sábado, 6 de agosto de 2016

Sem desejo de título



De repente você perde tudo. E percebe que é um péssimo ganhador – ela te disse isso – e mesmo quando tem o que deseja nos seus braços, quer mais. Trinta anos e cem mulheres seria uma boa conta se você não terminasse sozinho com o cinzeiro cheio. Depois elas continuam indo para suas respectivas casas e você continua num vazio que amor algum é capaz de preencher. Acredite rapaz: o problema sempre foi você.
De repente é outra noite com você sentado na frente do computador na companhia do cigarro e do café. Chamam essas criaturas exóticas de “escritores”. São ótimos quando estão longe, terríveis de se ter por perto. Porque um escritor não passa de um idiota desgraçado pelo veneno da introspecção.
É importante que você entenda que estou falando de gente como eu e não de gente que quer se comunicar – publicitários, jornalistas e outras mentes rasas que multiplicam merdas! O que sei é o seguinte: não escrevo para que você se identifique comigo ou me deteste; escrevo porque se não fizer isso não haverá outra noite. Se você se identifica ou detesta, acho que mais importante foi nos encontrarmos nesse silêncio todo.
Escrevo essa linha, depois outra, é possível que mais uma virá além desta. E a cada palavra, disparada como um soco, posso perder tudo – e foi assim que pude existir. Gosto mesmo é desta tensão. Misto de coragem e covardia, pois, sou covarde ou corajoso apenas nas horas improváveis ou “erradas”. Se fosse para agradar arriscaria um programa de auditório: Domingão do Rodrigo.
Admiro gente que... mentira, não admiro ninguém! Quanto mais andei entre os seres humanos, quanto mais me envolvi com essa espécie, mas tive certeza que suas palavrinhas não valem nada. E as minhas? É isso que temos em comum apesar de eu ter assinado minha demissão já faz algum tempo (que tempo?). 
No entanto, veja. Quanto mais raso for o animal mais será capaz de proferir sentenças e cumpri-las. Daí a profundidade dos gatos e das baratas. Não fundam religiões, não inventam partidos e não chegam no horário.
Admiro gente que... é claro que não! Alguns tropeçaram na impotência e desapareceram dentro de si. Um vazio imensurável. Talvez o terror da escuridão e do abandono seja o terror dos olhos voltados para o lado de dentro do organismo. Os ferimentos cicatrizam para evitar que a luz entre na pele. Vamos esclarecer uma coisa: não há nada que possa ser esclarecido!
Aceito que sou um idiota vagando em um mundo ridículo. O contrário é o que reza a autoajuda: Você é especial desfilando num universo magnífico. O problema sou eu, é claro. Me basta cinco minutos olhando nos olhos de alguém para não conseguir concluir nada. 
A parte positiva de ser um idiota vagando em mundo ridículo é que se eu estiver certo, sinto pena de tudo. Você e eu somos lamentáveis. Se estiver errado, esse mundo e todas essas pessoas, estarão salvas. Mas não vejo porque alguém deveria se ocupar no infrutífero exercício de me dissuadir do contrário.
Mas não se engane comigo, cara. Isso aqui está longe de ser pessimista! Escrevi para habitar devidamente essa solidão e esse silêncio – que é a garota mais bonita que conheci e senti de lhe apresentar. Também sou daquelas mulheres que apanham do marido e por algum motivo não denunciam.
E agora, você e eu, podemos nos despedir. Quando foi que você imaginou experimentar uma situação de amizade tão insólita?





r.A.


