
(Obra de Goya)
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1-“Eis a grande diferença entre mera contestação e arte de contestação. Não é qualquer panfleto de protesto, qualquer bandeira desfraldada, que vai se tornar uma obra de arte – ainda que as motivações sejam válidas em si e baseadas nas melhores razões do mundo. [...] Somente é questão do fazer artístico, de criar formas expressivas. Mas Certamente é preciso ser um grande, grandíssimo artista”.
Fayga Ostrower – A grandeza humana: Cinco séculos, Cinco gênios da arte.
2-“Se eles não o são, se eles não TREMEM diante desse destino terrível que nos abate com o condicionamento estético que reina hoje, se eles não são perturbados, se eles não transformam isso em força como François Bousquet, que faz de sua ferida sua quase causa, isto é, o princípio mesmo de sua poesia, eles não tem mais nada a dizer”.
Bernard Stiegler (Falando sobre os artistas que não se afetam pela condição do público) – Reflexões (não) contemporâneas.
3- “A defesa da vida tornou-se um lugar-comum. Todos a invocam, desde os que se ocupam de manipulação genética até os que empreendem guerras planetárias.”
Peter Pál Pelbart (No prólogo de) Vida Capital: Ensaios de Biopolítica.
4- “A vida não existe, ela tem de ser inventada. É por meio das formas que criamos como imagem ou como palavra que o olhar adquire a luz que lhe permite ver. A experiência produz desequilíbrios, interrogações, dúvidas, surpreendendo a quietude repetitiva do mundo.”
Edson Luiz André de Sousa, Elida Tessler, Abrão Slavutzky (organizadores do livro) : A invenção da vida – Arte e Psicanálise.
5- “o que uma criança de nove anos pode escrever eu não sei... Poderia me surpreender, ou não... O simples fato de eu não saber se me surpreenderia ou não já supera o nosso amigo tocador de LED ZEPPELIN.”
r.A.- o cego- Situação do Rock em Chapecó (Parte I).
6- “Não existem Verdades, apenas interpretações.”
Nietzsche...
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..... Trezentos e sessenta e seis passos separam a sala de onde escrevo de uma lojinha de conveniência em um posto de gasolina. Ir até lá, para mim, tem um significado que gostaria de compartilhar com vocês – e que é bem mais importante do que uma pesquisa ou do que um diploma, neste momento. Se falo em primeira pessoa e de meus sentimentos mais profundos é que dor não respeita cronologias históricas! A dor, que vocês podem sentir dentro de uma sala de aula ou na notícia do falecimento de um ente querido, ou ainda, no pisar em um prego, ignora o decorar de cabo a rabo o que acontecia entre os anos 50 e 60 nos Estados Unidos. Por isso falamos em “situação” e não em “contextualização” e muito menos em saber a cor da cueca do primeiro roqueiro que subiu no palco de Chapecó. Falo do que vejo (e sou cego- hehehe) pelo motivo de que registro “no caderno do meu coração” imagens de dor. Minha manobra consiste em dar socos em mandamentos esculpidos na rocha (ou esmigalho a rocha, ou esmigalho as mãos). Dizer tudo que quero para aqueles que querem me convencer de que não posso dizer. Mesmo os que deitam na sombra de uma erudição que se convencem possuir, terão que vir aqui, para meu deserto vermelho – fora do abrigo da impessoalidade- conhecer a areia que torra os pés descalços. Que gritem e urrem, é um detalhe... Ir até uma lojinha de conveniência em um posto de gasolina, poderia significar apenas que o cigarro acabou. Para mim e meu pensar/sentir, é o começo de outro texto: da tarefa de apresentar para os leitores do blog como arranco da dor uma manobra.
..... Comecei o presente texto com algumas citações de diferentes autores que provém de diferentes tradições de pensamento (e de contextos distintos- mas o importante é a situação). Porém, não faço isso para exibir erudição (não há nada de especial em fazer isso, basta ler alguns livros) e nem faço isso para justificar meu pensamento. Faço isso em “parceria” de pensamento com os citados autores. Creio que andamos juntos em algumas noites chuvosas – embalados no café e nas angústias. Será preciso que vocês estejam a par do exercício que estou realizando neste texto, sendo assim, prestem bastante atenção nisso: Este texto não vai falar necessariamente de ROCK, ele vai falar de ARTE (mas as relações não serão difíceis, pois rock é um gênero musical e música é arte- e não, não vou atropelar tudo isso...)! Vou fazer isso para discutirmos o gênero Rock em um patamar mais elevado do que o simples contextualizar historicamente o Rock e etc... Método este que ignoro pelo motivo de já ter feito desta forma e observado que não se arranca muita coisa do problema fazendo isso. Este movimento que estarei fazendo neste texto será correspondente a terceira parte do tema “Situação do Rock em Chapecó”- isso significa que o texto continua. Aviso que este texto não será fácil de acompanhar (digo isso por saber que esses pensamentos cobraram bastante de mim), mas como dizia Jacqués Lacan (Livro: Televisão) não estou falando com idiotas (consistiria em um “error”)! Por isso, não vejo problema em pensamentos complexos serem apresentados de forma complexa, aliás, meus leitores – apesar de serem poucos- não me decepcionaram até agora (os banais já pularam fora!). Aqui, também se responde alguns comentários feitos ao primeiro texto que pensavam ser só guiado por meros achismos. O mergulho profundo que estamos prestes a fazer, exercício que é próprio de um filósofo, derrubam esta tese do achismo brincando. Dito isso, vamos à luta meus amigos!
