quarta-feira, 24 de agosto de 2011

De manhã meu pulmão dói e meus olhos estão sempre vermelhos - e é assim que tem que ser...


.....Ocorre que dia desses estava caminhando pela biblioteca de uma escola. Olhava os títulos dos livros, abria, perguntava: tem alguém aí? E poucos me respondiam. Havia uma senhora lá. Cabelos finos. Senhora mesmo. Não arrisco idade de mulheres. Mas através dos cabelos finos tingidos de vermelho, eu conseguia ver partes do couro da cabeça. Ela era simpática. Mas xingava. Estava brava com alguma coisa. O computador, eu acho. Não estava conseguindo registrar uns livros. Tinha uma voz legal para um folk. Talvez um Johnny Cash, quem sabe... Tomava um chá de malva. “Você que trabalha bastante com a voz, deveria tomar menos café e mais chá de malva”. Eu não me importo. Mas aceitei um gole do tal do chá. Não conhecia. Meu paladar é limitado. Reconhece o gosto da vodka, do whisky, da cerveja, do café com whisky ou conhaque, do cigarro, de bicos de seios e da pasta de dente. Fora disso, é uma louca aventura. Então lá estava. Chacoalhando os livros para obter algum rugido de angústia, numa louca aventura com chá de malva e pensando no quanto seria fantástico sair dali. O nome da senhora não sei. Ela sabia o meu, porém me chamava de garoto. “Essa biblioteca é pequena... um desaforo! Não há espaço aqui”. É óbvio que eu acenei positivamente com a cabeça. Não sou muito de falar. “Estou lendo esse livro aqui”. Me mostrou Maquiavel. “Depois que terminar, vou doá-lo para essa biblioteca”. Aham. Certo. Dei um jeito de sair dali.

..... O que não gosto nas escolas são às grades. Dou aulas... mas tento fazer com que não se pareçam com aulas – no sentido “tradicional”. Me limito a provocar adolescentes. Sou bom nisso. Eles ficam bravos. Alguns batem os pés e xingam. Não me defendo. Entendo o espírito revolto destes. Professor vem de professar... expressar crenças. Não tenho crenças. Sou um paredão vazio. Educador vem de educere... fazer brotar. Minhas palavras não são sementes... não sou agricultor que cultiva a terra. Muito menos adestrador de bezerros. Mas que faço eu ali? Batemos um papo. Se ficar perigoso temos um clima. Pois é. Disso vem um dinheiro. Pago minhas contas. Já é alguma coisa.

.....Acontece que essa manhã eu vi um velho andando. Estava do lado de fora das grades... só por ali... pensando. Esse velho estava vestido com uns fiapos. Eu com a velha farda. O preto costumeiro. Não do rock. Lá dos três dos Tennessee. O velho com um saco de estopa. Cheio de latas, presumi. Mal conseguia caminhar. Mas ele era rápido. Na sua maneira. Me cumprimentou. Respondi. E lá se foi ele. Sorria. O sol nós dava o necessário para um bom sorriso. Aquela rua repleta de intervenções humanas, porém desumana. Prédios ladeavam os dois lados. Era úmido ali. Calçadas rachadas, asfalto e listras para os pedestres atravessarem. Um canteiro. Três pequenas árvores insistindo contra todo o concreto em torno delas. Uma luta desleal que com força às arvorezinhas abriam seu espaço. Um paradoxo. Não muito interessante, aliás, o paradoxo é ao que me refiro. Nos conhecemos ali. E não tive esperanças de nos conhecermos mais, nem menos. Não estamos presos a totalidade do olho e das impressões, obviamente. Isso me deixou feliz. Aquele velho e eu. Para além de qualquer narrativa possível. Um encontro fora da história. As maravilhas que o acaso assim escolheu. Nosso momento juntos. “Opa?”; “Opa!”.

