segunda-feira, 30 de março de 2015

Coisas que eu penso às 05:50 da manhã





“Quem acredita na verdade é um ingênuo; quem não acredita, um estúpido. A única linha reta passa pelo fio da navalha”.
E.M.Cioran – Le livre des leurres.


         Pouquíssimas pessoas sabem o que é batalhar por uma linha escrita de maneira razoável. Comecei a escrever aos vinte anos e já estou chegando aos trinta: nenhuma maldita linha razoável. É claro que podemos concluir que não sou o cara mais indicado (nem minha mãe me indicaria para qualquer coisa!) para falar sobre literatura. Eu me perdoei por isso, amém.
         De lá para cá, andando sempre pela sombra e acordando sozinho no meio da noite, cheguei a algumas conclusões sobre escrever. 1- É coisa de gente rabugenta. 2- É coisa de gente que possuí uma turbulência interior e parece um idiota no exterior. 3- as garotas dizem que gostam disso (porque assistiram filmes demais sobre escritores, mal sabem elas que isso tudo é uma armadilha). 4- Bebem demais. 5- Roubam as namoradas dos outros caras. 6 – O número 5 é mentira, ou quase. 7- Somente os mais putos e sem talento de nós serão reconhecidos em vida. 8- Se está difícil para mim, imagina para quem tem mais de 13 anos e curte Banda do Mar...
         Tentei ser uma pessoa séria – quase casei, tive um quase emprego, um cachorro quase e dois filhos, menino e menina; tudo por muito pouco. Acredite. Te contaria sobre isso no domingo na igreja, se eu conseguisse acordar antes do meio dia – aquela ereção pós ressaca, sabe? Mas acho que não tentei o suficiente. Será que eu não quis ou fiquei com preguiça? Pode ser medo. Apatia.
_Isso tudo me lembra as artistas contemporâneas: Melissa Lauren, Valentina Nappi e Remy Lacroix. Que me fazem seguir em frente no meu sonho de infância.
(Brincadeira).
         Tenho mantido com sucesso a casa livre de bebidas e navalhas. Também quis ser um cara rico e bonito – é mais fácil ficar rico, um dia, vai saber. E só não ouço mais Pink Floyd porque a queda da sacada provavelmente não me mataria. Fora isso, se não tiver mais no que pensar, pense que estou bem.
         Não é fácil querer uma sombra para descansar quando se está no meio do deserto. Mas meu coração está completamente preenchido, finalmente. Agora ele só pode ser destruído de dentro para fora.
          Rainer Maria Rilke disse que se você puder viver sem escrever, as coisas vão melhorar – não foi bem isso que ele disse, mas vou esperar sentado, aqui, alguém vir me corrigir (risos).
         A verdade é que se você souber esperar aparecerão linhas escritas de maneira razoável. Mas isso não significa que serão suas. E muito menos, significa que você tenha que acreditar nisso. Se estiver em dúvida, siga o conselho de Beckett: fracasse melhor!
Ainda dá tempo.




r.A.   

quarta-feira, 25 de março de 2015

Talvez o nojo aguente, colega...



(-Segundo Niti [primo distante do filósofo Nietzsche]: O que caracteriza um tipo reativo, ou ressentido, é ser escravo da negação do nobre).
        ...
        
         Sim, lá no Zaratustra. O nojo como uma negra e pesada serpente entalada na boca. Um dos símbolos do niilismo: infelizmente a humanidade não deu certo e não há nada que possamos fazer - é isso que simboliza esse nojo.
         Eu acredito profundamente na galera foda das artes & afins. Como pode ver, não sou um descrente. Abraçado com minha fé atravesso o salão ao som de um tango. Às vezes eu passo a mão na bunda da minha fé e ela me soca na cara. Rimos.
         Excetuando isso, também acredito no que leva certas pessoas fodas a não conseguirem produzir algo de um “sorriso sério” e apenas multiplicar manifestos. Ocorre que sorrisos sérios não impressionam ninguém. Os “manos e as minas” não entendem muito de metodologia. Disso decorre uma dificuldade em molhar as calcinhas e endurecer os pirulitos. Sei desse jogo. O negócio é o prestigio, mas tem que ser feito como se você não quisesse tê-lo. Qualquer coisa que lembre Kurt Cobain. No palco, mas de pijama.
         Num belo dia Deuses e Divas pedem esmolas. Eu sempre ajudo, porque acredito na causa nobre. 24 horas depois, atiram sobre mim suas luzes e fogos: anúncio de grandeza! Acendo meu cigarro e bebo meu café pensando: Só eu que fracasso na vida ou é reles impressão?
_Glamour do underground!!! – você pode não acreditar, mas dá para se lambuzar disso.
         “Quem é você para vir aqui dar lição de moral?” – sabe àquelas horas em que você entende que não é uma questão de lição e muito menos de moral?
_Eu me engano, só comigo mesmo.
         Ele tem inveja! Ele gostaria de estar no seu lugar! Ele gostaria de ser você ou parecido! É um resignado! Enquanto ele reclama abraçado na sua fé-de-mais, a gente faz acontecer! A gente pinta e borda! É “a vida como ela yeah!”
         Não é fácil se arrastar para fora da adolescência. Quase esqueci de te contar isso. O nojo também pode ser legítima defesa. Quem sabe uma resistência. Daí que todo adolescente, para salvar um pedaço de seu ego, faz cara de nojo. Mas quem poderá nos salvar quando já abrimos mão do ego e ainda sentimos nojo? “Pai Nietzsche que estás no céu, santificado seja vosso nome...”.
         Quem disse que também não levei umas facadas? Umas dez ao todo. Nem deu para me gabar das cicatrizes. [sempre que quis mostrar minhas cicatrizes para as gatas, elas vomitaram no meu colo]. Na ponta das facas, estocada pós estocada, puro nojo. Ficou alojado em mim. E como dizia o poeta, eu continuo “Farto de semideuses”.
         Não é difícil entender porque em Nietzsche toda a admiração por Richard Wagner se tornou repulsa. O glamour de Bayreuth:_ Perverteu a Arte, seu canalha! – soprou por baixo daquele bigode – se apegou ao glamour! Em outro contexto Wagner teria se dado bem com Malcolm Mclaren (empresário dos The Sex Pistols). Você já imaginou Wagner com um copinho de whisky e uma jaqueta de couro, pavoneando por aí? Eu também, não.
         No fundo só estou brincado. E só brinco com coisa séria. É evidente que não tenho fama e nem motivos para ser admirado. Me faltou o “dom” – rá rá rá rá, ai ai... essa foi boa. Em algum lugar de “Para além de bem e mal” está escrito que todo glamoroso é escravo de sua fama. É assim que me consolo. Nada de escravidão para mim. E se não tivesse lido lá, teria que inventar uma frase parecida. Cá entre nós, para sujeitos sem muita criatividade – meu caso – é muito bom que exista Filosofia.
         Para terminar essa confissão aberta do meu paradoxo: Li e reli e não aprendi (me refiro a ser “reativo”, às vezes). É por isso que sei ensinar. Tai o texto para comprovar. Por outro lado meu nojo me salvou tantas vezes de fazer parte de cada grupo... não é fácil me emocionar com migalhas.