.....Em primeiro lugar, deixem-me apresentar esta senhora chamada Fayga Perla Ostrower (1920-2001), Artista plástica que atuou como gravadora, pintora, desenhista, ilustradora, “TEORICA DA ARTE” – daí o motivo de estar citando-a – e professora. O livro qual eu retirei uma citação (que imagino que aqueles que se ocupam em arte nesta cidade devem conhecer) é organização de sua filha e as falas estão situadas em alguns seminários onde ela (Ostrower) falava de Leonardo Da Vinci, Rembrandt, Goya, Cézanne e Picasso. Estes, não eram, obviamente, guitarristas de rock, mas creio que tinham (e tem) bastante para nos falar de arte, por tanto, para guitarristas – não estou falando só de guitarristas, ok?. Caso não conheçamos todos esses ilustres artistas, imagino que não poderemos dizer que eles eram cegos (ou podemos?). Se vocês já se esqueceram da citação que organizei com o número 1, sugiro que retornem e leiam. Feito isso, seguimos. Ostrower, seguia falando precisamente de Goya (1746-1828), artista espanhol. Para os que conhecem a obra de Goya (caso não conheçam, sugiro pesquisar um pouco – não estou aqui para divulgar pesquisas), temos contestações duras em relação ao seu contexto (caso não conheçam, também sugiro pesquisarem- valerá bastante à pena- algum engraçadinho vai dizer: mas você disse não dar bola para pesquisas e agora está sugerindo que pesquisem? Se for esse o caso, estou dizendo para não ficarem limitados a pesquisas de outros e não aceitarem quem quer que seja que queira socar guela abaixo outras pesquisas de caráter duvidoso!) e é na apresentação de suas contestações, na forma como Goya não se limitou em registrar uma “realidade” e interpretar a mesma, que nos deixou um legado na arte que tem muito a nos ensinar- aí a situação-, o gesto do artista. Temos aqui (na citação), nas palavras de Fayga, o que é a questão na arte: “fazer artístico, criar formas expressivas”. Ainda, Fayga nos diz o seguinte: “é difícil saber de onde lhe veio esta força de espírito, Goya ainda ousa sonhar com uma nova Humanidade. As últimas gravuras representam reflexões e dúvidas angustiadas, mas também meio esperançosas sobre os sentidos de viver” (OSTROWER,2003,p.100). Se já me questionaram: rock é só música? Refaço a questão: A arte de Goya é só telas e gravuras? Como repeti várias vezes no texto anterior, algumas pessoas não conseguem mais ver o óbvio! Vejam que no texto anterior também disse de uma ação inútil – cuspir em si mesmo-, e é mais precisamente nisso que me refiro, não a um sistema (como os marxistas nos viciaram a ler essa palavra) referente à sociedade, mas estão cuspindo em outros músicos invés de “fazer artístico, criar formas expressivas”- mas cuspir em outros músicos não é cuspir em nós mesmos,alguém vai dizer. Se você disser isso, já sentiu o gosto de seu próprio escarro! Na forma como me referi – e vocês vão entender no final deste parágrafo-, talvez seja bem pior do que terem cuspido em si mesmos... Que gosto ou não gosto de determinados gêneros de música, determinadas linguagens na arte, é papo para um bar! Que um gênero está investindo em um fiasco é do que trata o texto! Mas voltemos ao Goya, já pensaram Goya em um concurso para artistas? E se outro artista ficasse na frente dele (por mérito ou por que comprou o júri)? Já pensaram ele fazendo campanha contra este outro artista? Que fiasco! Mas sabem, Goya foi grande, preferiu o “fazer artístico”. Por fim, creio que agora isso fez mais sentido para vocês: “Não é qualquer panfleto de protesto, qualquer bandeira desfraldada, que vai se tornar uma obra de arte”. Nisso, me parece mais fácil compreender os motivos que me levaram a sugerir: Parem de ficar se lamentando, vão fazer música!
