segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Da convicção ao fanatísmo...





......Um dia um amigo disse não ter mais fôlego nem para um haikai, achei um exagero, mas me calei pensando sobre isso. Hoje constato que não é um exagero... e que realmente quem leva as palavras a sério tende a passar por isso. Outro dia outro amigo me disse em uma conversa de corredor que perdeu seus motivos para escrever... Tentei persuadi-lo a prosseguir e ao mesmo tempo em que ele me disse “não quero”, percebi que estava persuadindo a mim mesmo – no fundo, nos dois casos persuadira a mim mesmo. Assim compreendo que ser professor é algo que requer uma afiada crítica a si mesmo! – Produzir, definitivamente não é o “canal”. Obrigar os outros a produzir quando não desejam é um imperativo de idiotas!
......Agora, depois de uma senhora golada de conhaque, ouvindo apenas o som da chuva enquanto aceito minha insônia de três dias, penso estar fisiologicamente equipado para escrever algumas linhas a sério sobre o assunto.
......Para mim, o sucesso de um idiota está intimamente vinculado a capacidade de falar com convicção! – esse pensamento também está vinculado a uma discussão com outro amigo, um filósofo. Os fanáticos adoram quem fala com convicção! Elegem como “os seus”. É fácil ilustrar isso com exemplos humanos, basta pensar no nazismo.  A “quase” insuportável experiência de encarar a dúvida, de titubear entre incertezas que partem em mil pedaços o espírito, é a mãe e pai do fanático. O fanático e o convicto partilham do mesmo temor da incerteza... sintoma do percurso pela modernidade – eu diria.
......Me parece que Nietzsche situado na passagem moderno – contemporâneo estava dizendo: olha cambada, vocês perderam a capacidade de crer nas certezas. Depois disso, terão que convir que será necessário alimentar o vigor de pensamento sem se entregar a preguiça! Pois isso será uma luta diária. Mas quem ouviu? Foi preciso 150 anos para aparecer um que outro “gato pingado”. Nietzsche deixou a bola quicando para aparecer outro e chutar para o gol. E apareceu, de maneira quase inacreditável, mas apareceu. Foi preciso outro que levasse as palavras a sério e estivesse fisiologicamente tão fodido quanto Nietzsche – e só encarasse a filosofia como exercício para a vida que algumas vezes deve ser abandonada (a filosofia), pois é apenas “formação”, para tascar esse chute impiedoso...- e falo de Cioran.
......Cioran pegou no ato a idiotice do fanatismo. Essa idiotice, encarnada nas células, diz que no fundo – bem profundamente – o fanático põem em movimento ideias neutras, mas desesperado, as põem em movimento valendo-se da obsessão! “Morrendo convicto de algo, também mata em nome da mesma convicção”. É aí que começam “as farsas sangrentas”.
...... Idiota, por definição, é aquele que não consegue ir para além de si mesmo. Mas! Há um outro tipo de idiotice não diagnosticada. O idiota perigoso, o mais perigoso, eu diria. O idiota que não consegue ir para além da massa. Invés de dizer “eu”, ele diz “nós”. Porém, quando diz “nós”, em momento algum está dizendo grupo, está dizendo “eu” convicto, afirmando minhas convicções a fim de persuadir “vocês”. Não dissociando o “eu” – e minhas taras – do “vocês” – e suas possíveis singularidades. Esse tipo de idiota se apresenta de maneira muito clara quando falsamente compondo um grupo. Ele larga suas convicções – psicologicamente falando, bastante psicopata- sabendo que os ingênuos irão acatar porque imbuídos do “gen” do fanatismo. E justifica essa ação negando a si mesmo e dizendo: não! Veja bem, é uma decisão de um coletivo! Ele ganha esse coletivo com microfísicas estratégias, que vão da lisonja até a justificação pseudo-histórica-social. Um filósofo saca esse tipo na primeira aparição! Mas a massa, não. É seduzida por palavras e gestos que fingem ser coerentes para quem não se atem aos detalhes. É perigoso porque requer uma sensibilidade muito singular de quem o ouve e vê, requer um nível de compreensão da idiotice não diagnosticada. Se você quer um exemplo claro eu lhe proporciono, é o idiota que jura amor eterno pelo social e diz: vão! Vão à luta! – mas você ouve um “vamos”. É que o seu ouvido está entupido, talvez...
