sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Política Harry Potter




......Sejamos práticos e realistas: Pensemos! Tai algo que tenho estranhado em termos de uma discussão política no sentido amplo do termo! Não conheço ainda alguém que pensa sem o corpo. Se tomo uma atitude no campo mais íntimo, mais micro de minha singularidade, posso citar milhões de exemplos, mas ficarei apenas com esse: Se ando pela sala e decido acender um cigarro, a força de meu pensamento perpassa meu organismo sendo “uno” com o mesmo. Também não conheço ninguém que fuma sem o pulmão e, em longo prazo, sem a obsessão.  Se decido militar em determinada causa, não há como militar sem levar o corpo. Apenas no livrinho infanto-juvenil de título Harry Potter, um professor levanta para dar aula e esquece  - nada mais que – o corpo. Vai só com a alma. Por que você está dizendo isso r.A. (você pode estar se perguntando agora) ? Digo porque tenho ouvido por aí que não há mais espaço para as bases ideológicas no “jogo” político! Aqueles que afirmam isso, para mim pelo menos – e para a história da política e seus teóricos moderno-contemporâneos -, aqueles que afirmam que não há espaço para a ideologia na política hoje, só podem ter lido muito Harry Potter esquecendo-se que era uma literatura de fantasia! Cá entre nós, só entre mim e você, não posso viver num país que pratica uma política de Harry Potter! Vai que começam a passar um chapéu na cabeça das pessoas para decidir de maneira mágica a que grupo essas pessoas pertencem. Saca só!
......A política – esse tema que as vezes é encarado de maneira fanática ou com descaso ou com parcial caso... -, tal como eu a entendo junto da história da humanidade, foi uma atividade inventada pelos gregos. Nela ainda há um termo grego: “polis”; que a grosso modo significa “cidade”. Nesse lugar cercado (geográfica e culturalmente), onde essa curiosa espécie hominídea de longo percurso – a saber o homo sapiens – se junta aos seus para evitar não apenas a solidão, mas para melhor garantir sua existência frente as adversidades da natureza, a cidade habitada precisa debater diretamente sua organização. Questões que passam cotidianamente despercebidas como, por exemplo: De que maneira distribuir o “poder” de decisão?, quê estratégias adotar para resistir as adversidades da natureza – como preservá-la e ainda assim usufruí-la-?, como  julgar aqueles que violam as regras básicas desse convívio?, etc., como dizia, essas questões necessitam de um mínio de pensamento e principalmente reflexão.
......Desconfio, e toda a história humana é álibi ao favor de minha desconfiança, como dizia, desconfio que se não houver pensamento e reflexão, não há cidade – nem grega, nem italiana, nem cubana, nem brasileira. Onde não se organiza para discutir os posicionamentos básicos de sobrevivência, não há política. A não ser que o plano seja um retrocesso histórico até um período anterior a linguagem. Não me parece o caso desse animalzinho que se autoproclamou “hominídeo que sabe”.
......Se eu, que faço muitas coisas sem pensar – chega ser incrível essa minha inconsciência em momentos derradeiros -, mas mesmo se eu que faço muitas coisas sem pensar e admito, não consigo acender um cigarro sem pensar – e preciso do meu corpo para fumar e até para dormir-, como poderia separar a atitude de pensar de um agir prático? Ou é Harry Potter, ou é algo bem objetivo. Pergunto: tem alguém aí que está lendo esse texto sem possuir minimamente um corpo? Chico Xavier, é você?
......Agora que ficou bem claro que não se pensa sem o corpo e que não se faz política sem reflexão, pense você como me sinto quando me dizem que hodiernamente se afirmam, nas mais distintas “forças políticas”, que estamos diante de uma nova fase onde a ideologia – sentido amplo do termo: conjunto de ideias pensadas por um determinado grupo – deve ceder em nome de uma política mais prática? Ora, como sujeito pensante, me sinto meio fora de moda! (risos). Até aí tudo bem, já me acostumei a ser uma exceção quando a desgraça e a burrice se tornou regra! Mas aí começo a desconfiar que partidos políticos, obviamente necessários numa pluralidade democrática, dispensam minha cabeça e soletram para mim que o que interessa é minha ficha de filiação e o pagamento da contribuição: em outras palavras mais simples: “Companheiro, não precisamos nesse momento de suas críticas filosóficas e etc; mas do seu apoio”. Pois é.
......Pergunto para você, caro leitor desse infame blog: o que faço com meu cérebro? Faço o quê com esses anos todos dedicados a leitura e compreensão das ideias que movem a organização social política? E esse corpo que já não é lá grande coisa (praticamente se arrasta feito uma lesma na superfície de um planetinha chamado Terra), enfio ele onde? No cu? Enfio toda minha existência no rabo afim de desaparecer e deixar apenas meu sincero apoio? Então a conversa na escola de “pensamento crítico” era apenas um jogo da velha? Então a universidade onde muito pesquisei, muito investi meu tempo, meu dinheiro, meu intelecto, no fundo era só uma piadinha?
...... “Espaços há, devemos ocupá-los” sussurrou para mim um anarquista dia desses, vai ver o cara ainda está no anti-semita Proudhon, amanhã depois joga um judeu nos trilhos do metro, vai saber. Não adianta em nada ocupar espaços ou as ruas ou as praças ou um motel para chegar nos finalmente depois de uma noite na balada, se tenho, nessa curta vida, que podar minha inteligência! – castrar minhas ideias é como arrancar-me a cabeça e ainda manter meu corpo funcionando para puxar carvão para o diabo!
......Agora se você, ovelha fiel, está aí resmungando:_ r.A. diz isso porque é destro, porque é canhoto, porque gosta de polêmica, porque gosta de distribuir bofetadas nos amigos e nos inimigos, porque não se adaptou ainda a política Harry Potter, se você está ainda nesse nível de leitura – bééééééééééé -, agarre-se a sua querida bandeira da moda e vá dormir. É por causa de pessoas como você rapaz/moça, que os campos de extermínio Nazistas foram o melhor modelo de burocracia (burrocracia?) fanática que o nojo desse mundo já produziu. Toque sua punhetinha trivial com as lascas do mastro da bandeira e sonhe com os anjos - que só um idiota pleno consegue dormir tranquilo nessas condições.