..... Bernard Stiegler (filósofo) lembra-me uma fala do guitarrista “The Edge” (U2) no documentário “A todo volume” e vou lhes dizer o motivo. The Edge, em um determinado momento do documentário citado, fala sobre alguns de seus motivos de ter se sentido angustiado com a música. Diz que havia nos músicos de seu contexto arrogância para com os expectadores. Indulgência é como ele chama isso – notem que saí do contexto mais uma vez e fui para a situação... Músicos dando as costas para os expectadores e realizando solos de quinze minutos. É neste sentido que aplico a citação que organizei com o número 2. Revelo que se algum comentário dos tantos que li em relação ao meu primeiro texto conseguisse refutar a citação de Stiegler – e isso não chegaram nem perto de fazer-, este texto perderia uma boa parte de seu sentido. Do contrário, apenas recebi ataques pessoais e respondi como ataques pessoais também. Não acho isso de forma alguma grosseiro, penso ser um avanço que as pessoas saiam de seus casulos e se “atraquem”-, é mais verdadeiro do que tentativas de ser impessoal! ... Como se as questões que trago não são de cunho pessoal... Sinto até mesmo um alivio poder sentir o cheiro de raiva em palavras, me mostra que não estou discutindo com fantasmas. Porém o texto ficou esquecido e por isso retomo o mesmo. Vemos que Stiegler nos fala que se o pretenso artista “não treme”, não transforma sua revolta em relação ao evidente “condicionamento estético” que estamos vendo todos os dias (t.v., jornais, música/arte – nos transformando em rebanhos, definindo nossos gostos: Viva o que é bom! Curta Ivete Sangalo, pois ela tem belas coxas, etc...) em sua “ferida quase causa”, ele, o pretenso artista, “não tem mais nada a dizer”. São palavras fortes e de um veredicto ainda mais forte, mas nesta situação do rock em chapecó, penso ser muito pertinentes. Devemos pontuar com todo cuidado o seguinte: “O condicionamento estético” tem de ser essa “ferida quase causa” a ser combatida na proposição do artista. Não um lamento textual. Minha questão retorna (do primeiro texto): Livramos-nos de um condicionamento estético fazendo covers? Sim, é possível! É possível um músico fazer um cover (ou releitura) e atacar esse condicionamento estético (aquilo pelo qual estamos adestrados a nos afetar – sei que essa frase é complicada, mas não irei debater ela agora), mas tenho toda certeza que essa situação qual vivemos precisa é de mais criação do que tributo! Reivindico mais arte, mais criação do que esses ditos tributos. Pelo motivo da primeira citação que fiz de Fayga: “criar formas expressivas”. Mesmo que neguem – como muitos negaram no primeiro texto- há sim um senso “valorativo” hipócrita de agregar mais valor para esses “pagadores de tributo” em relação aos novos artistas que vem surgindo – E me refiro a esta cidade. Não se façam de bobos pessoal! Deem uma olhada no que está planejado para este fim de semana nos espaços... “Tributo ao...”, “Não sei o que lá cover...”, etc... E por isso, outro ponto que muitos ficaram revoltados ao lerem no meu texto anterior, disse que falta mais educação em arte para este público (e me referi aos artistas – confiram no texto, já que algumas pessoas fizeram recortes grotescos ao texto), pois, colocam tudo no “mesmo saco” (ou seja, os que propõem arte e os que imitam os que já proporam- imitam para ganhar dinheiro, imitam por não terem a coragem de colocar a própria cara a tapa, por se esconderem em uma impessoalidade cretina!) e pesam sem possuir balanças. Sinto informá-los, mas vi isso nitidamente expresso nos lugares que se dizem “espaços para os artistas”. Recordo agora de um poema do Bukowski que diz: “E você esperava mesmo encontrar poesia em uma revista de poesia? Não é tão fácil assim”... Se não me engano é mais ou menos isso que diz no poema. Isto é o que está me parecendo nesta cidade. Quase chego a dizer: Querem ver arte? Não vão às exposições! Velho ditado Punk: Do it yourself! Mas aí temos um pactozinho com jornalecos... Oh sim... Falem bem de mim e eu falo bem de vocês! É quase uma colônia hippie, porém os hippies tentavam se livrar de serem recalcados, já estes, estão cada vez mais recalcados... Podemos ver seus recalques nas páginas! Li uma matéria alguns dias atrás, que jurei que a jornalista entrevistou só de calçinha... Nada contra, até seria divertido um pouco de verdade no jornal. A matéria terminaria assim: “E no final, ele me traçou!”