......Eu sei disso porque como disse no primeiro parágrafo, fui esse tipo de idiota. Mas a autocrítica de mim mesmo, minha rigorosa razão não me permite passar ileso a “eu” mesmo. Racionalmente, de forma argumentativa, é muito fácil fazer isso. Basta evitar a falta de coerência consigo mesmo. Isso não está no plano lógico geral, está no plano lógico pessoal. No fundo somos muito patéticos quando nos valemos unicamente da gramática! Existe um olhar muito mais profundo quando nos atemos a ser “secretários de nossas próprias angústias”. Um secretário sabe quando o seu chefe está de blefe! Porque ele é parte interessada no ócio – lembrando Cioran, desta vez.
......Mas agora, apresentado os conceitos, é preciso apresentar uma interpretação – no meu caso, nunca uma convicção – já que estamos falando filosoficamente à sério. Se você me perguntasse sobre os limites entre a convicção e o fanatismo, eu responderia da seguinte forma:
...... “Convicto é o bunda mole, tanga frouxa, maricona medrosa, que precisa convencer os outros para alimentar a farsa enquanto ideia daquilo que sempre necessitará dos outros para alimentar enquanto tara degenerada, capricho de quem elogia o coletivo enquanto estratégia: porque sente nojo no fundo. Fanático é o pateta sem rigor para consigo mesmo que incapaz de encarar uma incerteza – como o convicto – abraça um imperativo de massa afim de dar algum sentido para sua vida fisiologicamente hiperativa, porém, carente de sentido - uma vez que a vida é um exercício de mudar constantemente de sentido e isso requer uma maturidade estética – enquanto perspectiva. O limite é a reação de complementariedade que usa como cimento o RECALQUE”.
......Quanto a isso, eu diria até onde meu intelecto alcança, que falta definitivamente uma compreensão sócio-histórica sobre a humanidade, o que quer dizer que não somos plenamente moldados segundo relações sociais e nem segundo princípios individuais (menos ainda por “determinações históricas”). Quem afirma “um” em detrimento de “outro”, só pode ser um ingénuo ou um mal intencionado. Portanto escolha! E se, até os grandes da tradição lógica no quesito linguagem – e cito Wittgenstein entre esses – abandonaram essa “punhetagem” lógica em relação à coerência se deram conta que posicionamento coerente em relação à linguagem “caducou”, já temos conteúdo suficiente para não sermos um tipo ou outro de idiotas. Aqui cabe uma nota: Muita gente acha que Wittgenstein foi um gênio da linguagem (inclusive eu), mas ao chegar a constatar que a linguagem é definida por “jogos de linguagem” – corrigindo sua filosofia anterior que dizia serem “figurações do caso”-, não fez mais do que os sofistas na antiguidade.
......Sinceramente, Cioran e Nietzsche apenas endossaram seus conceitos por interpretações históricas (genealogia da moral, genealogia do fanatismo)! Porque a história enquanto tradição não foi “macho” o suficiente para afirmar. Ficou na posição ridícula de afundar no seu próprio pântano! Se você pensar em Walter Benjamim nesse momento, eu largo mão de você! Seu fresco. Mereceria uma surra nesse momento! Foucault a gente guarda para discutir no bar!- mas não espere gentileza da minha parte.
......Por fim, estou grato a série de pensamentos que chegaram até mim por meio de amigos bem delimitados, bem poucos- eu diria. Foi um prazer filosofar novamente com a mente em brasa. No mais, temos muito o que pensar se quisermos – amigos.

r.A. – Fisólofo.