quinta-feira, 18 de março de 2010

A conquista da invisibilidade

-Por- r.A.

Sempre que fora possível um erro terrível eu estava lá! Onde todos venceram eu perdi, onde todos eram belos e fortes eu era o oposto, mais um oposto extremado. Algo quase digno de ser aplaudido, já que ninguém podia ser pior do que eu. Sangrando sem causas – oh, quem me dera ter sido um mártir da igreja católica, mas não acredito em igrejas e muito menos no que elas pregam-, chorando por uma humanidade que nunca soube de minha existência e não apresenta ânsias de saber algum dia... Sou o herói torto de uma geração invisível, o coração de frango em um pote de margarina, um espírito em conserva no fundo bolorento da geladeira de uma avó morta. Descanso na cárie daquele dente de leite que você colocou embaixo do travesseiro para a fada do dente, mas sua mãe jogou no lixo quando fazia faxina. No entanto, lembre-se, isso não é nada triste! Aqui senta em meu colo a felicidade de um cão que lambe o focinho sujo de terra.

Como cheguei onde estou?

1- Faço parte da humanidade...
2- A humanidade deixou o cérebro em um canto da cabeça, em desuso...
3- Um silencioso acidente me serrou ao meio...
4- Meu coração caiu na vala e,de esgoto em esgoto, afundou no mar...
4.1- Um peixe barriga o engoliu...
4.2- Um pelicano capturou o peixe barriga...
4.3- O pelicano foi atingido por um raio que o fulminou...
5- Embora pareça contraditório, eu não sei dessa história: você sim!

...Completamente intoxicado por cervejas e cigarros contínuos, no fundo de um bar de marinheiros sem capitães, iluminado por uma única lâmpada em um canto do teto, 80 watts, brincando com seu último níquel entre os dedos, tentando lembrar-se de algum erro que o trouxe até aqui – e não reconhecendo nenhum -, jogando a culpa nas costas dos outros (todo o sistema solar são os outros), com os pés sob as botas recém tiradas, no intuito de resfriar os calos que alegremente latejam, caiu em uma rachadura da história toda e se foi...

_Mas que raio fazem essas botas puídas embaixo dessa mesa?
_Ora, não seja impertinente! Deixe as botas fazerem o que bem entendem! Alguma bota já te importunou por estar em um bar?
_Você esta certo...
_Claro que sim!

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