e às avós. Fume mais um cigarro e tome outra dose daquela bebida vagabunda. Mande a moda e suas vítimas a merda, mande todos irem se foder! Fique com Van Gogh. Sempre que tiver de escolher, fique com Van Gogh! Perca um joelho em uma cirurgia com um doutor carniceiro. Perca a visão gradativamente, progressivamente, tragicamente. Xingue o sol pela manhã. Não use relógios e nem jóias e nem chapéus. Aceite a rejeição como se recebesse o troféu das mãos de seu herói. Ouça Johnny Cash e use sabonetes de limão. Tenha alergia a perfumes e use roupas pretas – mesmo no verão. Quebre o celular e não atenda o telefone residencial semanas à fio. Aceite os convites, mas não vá as festas. Escore as guitarras em um canto do quarto. Leia Cioran ou Rimbaud. Deixe que Nietzsche toque a campainha e saia correndo, rindo como um moleque. Evite psicólogos, pague putas como terapeutas. Lembre-se todas as noites que Deleuze se atirou da janela e você não pode fazer nada em relação a isso. Coma miojo. Feche as portas atrás de você e segure um facão enquanto se convence que nada irá cruzar aquelas portas. Finja que é depressivo, porém com convicção. Só seja educado quando não tiver mais armas ou truques na manga. Faça tudo, mas não engane ninguém – jamais! Não leia jornais. Todos escrevem bem lá, menos Bukowski. Fique com Bukowski e com Van Gogh, continue pensando em Nietzsche (mas não escreva textos felicitando a si mesmo e citando Nietzsche de forma descontextualizada – deixe isso para os medíocres). Assuma suas dores com um sorriso inigualável. Faça garoto, faça com vontade e dedicação! Milhas irão te separar dos satisfeitos, mas você, lá pelas tantas, terá uma noite mais tranquila... Como esta.

r.A.

Um comentário:

Alan disse...

Eu não sei porque, mas eu amei esse texto!