..... A citação de número 3 é de um filósofo qual tive o prazer de receber uma aula. A grande causa nobre que geralmente passa a borracha em cima de toda esculhambação dos pretensos artistas é de salvar o mundo, defender a vida, amar todos e todos são lindos e amém. Apresentei esta citação de Peter Pál Pelbart não para explicá-la, mas apenas acompanhando minha ideia de (ou eu acompanhando a dele – o que é mais apropriado) tomarem mais cuidado com esses “queridinhos da mamãe”. Todos estão em nome de uma sociedade mais justa, de uma vida mais digna, de um céu mais azul. Porém, vejo isso se desenrolar em um: Eu sou o eleito! O messias! Muito mais do que essa dita “boa ação”. E nesta cidade (prova alguns comentários do texto anterior), se você não disser para esses eleitos que eles são O messias do rock... Eles mandam a tua galera xingar você muito no blog”- Hahahaha-, É como aquele videozinho que colocaram no youtube: Vou xingar muito no twiter! E eles tem coragem de falar dos Emos... Todo moralista esconde uma vontade de fazer aquilo que critica meus amigos! Aprendam isso! – aí está outra relação possível com o texto anterior quando cito como exemplo o que me ocorreu ao testemunhar “nobres” psicólogos que queriam salvar uma cidade de uma enchente (Da Clarice Lispector: Havia um morto na grama e as pessoas discutiam a altura da grama...).
..... A citação de número 4 Edson Luiz André de Sousa, Elida Tessler, Abrão Slavutzky, lhes dão de presente! A próxima vez que alguém quiser colocar em questão se o “gesto do artista” é inferior “aos pagadores de tributo”, lembrem-se desta citação. Fazer arte, para mim, é inventar a vida (inclusive)! Caso ainda quiserem insistir, lembrem-se da “criança de nove anos com o violão trincado”, esta imagem me surpreendeu um dia... Poder ser surpreendido, afetado, hoje, sem condicionamentos estéticos (toca guns, toca AC/dc, toca Black sabbath...), vale mais do que vinte reais no sábado em um bar. Experimentem tentar – já que o contrário, vocês (e eu) já fizeram (fizemos).
..... Para John Cage (Estou citando uma obra chamada aisthesis: Estética, educação e comunidades – da autoria de Maria Beatriz de Medeiros, precisamente na página 33), som e silêncio são a mesma coisa. Ambos são sem intenção, estão na natureza, ou são criados pelo ser humano e seus instrumentos e máquinas. Para que um ruído seja música, é necessário que ele seja designado como tal. [...]A música é totalmente destruída quando utilizada como música ambiente em salas de espera, ou quando as insuportáveis musiquetas, por vezes, grandes músicas, nos fazem perder preciosos e longos minutos, quartos de hora, aguardando atendimento em telefones (Fim da citação – emendo com meu pensamento), e quando a música vira apenas entretenimento para bêbados em bares? (Antes que me chamem de moralista – e sou moralista sim para algumas coisas-, creio que ir em qualquer exposição de arte é para ir ver/ouvir arte e só pode ser “falta de educação” [ e não me refiro a uma educação elitista – embora também ache que falta um pouco disso e nem tudo é coisa de burguês como os marxistas nos viciaram pensar] transformar a música em pano de fundo para encher a cara).Quando há um círculo de amicíssimos que tentam obrigar este cenário a girar em torno deles e os desavisados babam e pensam: É isso mesmo! É assim que é! É com toda certeza que alguém que tenta avisar sobre isso precisa passar por um violento e turbulento mar de gritos de desacato! E tem de ter coragem para desacatar duramente também, pois já basta essas medíocres poses de bons moços (as)! Estamos em meio a uma moralzinha de bebezinhos dengosos. AZAR! Sendo dengoso eu nem se quer teria comprado minha primeira guitarra, escrito meu primeiro artigo em filosofia, gravado minha primeira canção! Sem dengo estou escrevendo, e pretendo continuar escrevendo assim.
..... Por fim, a citação de número 6, fica para mim e para vocês! É nela que me inspiro para escrever. Por tanto, nunca deixem ninguém dizer para vocês qual que é a verdade. Pensem sobre o texto!
r.A.- Ainda sentindo dor pelas coisas que tenho visto e chamam de rock.
PS. Dedico este texto a todas as bandas novas que estão surgindo nesta cidade!
PPS. Um dia vi em algum lugar da internet uma frase de Clarice Lispector que me chamou a atenção: “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca”. Provável que eu não tenha saco para ler um livro dela (já tentei), mas nem por isso desmereço a frase. Sugiro-a aos próximos que comentarem neste texto!