terça-feira, 9 de março de 2010

A filosofia lhe disperta com tapas na mente!

Ser intempestivo, impertinente, revoltado – não revolucionário- parece-me as características de inquietação que me direcionaram para a filosofia. Um jovem entre os velhos sábios que continuam jovens! Comecei por uma implicação “tola” e que ainda perdura em mim... Uma noite, fechado no quarto, olhei para minha mão e fiquei buscando razões para esse momento. Como funcionam os mecanismos de conhecimento dos humanos, porque fazem isso – tentar encontrar sentido para o que é ser humano-, como nascem as explicações poéticas, religiosas, científicas, artísticas, literárias, filosóficas para nossa existência. Tudo me compelia a não seguir esse caminho! Questões de solidão me atormentavam (com quem irei conversar depois que dessas coisas souber, já que geralmente as pessoas se satisfazem com as respostas mais obvias e mais facilmente compreendidas sentindo-se importunadas quando cobrada delas uma compreensão um pouco mais aprofundada?), no entanto, como já me sentia só a maior parte do tempo, aceitei esse caminho. Tinha a meu favor a solidão, a incompreensão dos que cotidianamente me cercavam e por fim, tornou-se a filosofia um hábito sem ser fuga.
Primeiro ficou mais difícil me comunicar justamente porque estava cada vez mais sendo mais claro e objetivo. As pessoas em geral não são acostumadas com isso, elas julgam como arrogância, acham descortês pensar demasiado. Se você argumenta elas se sentem ameaçadas, se você diz algo que as fazem repensar suas posições levam para o lado pessoal – tomam como um convite para uma troca de disparates! Hoje sei lhe dar com isso, um pouco de humor nunca me falta!
Então eu estava lá com meus dezenove para vinte anos, cansado das reuniões de família onde se apresentava semanalmente o relatório do cotidiano sem ao menos resignificar o que isso vinha a propor enquanto aprendizado para a vida. Encostava-me em uma cadeira qualquer e os via afundados em sintomas, em bílis, em remorsos por coisas tão pequenas e objetivamente resolúveis... Era como olhar para um programa de t.v. reprisado pela vigésima vez onde tudo se repetia, os erros e acertos. Os amigos foram mofando e estragaram, novos amigos foram aparecendo e alguns mofando e estragando também – mas os que ficaram preencheram os espaços deixados. A solidão e o silêncio das noites começaram a reluzir como ouro, enfim, depois de vinte anos eu aprendera a conquistar a minha solidão. Finalmente não era mais falta de aceitação de minhas estranhezas, era uma opção (ainda é)!
Eu aprendi a saudar a escuridão (minha cor favorita é o preto...) e a luz das primeiras horas do dia, saborear o silêncio, dar boas vindas a boas ideias , Companhia amiga é FESTA! Me satisfiz com pouco, não precisei nem me matar em uma academia para entrar em uma calça da moda, nem ser fotografado onde todos estavam; aliás, eu sumi! Morri para um mundo desses e flutuei na poesia, na literatura, na música que valia a pena, nas marcas de sangue dos melhores de nós, os que realmente se implicaram! No começo me aborrecia pelas pessoas que mendigam os olhares alheios ao mesmo tempo que não os aceitam e fogem deles, hoje raramente isso me assombra. O melhor de tudo, nunca fiz novena em igreja e nem bajulei o poder político! Os amigos que tenho me libertam das prisões sem grades e eu retribuo na mesma moeda com a satisfação em si mesma (e isso me faz sentir que meu poder aumenta). Colho e lavo minhas lentilhas sem atribuir o significado disso a um ente superior (de voz flatulenta). Superior a mim mesmo sou eu me superando!
Hoje estou no último ano do curso de filosofia, pensei: O que isso significa para mim? O diploma apenas uma burocracia (necessária) que abre algumas portas. Ter me tornado um filósofo? Ser o senhor de meu destino! É revigorante saber que estou vivo para morrer e não morto para a vida!
Ainda olho para minha mão quando sento no quarto (que agora também é uma biblioteca), sempre há algo novo ali além da carne... Isso é uma felicidade que mal cabe em mim!
r.A.

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