.....Na casa que não é minha - mas me recolho nela- existem cheiros e marcações deixados por mulheres que por ela passaram. Esquento alguma coisa no micro-ondas. A invenção fantástica para homens preguiçosos! Não é que não gosto de cozinhar. Adoro, inclusive. Mas nessas duras batalhas que travo com minha preguiça, nem sempre bato no peito estufado enquanto canto o hino da vitória. Bukowski me confidenciou com bastante acerto que um escritor precisa ter as quatro paredes em torno de si para almejar uma chance. Na rua o resquício de chance que nos resta é rapidamente transformado em nada. Conheço o gosto do nada e até atribuo a esse sabor o muito de minha maturidade. No entanto, vinte e poucos anos não se tornam assim a constituição certa para encarar isso em demasia. Ouvi por aí que a infância acaba quando descobrimos por si só que um dia morreremos sozinhos. É não tem jeito. Tendo um dia fixado por um momento os olhos no nada e experimentado a solidão e as ausências com seus cheiros agradáveis/desagradáveis, somado a certeza da morte no fim do túnel (baita luz, ein?) esmigalham 99,9999... por cento das palavras que flutuam por aí no mundo. As coisas não são por aí parceiro (parceiro é cortesia que não sei se você merece...)! Existe muito mais necessidade de sapateado no abismo que a gente gostaria ou está preparado fisicamente e psicologicamente... e isso você não aprende na faculdade de psicologia... Nenhuma faculdade, ademais!

..... Ainda ocorre que paro porque parei.

r.A.

ps: Texto para os amigos – Gustavo Britto, Leo (Residentes), A.D.G. Aqueles que atribuem mais sentido do que eu conseguiria dar para essa narrativa.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Fulo de Mala (para quem gosta de contar vantagens!)

.....Não é fácil ser um mala, suponho. Também acreditava que não era possível ser mala o tempo todo – e sem alça. Mas é incrível! Existem pessoas que realmente chamaram para si o “ser-mala”. Uma coisa que me irrita é gente tagarela. Gente que não fecha a matraca por um segundo para pensar no que diz/escreve. Verdadeiros ratinhos eletrificados. Pulam e saltam e não param de opinar – como bem sabemos de opinião não se faz filosofia. E imagino ser este o motivo que leva um “mala” a não suportar minha presença. Admito que me divirto bastante quando vejo um ratinho preso na ratoeira se debatendo como louco – tendo levado uma dura cacetada no rabinho. Pobre bichinho.

.....Não tenho nenhuma pretensão em medir conhecimentos com ninguém. Já tive, quando pirralho. Acho de péssimo habito fazer isso. Tenho para mim que só alguém que não está resolvido consigo mesmo deseja sair por aí profetizando. Querendo impor seu “Deus”, neste caso, seu conhecimento, acima dos outros. Manuais básicos de ciências sociais trazem essas boas novas e conceitos relativos e generalizantes ao extremo direcionados didaticamente para adolescentes. É daí que esses tais malas se gozam escrevendo diversos textos acreditando piamente que existe apenas uma noção de sociedade (aquela que todos fazem parte) e uma só identidade (aquela que se aplica até aqueles que não a aceitam) e a história então: mais relativa impossível. É um passar por cima da singularidade a torto e direito. É quase inacreditável que ainda o ser humano consiga respirar depois de tanta ficção asfixiante!Schopenhauer já postulava que de 30 em 30 anos surge uma nova safra de acadêmicos. Incapazes de um pouco de estilo e de sentir o gosto denso do saber. Acumulam o conhecimento da humanidade para unicamente tagarelar. Cita aqui e cita lá. Verdadeiro esporte de verborragia. Não criam conhecimento, apenas citam (é que de alguma forma sabem que não possuem nenhuma autoridade em assuntos que abordam). Como já me avisava um velho amigo em uma conversa em um sebo: “Você já percebeu que certas pessoas acreditam ser intocáveis?”. É como se a academia tivesse ensinado esses figurões a tagarelar sobre a humanidade usando de métodos generalizantes, porém nada de falar deles: são divinos! Pois é, e eu, como Pessoa, “farto de semi-deuses”.

.....Interessante também são os “alfabetizados analfabetos ”. Sim, pessoas de pouca visão para coisas mais profundas. Tem gente “fula de mala” que na ânsia de atingir alguém – ressentidos, claro – se botam com a filosofia. Devem tomar uma forte injeção contra o sentir-se ridículos, pois, é quase fantástico ver como “fulos de malas” assim se atiram de cabeça no ridículo errando o alvo e caindo com a cara na merda. Em geral, fica difícil depois deste espetáculo ridículo, separá-los da merda – parecem, como que, feitos do mesmo material e de respectiva densidade. Mas pasme, esse é hoje o pré-requisito para escrever em jornais e revistas. Porém, se já sabemos que isso é óbvio, qual é o motivo que me leva a voltar a escrever sobre isso? O filósofo Bertrand Russell já dizia com bom humor: “Onde tudo está podre é função do homem gritar peixe fedido”.

