sábado, 5 de setembro de 2015

Diga bom dia para o sol & agradeça pela vida

     

      Tristes ruas de São Paulo. Abro caminho na noite fria. Acreditem: saio do bar acompanhado, mas acordo sozinho pela manhã. Essas coisas me fazem pensar na vida que encomendei para mim e chegou quando já não lembrava mais. O correio dos distraídos, cara.
         Uma garota – um pouco perdida; sempre tem dessas por aí – insistiu em perguntar quem eu era, tive que rir. Não dela, não sou tão malvado assim – embora sei da existência de multidões na oposição deste diagnóstico. Tive que rir de mim.  Que perguntasse isso alguns anos atrás (talvez seis) e obteria uma resposta mais precisa. Ontem restaram apenas desconfianças e divagações.
         Ruas tristes já não me comovem mais. Ruas alegres, tipos como eu, não sabem onde se encontram e se soubessem, seriam banidos de lá.
         Logo que entrei no “mundo adulto”, você sabe como é: o mundo das contas, compromissos e tagarelas animais que não se compreendem mais; logo que entrei nesse mundo, conheci um medo.
_Medo que somente os bonzinhos tivessem sua chance!
Lá vai uma observação: não é que não pertença aos “bonzinhos”, nada disso; é que pertenço ao catálogo dos sem jeito.
         Um tempão se passou e percebi que era bem pior do que imaginava. Está todo mundo fodido e sorridente.
As prestações auxiliaram meus companheiros na construção de um cotidiano respeitável – respeitável para eles, não para mim. Monótonos fins de semana e memoráveis férias na praia ou fora do país. Qualquer coisa de sexo no piloto automático e assistir os filhos crescer (enquanto se ganha uns cabelos brancos de brinde).
_Um dia a gente morre por causa de tudo isso! Se tiver sorte.
(Porra, eu ri. Não era para rir de coisa séria.)
         Tristes ruas de São Paulo? Uma rua não fica triste, cara! [acabei de foder com meu lindo texto... ai ai ]. Podem anotar em seus caderninhos. “A gente só desespera consigo mesmo, não com o mundo”. Essa frase de Kierkegaard deveria ser tatuada no braço de todas e todos os psicólogos – motoqueiros ou não. Mas pensando bem, essa frase acabaria com qualquer sessão de análise.
_Fale-me de você.
_...percorri ruas tristes porque as alegres estavam interditadas!
_Já experimentou ler Soren?
_É mesmo!!!!! Valeu! Até nunca mais!
(Rindo de novo; tô ficando viciado em mostrar os dentes.)
         Agora que chegou a encomenda preciso rasgar o pacote com os dentes, e, tomar todo cuidado para não estragar a mercadoria. (Espero que o “e” que coloquei entre vírgulas agora, esteja errado gramaticalmente – achei ele muito solitário ali).
         Li – tenho essa mania incorrigível – que a Esperança pode ser o pior veneno para uma pessoa. Ela faz insistir no improvável paraíso.
 Mas de qualquer forma, agora tenho que ir. Preciso ver se dá tempo de dizer bom dia para o sol e agradecer pela vida.
_Mas eu sempre me atraso... Não esperem por mim.



r.A.