quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Existe um pequeno Deus sendo adorado nessas palavras...


.....Eu não deveria estar escrevendo agora. Deveria estar fazendo outras coisas. Mas não consigo e por isso escrevo agora linhas de derrota! E não pense que não estou irritado comigo mesmo por esse maldito hábito, por esse maldito vício. Quando comecei, quatro linhas acima, disse para mim mesmo: não faça isso cara! Tem uma porção de obrigações te esperando ali do lado. Obrigações que não são de um todo “amargas”, nem tortuosas. Se pudesse – e podia- faria diferente. Mas eu comecei... Alguma coisa me jogou aqui e aqui estou me debatendo como se tomado por um ataque de epilepsia. Espumando de raiva por não conseguir conter esta obsessão! Se me tirassem a caneta, o papel, as ideias, há como seria livre – e aborrecido. Todavia estou aborrecido agora! Você sabe o motivo, não há necessidade nem glória em repetir. É claro, isso tudo não faz nenhum sentido. Provável que você seja um tolo por estar lendo esta linha agora. É que não vou dizer nada de relevante, não há conteúdo nessas linhas. Há apenas linhas e mais linhas, signos e mais signos e eu estou escrevendo essa coisa óbvia porque quero continuar e me manter nisso. Ridículo, sabemos.

..... Especificamente hoje, precisamente hoje, apocalipticamente agora, neste instante, - para falar a verdade dezesseis minutos atrás – eu deveria parar. Se fosse sensato, pararia! E estaria salvo... Salvo de mim mesmo. A fuga das palavras. Escrever, para mim, agora, é errado. Inadmissível e por isso incontrolável. Olho para minhas mãos e elas não param. Mesmo que minha mente esteja vazia, minhas mãos deslizam como uma criança que ri enquanto corre da mãe. Só que ocorre que estou aqui, nesse canto, iluminado apenas pela chama de uma vela... Quase afogado em meio a uma papelada de anotações de leituras. Tudo mais ou menos inútil e patético. É claro que estou sendo cruel comigo mesmo, amanhã estarei rindo disso. Amanhã você verá que inventarei alguma coisa para justificar esta ação sem sentido. O problema é que escrever, para mim, é muito fácil... Seria bom se fosse difícil. Eu posso falar sobre qualquer coisa. Sim, é por isso que não vou falar. Azar é o seu, você pode chacoalhar esse texto e não sairá nada dele! Eu quase não acredito que você está lendo ainda... Você deve ter problemas, não é mesmo? Não foi por curiosidade que você caiu nessa armadilha. Você deve estar se perguntando como e quando eu irei parar. Seu burro! Não vê nada no mundo ali fora para fazer? Vai ver a mesma obsessão que me compele a escrever, te jogou na leitura.

..... Pelo jeito, nem eu e nem você paramos ainda. Não te passa pela cabeça que tudo que você lê te engana? Não pensou ainda que talvez ao decorar uma frasezinha mais ou menos bonitinha ou que você acreditou ser instrutiva – ou sei lá – você caiu no truque de alguns malucos que sem ter mais o que fazer resolveram ficar aqui – neste mesmo espaço de criação que estou agora- recombinando e matando tempo com os símbolos? E existem escolas, faculdades, universidades, pesquisadores, tudo que é coisa nesse sentido vangloriando esse blábláblá todo. Mas você precisa defender isso, não é verdade? Te oferece a ilusão da instrução, do conhecimento, do status, desta besteira toda. Existe um pequeno Deus sendo adorado nessas palavras todas e ingenuidade a nossa nos arrastar para dentro deste templo. Eu sei porque você fez isso, foi por um motivo próximo ao meu de ter feito isso... mas mudando de assunto, você não vai parar de ler essa porcaria? Então deixa para mim, que eu vou parar de escrever – só vou assinar.

r.A.

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