.....Aprendi cedo, morando no interior, que gente que conta muita vantagem na hora do “vamos ver” suja às calças. E por isso já digo “chega de história” que o papo aqui é mais sério. E se o chapéu serviu... você não precisa necessariamente usá-lo. Todavia, se você usou o chapéu e esse lhe doeu na cabeça – alguma coisa de verdade deve ter no que eu disse para você gastar tanta energia assim comigo. Pois é. E andar por aí desfilando com uma pistola de isopor não vai melhorar sua situação – embora sempre exista um idiota de plantão para ser convencido a jogar confete em gente que “Elogia” para depois “Incluir-se” no bando. Aprender a fechar a boca e babar menos nas pessoas, talvez, melhore, ou alimente o amor próprio. O resto é mais história...

r.A.- Quem sou eu? Apenas um cara bom no manejo do reio!



domingo, 7 de agosto de 2011

Quer dizer que não ser idiota é ser como você?

“Ambição te faz parecer muito feio

Esperneante esgoelante porquinho da Gucci”

(Paranoid Android- Radiohead)

..... Não posso esconder que sinto “nojo” de pessoas que fundamentam sua própria existência em si mesmas. Isso quer dizer, sem aprofundamentos desnecessários para um texto demasiadamente simples, que me sinto nauseado por pessoas que elevam a si mesmo a um status de “grande coisa” para menosprezar aqueles que eles opõem enquanto “pouca coisa”. Pode lhes parecer um pouco brutal o que vou dizer, mas nas tripas da rainha da Inglaterra ou no cara que organizou a parada gay em São Paulo ainda tem MERDA. Então não somos anjos – no imaginário popular, anjos não cagam! E me parece que pessoas de nariz arrebitado, que são bastante convencidos de uma nobreza que não possuem, desesperadas para afirmar alguma dignidade que perderam e incapazes intelectualmente de avançar de forma séria para a construção de uma singularidade necessária, esquecem da merda que todo ser humano carrega nas tripas. Então, mesmo que você leia milhões de livros ou nunca tenha lido livro algum, você não caga uma merda melhor do que a de qualquer outro ou bicho (A). Como disse, sinto “NOJO” e não raiva de pessoas assim. Porque pessoas assim são protagonistas das maiores mediocridades humanas! E a mediocridade humana – pensar com a cabeça dos outros-, embora aceite e acredite que ela tem lá seu papel, procuro evitar que cruze meu caminho. Mas às vezes somos expostos a apresentação de acessos de ambas: Gente que quer elevar a si mesmo ao status de “grande coisa” e para isso tem, quase condicionalmente, que passar por uma explosão de mediocridade. Já tive pena de pessoas assim, mas depois de longamente ter me exercitado na filosofia percebi que sentir “pena” é pressupor estar em um patamar mais elevado. E não quero altares, hoje, pelo menos – e acho que atingi alguma maturidade quando assimilei isso em mim.

..... Em geral, essas pessoas que se acham “grande coisa” possuem uma imensa revolta dentro de si e por isso tem constantes “chiliques”. Pois não conseguem sustentar esse “grandecoisismo” do qual são fanáticos! Assim como temos merda nas tripas tudo que é possível acontecer com outros seres humanos, pode acontecer conosco – bastante óbvio, eu sei- e não fracassar é impossível! Mas os fanáticos de si mesmos não conseguem entender como alguém tão GRANDIOSO não passa de um jornalistazinho de meia tigela empregado em uma revistinha das putinhas burguesas de Chapecó – e por um salário de fome-, por exemplo. (r.A., agora você foi muito revelador... eu sei, mas é para ser bem didático). E por isso ele saltita de um lado para outro arrancando tufos de cabelos, explodindo na sua mediocridade. Por um tempo, esses tipos GRANDIOSOS, INTELIGENTÍSSIMOS, GENIAIS – obviamente somente na frente do espelho-, gastam uma boa parte da vida se auto-promovendo mergulhados na estranha obsessão de tapar os buracos (com qualquer tipo de objeto em mãos) e esquecer da merda que tem nas tripas. Julgam a vida de um, julgam a vida de outro – verdadeiros juízes que, fracassados, não passam de advogados de si mesmos – para esquecer de suas próprias vidas. Assim surge a receita e destes: Reduzir os outros para suportar não conseguir sustentar o EGOCENTRISMO agonizante. E os que ficam em torno desses, terminam por sofrer de um adestramento – coisa de poodle. Até um artista poderia se converter em verme atingido por essa neurose!