OBS: Sim, as partes em branco é destaque sem sentido!


segunda-feira, 13 de junho de 2016

Caí sobre meus joelhos




Deixei de acreditar na bíblia, assim como a maioria, exatamente quando aprendi a matemática básica. Quero dizer que fiz uns cálculos que me deixaram desconfiado. O desapontamento foi o seguinte: mais de dois milênios anunciando o apocalipse e NADA! Quero meu dinheiro de volta, me sinto ludibriado.
         Não fui uma pessoa ruim e também não fui uma pessoa boa – até aqui. Mas a única coisa que me mobilizou na fé foi a perspectiva de um final dos tempos. Preguiçoso demais para colaborar com a aniquilação da espécie, rezei por intervenção divina. Concluí, depois de outro cálculo, que Deus não me obedece. Me senti ludibriado pela segunda vez, quero meu ateísmo de volta.
         Eu sempre soube que para fazer parte da turma e gozar de todos os privilégios – a turma é a humanidade, ok? – tinha de ser otimista e me untar de esperança. Mas como fazer isso se sentindo enganado nas únicas questões metafísicas de meu interesse? Falando de interesseiros, não te parece que fazer parte da turma te torna um desapegado do egoísmo? Vamos falar do “bem comum”? E onde é que vou enfiar o “bem complexo”? No..., prefiro não.
         Cara, é bom que deixemos isso bem claro aqui, não sou um renegado (antes de me julgar vai até o dicionário e pesquise o termo). Se a origem e fim de todos os tempos foi solucionado pela escala do blues, o que mais posso fazer? – não animal, não é pra você responder; só estou fazendo graça.
         Bem, não apresentei nenhum argumento para o fato de não ser um renegado, mas confie em mim, minha palavra já é autoridade suficiente: “creio porque é absurdo”... etc.
         Se não me engano – e é claro que me engano em todo resto, excetuando isso e o amor – as dores exigem nossa crença na economia, isto é, terá de haver uma recompensa no final do arco-íris. Ou essa vida dói porque dói. Pode ser que os gregos do teatro inventaram a encenação da tragédia, mas o conteúdo parece ter sempre pairado sob nossas cabeças.
         Talvez você se lembre – eu não lembro, nasci jovem demais, rá rá rá -, mas começamos chorando aos berros para que nossos desejos sejam atendidos e na medida em que perdemos a revolta descobrimos a resignação. O silêncio é outra coisa.  
         Como me faltou talento fui empurrado para o fundo da turma e pra chamar atenção aprendi o ofício de palhaço taumaturgo. Se me arrependo? Ah! Você acha que outra pessoa poderia escrever isso aqui que acabou de ler? Às vezes me bate aquele orgulho...




r.A.


Ps. Segundo Robert Johnson, se você esperar numa encruzilhada, o segredo da origem e do fim de todos os tempos lhe será revelado. 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Sabe o que para mim tanto faz?

“Eu sempre consegui pegar alguém”.
_Beckett. O inominável.



