De repente você perde tudo. E percebe que é um
péssimo ganhador – ela te disse isso – e mesmo quando tem o que deseja nos seus
braços, quer mais. Trinta anos e cem mulheres seria uma boa conta se você não
terminasse sozinho com o cinzeiro cheio. Depois elas continuam indo para suas
respectivas casas e você continua num vazio que amor algum é capaz de
preencher. Acredite rapaz: o problema sempre foi você.
De
repente é outra noite com você sentado na frente do computador na companhia do
cigarro e do café. Chamam essas criaturas exóticas de “escritores”. São ótimos
quando estão longe, terríveis de se ter por perto. Porque um escritor não passa
de um idiota desgraçado pelo veneno da introspecção.
É
importante que você entenda que estou falando de gente como eu e não de gente
que quer se comunicar – publicitários, jornalistas e outras mentes rasas que
multiplicam merdas! O que sei é o seguinte: não escrevo para que você se identifique
comigo ou me deteste; escrevo porque se não fizer isso não haverá outra noite.
Se você se identifica ou detesta, acho que mais importante foi nos encontrarmos
nesse silêncio todo.
Escrevo
essa linha, depois outra, é possível que mais uma virá além desta. E a cada
palavra, disparada como um soco, posso perder tudo – e foi assim que pude
existir. Gosto mesmo é desta tensão. Misto de coragem e covardia, pois, sou
covarde ou corajoso apenas nas horas improváveis ou “erradas”. Se fosse para
agradar arriscaria um programa de auditório: Domingão do Rodrigo.
Admiro
gente que... mentira, não admiro ninguém! Quanto mais andei entre os seres
humanos, quanto mais me envolvi com essa espécie, mas tive certeza que suas
palavrinhas não valem nada. E as minhas? É isso que temos em comum apesar de eu
ter assinado minha demissão já faz algum tempo (que tempo?).
No
entanto, veja. Quanto mais raso for o animal mais será capaz de proferir
sentenças e cumpri-las. Daí a profundidade dos gatos e das baratas. Não fundam
religiões, não inventam partidos e não chegam no
horário.
Admiro
gente que... é claro que não! Alguns tropeçaram na impotência e desapareceram
dentro de si. Um vazio imensurável. Talvez o terror da escuridão e do abandono
seja o terror dos olhos voltados para o lado de dentro do organismo. Os
ferimentos cicatrizam para evitar que a luz entre na pele. Vamos esclarecer uma
coisa: não há nada que possa ser esclarecido!
Aceito
que sou um idiota vagando em um mundo ridículo. O contrário é o que reza a
autoajuda: Você é especial desfilando num universo magnífico. O problema sou
eu, é claro. Me basta cinco minutos olhando nos olhos de alguém para não
conseguir concluir nada.
A parte
positiva de ser um idiota vagando em mundo ridículo é que se eu estiver certo,
sinto pena de tudo. Você e eu somos lamentáveis. Se estiver errado, esse mundo
e todas essas pessoas, estarão salvas. Mas não vejo porque alguém deveria se
ocupar no infrutífero exercício de me dissuadir do contrário.
Mas não
se engane comigo, cara. Isso aqui está longe de ser pessimista! Escrevi para
habitar devidamente essa solidão e esse silêncio – que é a garota mais bonita
que conheci e senti de lhe apresentar. Também
sou daquelas mulheres que apanham do marido e por algum motivo não denunciam.
E agora,
você e eu, podemos nos despedir. Quando foi que você imaginou experimentar uma
situação de amizade tão insólita?
r.A.
OBS: Sim, as partes em branco é destaque sem sentido!
OBS: Sim, as partes em branco é destaque sem sentido!