..... Estes que gostariam de ser algo que não são, terminam por investir unicamente nessa GRANDEZA. Mas, vamos lá... Obviamente a pessoa certa está lendo agora... Você é GRANDE no que? Afinal? Só é grande hehehe. Que lastimável!

..... Como vocês podem ver nitidamente (Nietzschidamente, hehehe) não é uma ação isolada de um sujeito que sofre de sua mania de grandeza – vítima de si mesmo, pobre coidado-, é uma denúncia psicológica de uma vida toda regada a valores medíocres, nunca colocados a prova até as últimas consequências! O que aconteceria se refletisse sobre si mesmo? Provavelmente continuaria a fazer o que tem feito. Reduzir os outros para aceitar a própria merdinha que se tornou. Pessoas assim, quanto mais reduzem os outros para “masturbar-se psicologicamente”, mais não conseguem afastar os olhos fixos da imagem tosca de si mesmos. Sofrem com a alegoria que enfrentam no espelho e antes de resolverem-se consigo mesmos preferem atacar o próprio espelho! Acham que conseguem atacar alguma coisa, mas só seguem atacando a si mesmos em um tipo de circulo masoquista. Bate no espelho, corta a mão, distorce ainda mais a própria face!

..... Esse fanatismo, esse descontentamento consigo mesmo lançado para todos os lados - culpado é o outro que não aceita minha grandeza e mais blábláblá-, está na moda! É claro que isso é sério! Como dizia Cioran no seu texto “genealogia do fanatismo”, é com bastante sangue que pagamos por não sermos indiferentes. Preguiçosos, talvez, para essa doutrina de masturbação pública! Como diz um filósofo amigo meu (PCê):_ “É menos, BEM menos!”. E se isso não lhes parece perigoso, agora lhes direi um choque que pariu este texto. Um desses fanáticos agrediu na minha frente uma amiga! Embora ela, para aliviar a situação dissesse que não foi nada, para minha sensibilidade em choque até o presente momento, ainda é bastante coisa! Continuo achando “nojento” enquanto escrevo sobre o tema. Não deveria estar sentindo “asco”, mas não sou um psicólogo treinado (risos) para tratar de tal paciente – que com toda certeza precisa de um acompanhamento psicológico (e provavelmente, esse sujeito do qual trato mais especificamente agora, deve achar GRANDE COISA precisar de acompanhamento psicológico – é que ele fez algumas péssimas leituras de Caio F. (risos)). Não tenho sangue frio o suficiente para fazer uma análise profissional sobre a demência deste indivíduo. Sou um filósofo – e odeio o termo “profissional”-, e, aliás, um filósofo que gosta de mergulhar profundo sem abandonar a escrita marginal. E por isso, para encerrar esse texto de forma bem “anti-profissional”, quero voltar a levantar uma pergunta que tive de fazer para um fanático destes que ameaçam seus amigos na noite: Quer dizer que não ser idiota é ser como você? Então senhor (A) fanático (A), vou sempre preferir ser tido como um idiota para pessoas como você, do que pertencer a um tipo como o seu! Me fiz entender? Ou preciso desenhar para uma inteligência débil como a sua? E aprenda a ouvir Radiohead, talvez eles dissipem esse seu recalque e absolutismo de termos vulgares – e pensamento vulgar ao extremo do excremento. E se tocar em alguma amiga minha na minha frente TE ARREBENTO até o espírito!

r.A. – Que não é peixe, nem ave e nem uma mariquinha fanática!

Obs: Essa história de não se conhecer uma pessoa, grande piada! Uma pessoa se revela sim na totalidade com uma mera ação!Se não fosse isso, então a arte seria mero artesanato!