         Tudo bem se essa garota que acabou de entrar no bar dispara esse olhar sem vergonha na sua direção. Então ocorre que você que já passou dos 25 anos e continua sem ninguém – e provavelmente continuará assim por mais dez anos, mas jamais sozinho plenamente- entende como isso tudo funciona. Porque as noites de calor para sujeitos comuns como você são generosas se souber fazer de conta que merece mais do que vale. Ainda não é deprimente, pode piorar.
         Então ela vai até o banheiro, lá nos fundos, e retorna com a maquiagem retocada e se não fosse aquele olhar com o canto dos olhos e o sorriso com o canto dos lábios, tudo seria algo de indiferente. Outra cerveja chega na sua mesa – e seu colega magrelo enche os copos – e outra cerveja chega na mesa dela com suas amigas rindo sonoramente para demonstrar uma diversão natural. Natural?
         Chega sua vez de andar pelo bar com sua botina descolada e todos reparam – quando disse descolada é descolada mesmo, não é que é uma botina “bacana”, é que precisa de um sapateiro! – e aquela garota te acompanha com a cabeça e sacode as mechas sob os olhos.
         Note que você pensa em outras, outras garotas que não souberam lhe dar esse pouco que merece e você poderia obter isso sem tanto esforço e encrencas descartáveis. Se não perceber que foi um boboca até o momento, talvez essa seja a ocasião.
         Em um segundo pode lhe cair a ficha que faltava: tudo que vivi me trouxe até aqui? Foi para isso que trilhei ruas escuras em noites vazias ouvindo papo furado de imbecis? E você vai saber que não está morto! Bem vivo, rapaz.
         Quantas garotas podem lhe comparar com outros caras que lhe trataram muito bem, mas não foi o suficiente? Todas? E aquelas histórias todas que desperdiçou seus ouvidos para entender apenas que é dispensável? E aí você repara que foi sempre um burro, sempre tratado como um resto. Sabe muito bem que alguém lhe dirá:_ Não, não é isso, você não está me entendendo...
         Ria.
         Não esqueça de rir. O romantismo ficou lá para os alemães antes da segunda grande guerra. Você leu um pouco e sabe como essa história toda termina. Fique esperto, garotão. Tudo é mais simples do que imagina.
         Você termina sua ronda no bar e lá está ela acendendo um cigarro. Daí você se aproxima e puxa assunto, falando de um velho clássico do Rock. Ela finge prestar atenção porque no fundo todos fingem do mesmo jeito quando as intenções são evidentes.
         Sua vida está acabando, pense nisso.
         É hora de acordar para a realidade. As coisas são bem menos bonitas e bem menos fantásticas do que você queria. E embora estejam todos de olho em uma bela história é a poeira negra e os fluídos medíocres que sobram.
         O sexo é fácil e as declarações de amor impertinentes. Percebeu que depois de um longo período tentando mudar foi apenas seu excesso de imaginação que alimentou?
         Agora sabe o que para mim tanto faz? Ocorre que você jamais será como eles. Não nasceu para isso. Felizmente – como naquele poema - : Nascemos apartados.
         Amém.




r.A.
                 


quarta-feira, 6 de abril de 2016

Culpa de vocês!



