O marco

.....Decididamente estamos no inferno todos os dias! Amanhecemos no inferno e o dia é curto demais para criarmos uma escada para o céu! É por isso que nos ocupamos com puteiros e igrejas. Zonas e Deus, pilares que evitam nosso fracasso de nos sufocar! Por isso lhe digo: é o único sentido... entre o inferno e o céu fechado: TE-QUI-LA!
_Sábias palavras Jose. Resmungou Ramirez enquanto jogava outro graveto no fogo. Rosnou pelo esforço de se abaixar. Sua enorme barriga e baixa estatura não revelavam vantagens para juntar gravetos.
_Quais? Perguntou Jose chacoalhando meia garrafa de tequila e tomando uma boa golada. Uma gota escorreu do bigode sujo na face magra.
_todas!
_Você nem entendeu nada do que eu falei.
_mas ficou bonito vendo você falar essas coisas... a fogueira deu clima! Falou Ramirez enquanto tirava a garrafa de tequila das mãos de Jose.
_baita viado você está se saindo! Sussurrou Jose por entre os dentes amarelados.
_viado é você falando essas puticesses com outro homem em volta do fogo.
.....Silêncio eterno entre os mexicanos. Jose buscou por baixo do casaco, que mais parecia tapete de cachorro dormir, sua pistola de cano torto. Lembrou-se imediatamente que negociara sua pistola por cinco garrafas de tequila. Concluiu que Ramirez ainda estava armado. Olhou para o céu e do céu para a cidadezinha miserável no meio do nada, onde a poeira parecia querer engolir a cidade. Ainda achava incrível que à noite fizesse tanto frio logo que o dia fritava os miolos. Da cidadezinha voltou a olhar para Ramirez que estava com a mão embaixo do casaco fingindo coceira.
_você tem razão. Murmurou Jose. E saiu em direção à suas tralhas que deixara próximo aos destroços de um muro.
_ deixe o trago aqui... já que vai se encostar e brincar de morto.
.....Jose tirou os olhos da garrafa entre os dois.
..... Logo que sentiu os miolos fritarem se deu conta que estava só e as garrafas de tequila deixaram saudade. Cuspiu para o lado e ajeitou as calças. Embolou suas tralhas e tomou a direção da cidade castigada pelo sol da manhã. Sabia onde Ramirez venderia às tequilas restantes.
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_Já trepei com mulheres tão feias, que os urubus me bicavam o rabo enquanto trabalhava! Mas neste bordel aí, eu não entraria garoto...
_quieto velho! Ou vai deitar na poeira. Mijado à tapa.
.....O velho com sua cadeira escorado à sombra do único bordel da cidade sacou uma faca e espalitou os dentes podres. O poncho em farrapos lembrava um papel higiênico usado sete ou oito vezes. Cerrava os olhos para fixar o olhar em Jose contra o sol – o que lhe dava um aspecto mais repugnante do que... sei lá!
_eu disse tapa? Quis dizer beijos. Sou puto! Gostei de você velhote!
.....O velho balançou a cabeça negativamente e deu um sorriso asqueroso.
_se é realmente puto, quero que sente em cima deste corvo. Disse o velho levantando o sombreiro que jazia a seu lado e revelando o cadáver do pássaro._ Quero que sente em cima desse corvo e o arraste com a bunda até o fim dessa estrada.
.....Jose agarrou rapidamente um pedaço de pau que estava próximo. O velho sacou uma pistola e coçou o pé com o cano. Jose cravou o pedaço de pau no chão com fúria, seguida de uma expressão de grito contido.
_deste marco até o fim da estrada e sem trapaças! Respondeu decidido. Sabia que ganharia um apelido, mas também sabia que desse dia em diante fabricaria sua própria tequila.

r.A.