quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Segunda Versão

Foi pelo buraco feito por um prego na parede onde minha mãe havia pendurado um quadro meu que a solidão entrou. A solidão e o cansaço. Eu aprendi por necessidade a amarrar os cadarços dos tênis e cruzar a porta e pisar na rua... Chovia. Eu visitava as pessoas e às vezes elas me deixavam dormir em um canto do quarto. Sorria menos do que agora. Sentado na cama lá do quarto das pessoas as observava e até que me contentava com um olhar de canto de olho... Será que fui feliz quando tudo acabou? O eu de hoje não pode responder, o eu de antes não se fez essa pergunta; estava ocupado demais com as ataduras e os remendos. Um dia alguém me disse:_ Mas me diga, eu vou lembrar! E eu disse:_ esquece... nunca ninguém lembrou... Eu disse. Esse alguém esqueceu. Foi a primeira vez que me aventurei para além daquele buraco na parede e não me sinto decepcionado. O quadro, o prego e a parede não existem mais enquanto o buraco caiu no buraco. Sobre a solidão e o cansaço não posso dizer o mesmo.



r.A.

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