         O que você não precisa entender é que qualquer um pode lhe falar do inferno. Eu, por exemplo, quando falo do inferno estou pensando em Dante e na bíblia sagrada. Não sou um escritor tão criativo assim e por isso fora destas imagens emprestadas só consigo, se tiver que falar do inferno, falar deste mesmo mundo que você e eu contemplamos todos os dias.
         As pessoas que me cruzam por aí me dizem que exagero e que no fundo o mundo não é tão horroroso e desesperador como faço parecer enquanto escrevo. Vai ver são meus olhos viciados a se manterem fixos no outro lado, aquele que não é o lado bom. Mas e se isso for uma estratégia, digo, se isso for minha maneira de perceber pequenas maravilhas perdidas em meio a tanta ruína? Bem, se eu disser que achei uma coisa bonita pode ter certeza que me comoveu pra valer. Esses dias ocorreu nas primeiras horas do dia.
         Gente legal escreve para compartilhar coisas legais que – não duvido – existem por aí. Meu caso não é esse, como você pode notar, só quero compartilhar que estou de saco cheio. E quando me encontro nesse estado de espírito, como não encontro ninguém que confesse suas angústias, preciso fabricar meu antídoto. Podemos acrescentar o seguinte: tipos como eu não acreditam que as pessoas são felizes tanto quanto querem parecer.
         Minha questão é simples: por que ninguém fala que a metade da semana é uma merda se você bate o carro, leva a picada de uma aranha nojenta, se dá conta que os representantes políticos (na sua maioria massiva) torram o dinheiro dos seus impostos em putaria enquanto você conta as moedas para o aluguel, sua garota está de tpm e espera que seja compreensivo, a televisão só mostra lixo e vômito (me contaram), seu marido atende à ligação da amante em pleno jantar, seu filho ou seu pai é um idiota incorrigível, o pastor da igreja na esquina da sua casa tem merda na cabeça e berra como um desgraçado – que no fundo é, de fato -; enfim, por que só eu e Dante falamos que quem entrar aqui precisa abandonar todas as esperanças? O resto do mundo em silêncio, me observando, encontrou o ingresso v.i.p.?
         Leia o texto até aqui para seu/sua parceiro/parceira e observe o comentário:_ Esse r.A. só reclama de tudo, deve estar bêbado! (Então... ainda não deu para ficar bêbado, mas não pense que não estou me esforçando).   
         Não nos entendemos, meu querido leitor, porque tenho azar e você tem sorte. Porque sou feio e sem talento, você é lindo e talentoso. Sou um filho da mãe pra lá de furioso e você suporta o Faustão no domingo – estou improvisando, não assisto televisão e por isso não sei se Faustão ainda está vivo... alguém me avise se ele morrer, ok?
         Esses dias fiquei comovido nas primeiras horas do dia, como dizia antes. Só que não é disso que vou falar, sinto muito (porra nenhuma!). Quero que olhe para seus amigos todos e, inclusive, no espelho e me responda o seguinte:_ O que foi que ganharam fodendo com esse planeta que habito?
         (Eu teria sabiamente escolhido Plutão).
         Sempre fui um preguiçoso e por isso nunca movi um dedo para alterar a ordem das coisas. Cale a boca se passou pela sua cabeça dizer que eu deveria fazer qualquer coisa para deixar tudo isso melhor.  Não é esse o caso. A culpa é de todos vocês – que leem, se masturbam pensando na mulher do vizinho, pagam suas contas em dia, querem o impeachment ou não! Um dia saí na rua e estava tudo virado numa palhaçada: vamos nos respeitar.
         As pessoas que me cruzam por aí me dizem que exagero e que no fundo o mundo não é tão horroroso e desesperador como faço parecer enquanto escrevo e só não sugiro para essas pessoas irem para o inferno porque tenho certeza absoluta que já estamos nele. Se alguém tem contato com Jean-Paul Sartre mando dizer que o inferno não são os outros, nada. O inferno é o que fizeram com esse mundo – sem a elegância de me consultar – e agora tenho que reclamar disso. Pois que essas pessoas tenham a sensibilidade de se mudar para Plutão e me deixar aqui! É o certo e o melhor para todos.
         Agora, sabe quando disse que qualquer um pode lhe falar do inferno? Eu menti para prender sua atenção. A verdade é que somente eu posso falar isso. Perderam a chance de falar disso e agora que encerro esse texto fique sabendo que se ousar o plágio meus advogados (um bando de merdas loucos para sangrar o bolso de alguém como todos advogados são) entrarão em contato imediatamente.
_Um último comentário senhor r.A.?
_Sim. Foda-se quarta-feira, 06 de abril de 2016!



r.A.

p.s. Foda-se H1N1, sertanejo universitário e funk, tudo isso é culpa de vocês. Eu sei.


          