r.A.


obs: A gente ainda nem começou...

(Para L. A. Z. - que me fez pensar...)

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

00:39



......Não é a insônia, o entregar parte da vida na performance trivial de um piloto automático, as contas vencidas, o estar longe de casa – o não ter casa-, e o não se encaixar em lugar algum (provando o fel do exílio ontológico). Isso não é o pior! Não é a morte que vaga lambendo seus garrões, nem a azia de tanto comer miojo, nem andar com a carteira vazia. Ser incompreendido nem de longe é o pior.
......A evidente falta de caráter humano, a apologia da estupidez, o coração peludo e defeituoso, o olhar feio, o passar sem meio termo do tédio a euforia, a tristeza que chega sem aviso prévio, o desgaste,  pequenas depressões encaradas no lado escuro da rua, perder o controle sobre o próprio tempo... Nada disso é o pior. A solidão... a solidão não é o pior!
......Viver uma vida desregrada, não levar nada muito a sério – inclusive a dor -, desconfiar de tudo que até hoje se teve como certeza, ter consciência aguda da aniquilação constante das coisas, fritar num ódio silencioso, ter vocação mais para a ironia do que para o nexo, ter um slow blues por trilha sonora, a cabeça decepada da arte diante de si em uma bandeja de papelão, não. Nada disso considero o pior.
......Sem habilidades para a distração, sem concepções políticas redentoras, sem religião, sem Deus, sem capacidade de dar um passo em direção a utopia e fé. Nem isso é o pior. Nenhum desejo de crachá de autoridade em alguma coisa, salvo o nada. Nada de convicções!
......O pior é se descobrir uma fraude. O pior é o cheiro de fraude impregnado em torno de si. Mas diante do pior ainda há a perspectiva do “mais pior”. O não se descobrir uma fraude, sendo-o.


r.A.