terça-feira, 1 de março de 2011

"É preciso estar bem embriagado para suportar essa tristeza!"- Tom Rushen Blues


..... Estou no ano de 2011 preso em um blues de 1929. Eu procurei uma prisão que pudesse suportar, mas fui atraído para além da força de minhas pernas grossas. Sei que não me esforcei o suficiente, mas alguém há de se afetar como eu pelo que me cerca e saber que no meio do caminho a gente cansa nosso interesse! Uma noite eu fiz um café de homem, daqueles que faz o coração dar saltos e cambalhotas. Torrões poderosos boiavam naquela escuridão toda... Olhando dentro da xícara, era como se eu estivesse em frente ao espelho. Lá fora as coisas vão mal – é o que dizem-, mas aqui dentro, meus amigos, está tudo bem pior! Minha força fez com que não encontrasse mais adversários dignos – e um homem precisa de adversários dignos. Assim, quando caminho pelas ruas à noite, deixo rastros de abismo e uivos de desespero. Há sangue rançoso no meu passado e horizontes de chumbo no meu presente. Dia pós dia pessoas me dizem coisas, mas só Charlie P., mas só o velho Charlie... Não me sinto cansado – fora o meu interesse- desde que atirei na voz da noite. No entanto, calei tão fundo... tão fundo... E a fumaça do cigarro me empurra para a janela... Tenho uma cadeira de rodas que pintei de azul e seis prestações de um bom relógio. Fora isso, só um casal de retóricas que já não estão parindo nada e um violão empenado escorado na pilha de poetas franceses. Você já se perguntou sobre o “fim das contas”? Pois é, estou assoviando Charles P. duas quadras depois. Quando se está onde estou, uma boa mentira iria bem... Talvez com um pouco de gelo até arrancaria um sorriso de minha boca seca. Mas eu quero outra coisa... Uma coisa que foi riscada do cardápio antes de fazer parte do dito... E nada consegue me distrair. Se pudesse acreditar, diria que me chutei pelas costas – de um modo bastante covarde, aliás-, no entanto, não sofro das crises do solitário... Felizes são os cães que esperam seus donos... Felizes são os cães que se sentem especiais quando lhe jogam um osso para roer. Há sim uma verdade! É algo que cauteriza às feridas. Posso não ser feliz, mas estou tão bem... tão bem... E quando estou sério, há algo tão suave na minha sombra... tão melhor... Enquanto a maioria das risadas que me cercam são faíscas, meu rosto inexpressivo é um incêndio!


r.A.


(Dedicado ao cara que não tem "seu começo")

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