sábado, 26 de março de 2016

A saudade é a fome do desejo



  Aquela praça cheia de gente e os bares cheios de gente. A escada onde sentamos uma madrugada e você me disse que não sabia me dar prazer – naquele momento estava me dando prazer e nem fazia ideia o quanto. Aquelas pessoas todas falando e eu atravessei a rua com as mãos nos fundos dos bolsos da calça jeans manchada na cocha esquerda: nem sempre acerto na dosagem do sabão em pó e em todo resto.
        Aquele momento em que você se sente apartado de todo mundo e pensamentos fazem redemoinhos nos cantos escuros de seu crânio, sentimentos coçam feito pulgas no peito. Dou passos mais largos e mais rápidos na esperança de gastar a energia do corpo e apagar qualquer coisa da mente. Quem sabe se isso funciona?
     Uma implacável fome do desejo. O desejo ficando raquítico e implorando para que eu deixe de ser malvado com ele. Essa absurda autodisciplina com a ilusão de ser de ferro. Observe qual é a ferida que estou cauterizando enquanto meus passos medem as ruas. Os ursinhos carinhosos vencendo meu coração gelado.
_Não pode ser. – resmungo olhando o reflexo de meu rosto cansado na janela de uma lanchonete lotada de gente.
         Gente. Gente por toda parte. Nas ruas festejando qualquer coisa, nos carros buzinando nas avenidas; nas livrarias folhando livros que não tem nada dentro, gente que não quer entender do que eu preciso. No início tive curiosidade, depois detestei todos por exporem apenas seus desejos o tempo todo, mais depois ainda, encontrei consolo em uma quase indiferença. Aquelas ruas empesteadas de gente e de mim. Eu intoxicado de mim. Na verdade não preciso de muita coisa, sabe?
         Aquele caminho que meu corpo se lança sem pensar muito. E lá vai ele, o enorme corpo, passeando com os sentimentos acima da cabeça como se fossem um balão de parque de diversões: formato de peixe-boi. Agora pisando com cuidado no lugar onde de maneira secreta suporto a solidão. A gente trocando olhares na calçada, fingindo segurança para quase ocultar enormes valas de saudade. A gente é muito sensível quando pode. E pode sempre, mas não quer.
         Se por um momento eu fosse todo mundo seria todo mundo engolindo o choro da sua ausência – inclusive você. Se por um segundo eu fosse a consciência da multidão essa multidão desabaria em convulsões. Acontece que sou somente eu, sem você, atravessando a cidade como se procurasse algo e sabendo que você não está lá. Saber que você não está lá se chama “que merda, vida filha da puta!”.
        As travessas, os viadutos, as pontes, os sinais de trânsito. Os mendigos, os alegres cachorros dos mendigos, os vendedores de artesanato, o grupo de conhecidos que te chamam para se juntar em volta de algumas garrafas e você sorri desanimado e sacode negativamente a cabeça. Não queria te dizer isso mas concluo que a saudade é a fome do desejo. Sussurro canções até chegar num apartamento alugado que já não me defende de nada lá fora.
         Preencho páginas, páginas e outras páginas. Leio um livro, dois, três e quatro. Bebo outra caneca de café e abro a segunda carteira de cigarros. Cruzo as pernas e observo uma sala escura toda bagunçada. Você acertou quando disse que sou um péssimo ganhador e um sujeito cagado de sorte. Talvez o fogo que me consome brote justamente das faíscas dessas duas pedras friccionando uma na outra.
         Aquele silêncio se espalhando nos cantos e no teto. Aquele silêncio entrando pelos meus ouvidos e me preenchendo completamente. Eu sendo pleno silêncio desde de ter andado quilômetros procurando o que não estava lá e nunca poderia pegar e abraçar junto ao corpo. Essas coisas só te enlouquecem enquanto você não compreende o quanto precisa disso. Não podemos mais imaginar o que eu seria se não fosse essa loucura toda. Aquele silêncio louco que sou eu, às vezes.
         Parte do meu corpo arrasta a outra parte do meu corpo. Parte de minha vida arrasta a outra parte da minha vida. Parte dos meus desejos morrendo de fome de você, a parte que sobrou morrendo de sede de você. Vai ver que tem gente que nasceu para não ficar junto – e nessas horas agradeço por saber dizer Foda-se o destino ou a ideia de destino. Parte de mim arrastando outra parte de mim em direção ao novo nascimento silencioso. Eu jogo dados na fronteira e monto meu pequeno acampamento na margem. Molho a pena com a qual escrevo na tinta negra que escorre do cadáver de Deus. Parte da minha boca sorri.
         Tiro a botina do pé esquerdo. O que foi que matei nessa madrugada? Tiro a botina do pé direito. É dos sonhos que me defendo? Tiro as meias e coloco dentro das botinas. Não sei reconhecer o que ganhei? Tiro a camisa preta, penduro em uma cadeira no quarto. Você recitaria Rimbaud para alguém numa noite dessas? Tiro as calças e jogo a cueca na pilha de roupas sujas. A gente sabe que tudo morre? Abro o chuveiro e fico lá por dez anos. Não entendo direito porquê estou rindo, mas estou.
         Aquele mundo inteiro rindo e eu rindo também. Porém não estamos rindo da mesma coisa e só um desses risos entre bilhões nunca se justificará. Depois a gente tentará dormir devorando a si mesmo por causa dessa fome.




r.A.