r.A.


ps. Esse eu escrevi rindo mesmo.  

segunda-feira, 9 de março de 2015

O preço do sorriso



         “Velhos amores só nos servem para lembrar que novos amores sempre serão possíveis”. Essa frase, ou mais ou menos isso, é do escritor colombiano Efraim Medina Reyes. Eu queria ser como ele quando entrei nessa, mas depois descobri que ele estava mais perdido que filho da puta no dia dos pais. Não que eu esteja em situação melhor. Mas!
         Uma das coisas que se não fosse aqui – digo, escrevendo – não admitiria nem morto, é que fazer as coisas por amor vale a pena: Exceto se você for militante de partido político com carguinho comissionado – aí considere o suicídio, porque já está tarde.
         Mas o amor, para quem tem mais de 16 anos (pelo menos mentalmente), nunca será tudo. E não sendo tudo, não deixa de ser uma experiência apenas mais que necessária. Veja bem, eu não amo essa porcaria de blog e nem amo você, mas amo essa porcaria de escrita. Se não fosse isso teria investido na minha promissora carreira de ator pornô – é que tenho incríveis habilidades sexuais, rá rá rá.
         Se me perguntarem se escrevo por amor, eu vou mentir que não. Vou tentar formular alguma coisa mais “inteligente”. Vou dizer que faço isso para salvar as criancinhas, os cãezinhos, a natureza, vou dizer que estou exercendo o dom que Deus me deu (o Diabo; foi o Diabo quem me tirou), que estou resistindo aos programas dominicais de auditório, resistindo às loiras que viram a cara quando eu passo por elas nas ruas, e expandindo minha alma em evolução. Eu bato palmas para o sol no alto daquela colina ao som de Los Hermanos. –Brincadeira, nem desejo ser estúpido, nada.
         O amor não paga as contas: se você duvida, pergunte para sua mãe. O sertanojo universitário paga as contas, falando de amor. Mas você e eu sabemos que na moda humana, o que está em tendência nas quatro estações, é a decadência. Entendeu que meu aluguel atrasou esse mês ou prefere que eu desenhe?
         Poderia dizer que a escrita é a reza daqueles que perderam Deus no banheiro junto com a ingenuidade ou que escrever algo e mostrar para alguém é o melhor remédio para compensar uma solidão enlouquecida. Aposto uma vodca que isso funcionaria bem no programa do Jô. O que me conforta é que nunca vou ganhar nada com isso – Porque não tenho o sorriso da Sasha Grey e nem vendi meu rabo quando o desespero me apertou no saco (na verdade eu doei...).
         Tentei salvar alguma coisa que chamo de Arte – dependendo de quantas doses de whisky tenha tomado, chamo de qualquer merda – por cinco anos. E agora estou velho demais para fazer a apologia do gênio não reconhecido: minha arrogância é um pistoleiro no asilo assoviando Muddy Waters. Definitivamente e em quase tudo na vida, velhos amores só nos servem para lembrar que novos amores sempre serão possíveis. Mais do que isso é nostalgia. Porém, amei sempre o que me surpreende e nunca o que me trás qualquer segurança – nessa coisa de ser escritor.
         Já chegou a ouvir sobre caras que perdem tudo (embora não tenham muito nessa vida) antes de encontrar seu caminho?
_Muito prazer!


r.A.