......Sejamos
práticos e realistas: Pensemos! Tai algo que tenho estranhado em termos de uma
discussão política no sentido amplo do termo! Não conheço ainda alguém que
pensa sem o corpo. Se tomo uma atitude no campo mais íntimo, mais micro de
minha singularidade, posso citar milhões de exemplos, mas ficarei apenas com
esse: Se ando pela sala e decido acender um cigarro, a força de meu pensamento
perpassa meu organismo sendo “uno” com o mesmo. Também não conheço ninguém que
fuma sem o pulmão e, em longo prazo, sem a obsessão. Se decido militar em determinada causa, não há
como militar sem levar o corpo. Apenas no livrinho infanto-juvenil de título
Harry Potter, um professor levanta para dar aula e esquece - nada mais que – o corpo. Vai só com a alma.
Por que você está dizendo isso r.A. (você pode estar se perguntando agora) ?
Digo porque tenho ouvido por aí que não há mais espaço para as bases
ideológicas no “jogo” político! Aqueles que afirmam isso, para mim pelo menos –
e para a história da política e seus teóricos moderno-contemporâneos -, aqueles
que afirmam que não há espaço para a ideologia na política hoje, só podem ter
lido muito Harry Potter esquecendo-se que era uma literatura de fantasia! Cá
entre nós, só entre mim e você, não posso viver num país que pratica uma política
de Harry Potter! Vai que começam a passar um chapéu na cabeça das pessoas para
decidir de maneira mágica a que grupo essas pessoas pertencem. Saca só!
......A
política – esse tema que as vezes é encarado de maneira fanática ou com descaso
ou com parcial caso... -, tal como eu a entendo junto da história da
humanidade, foi uma atividade inventada pelos gregos. Nela ainda há um termo
grego: “polis”; que a grosso modo significa “cidade”. Nesse lugar cercado
(geográfica e culturalmente), onde essa curiosa espécie hominídea de longo
percurso – a saber o homo sapiens – se junta aos seus para evitar não apenas a
solidão, mas para melhor garantir sua existência frente as adversidades da
natureza, a cidade habitada precisa debater diretamente sua organização.
Questões que passam cotidianamente despercebidas como, por exemplo: De que
maneira distribuir o “poder” de decisão?, quê estratégias adotar para resistir
as adversidades da natureza – como preservá-la e ainda assim usufruí-la-?, como
julgar aqueles que violam as regras
básicas desse convívio?, etc., como dizia, essas questões necessitam de um
mínio de pensamento e principalmente reflexão.
......Desconfio,
e toda a história humana é álibi ao favor de minha desconfiança, como dizia,
desconfio que se não houver pensamento e reflexão, não há cidade – nem grega,
nem italiana, nem cubana, nem brasileira. Onde não se organiza para discutir os
posicionamentos básicos de sobrevivência, não há política. A não ser que o
plano seja um retrocesso histórico até um período anterior a linguagem. Não me
parece o caso desse animalzinho que se autoproclamou “hominídeo que sabe”.
......Se
eu, que faço muitas coisas sem pensar – chega ser incrível essa minha inconsciência
em momentos derradeiros -, mas mesmo se eu que faço muitas coisas sem pensar e
admito, não consigo acender um cigarro sem pensar – e preciso do meu corpo para
fumar e até para dormir-, como poderia separar a atitude de pensar de um agir
prático? Ou é Harry Potter, ou é algo bem objetivo. Pergunto: tem alguém aí que
está lendo esse texto sem possuir minimamente um corpo? Chico Xavier, é você?
......Agora
que ficou bem claro que não se pensa sem o corpo e que não se faz política sem
reflexão, pense você como me sinto quando me dizem que hodiernamente se
afirmam, nas mais distintas “forças políticas”, que estamos diante de uma nova
fase onde a ideologia – sentido amplo do termo: conjunto de ideias pensadas por
um determinado grupo – deve ceder em nome de uma política mais prática? Ora,
como sujeito pensante, me sinto meio fora de moda! (risos). Até aí tudo bem, já
me acostumei a ser uma exceção quando a desgraça e a burrice se tornou regra!
Mas aí começo a desconfiar que partidos políticos, obviamente necessários numa
pluralidade democrática, dispensam minha cabeça e soletram para mim que o que
interessa é minha ficha de filiação e o pagamento da contribuição: em outras
palavras mais simples: “Companheiro, não precisamos nesse momento de suas
críticas filosóficas e etc; mas do seu apoio”. Pois é.
......Pergunto
para você, caro leitor desse infame blog: o que faço com meu cérebro? Faço o
quê com esses anos todos dedicados a leitura e compreensão das ideias que movem
a organização social política? E esse corpo que já não é lá grande coisa
(praticamente se arrasta feito uma lesma na superfície de um planetinha chamado
Terra), enfio ele onde? No cu? Enfio toda minha existência no rabo afim de
desaparecer e deixar apenas meu sincero apoio? Então a conversa na escola de “pensamento
crítico” era apenas um jogo da velha? Então a universidade onde muito
pesquisei, muito investi meu tempo, meu dinheiro, meu intelecto, no fundo era
só uma piadinha?
......
“Espaços há, devemos ocupá-los” sussurrou para mim um anarquista dia desses, vai
ver o cara ainda está no anti-semita Proudhon, amanhã depois joga um judeu nos
trilhos do metro, vai saber. Não adianta em nada ocupar espaços ou as ruas ou
as praças ou um motel para chegar nos finalmente depois de uma noite na balada,
se tenho, nessa curta vida, que podar minha inteligência! – castrar minhas
ideias é como arrancar-me a cabeça e ainda manter meu corpo funcionando para
puxar carvão para o diabo!
......Agora
se você, ovelha fiel, está aí resmungando:_ r.A. diz isso porque é destro,
porque é canhoto, porque gosta de polêmica, porque gosta de distribuir bofetadas
nos amigos e nos inimigos, porque não se adaptou ainda a política Harry Potter,
se você está ainda nesse nível de leitura – bééééééééééé -, agarre-se a sua
querida bandeira da moda e vá dormir. É por causa de pessoas como você
rapaz/moça, que os campos de extermínio Nazistas foram o melhor modelo de
burocracia (burrocracia?) fanática que o nojo desse mundo já produziu. Toque
sua punhetinha trivial com as lascas do mastro da bandeira e sonhe com os anjos
- que só um idiota pleno consegue dormir tranquilo nessas condições.
r.A.
obs:
A gente ainda nem começou...
(Para L. A. Z. - que me fez pensar...)