domingo, 16 de outubro de 2011

Notas de um jovem... alguma coisa!


[Nota primeira: As pessoas não se enganam com você. Só não admitem (por vezes) que você é o que é... Os motivos são os mais variados – de ciúme à amor].

..... Se você quer se meter a escrever, descobrirá cedo que não só de suas ideias vive um texto, mas de todas as situações que você for capaz de se meter. Ler pra caramba, ajuda – principalmente “bons” livros-, de fato, mas uma hora terá de encontrar seu estilo... E aí, bem, talvez seja o momento de ler menos e praticar mais – eu não preciso falar de universidades, todos sabem que elas acabam com os caras que já eram bobalhões antes de entrar lá-, bater no mundo. No romance de John Fante (um dos meus favoritos, aliás): Pergunte ao pó; o editor do personagem Arturo Bandini aconselha este a sair por aí e viver experiências diversas. Não poderá escrever e estar lá fora (mesmo que o lá fora, muitas vezes, é o aqui dentro), no mundo, ao mesmo tempo. Conclui, portanto, que escrever “bem” é transformar pouco em muito! Parece um bom conselho. Pelo menos, ajuda Bandini, na obra citada.

..... Tenho pensado sobre esse livro, pois, sai por aí nas últimas semanas e assim como o personagem de Fante me senti completamente deslocado e inútil para com essa cultura, essa sociedade, essas noções de “vida” que as pessoas andam por aí cuspindo enquanto inflam o peito. É claro que se sua vida cobrou de você “intensidades intelectuais” a fim de sobreviver no meio disso, no fim das contas você irá aprender alguma lição com isso tudo. No meu caso, algumas. Vi ex-namoradas se transformando em coisas não muito agradáveis de se olhar e de se ter por perto. Vi ex-amigos (as), traindo o núcleo que nos aproximou. Vi, inclusive, gente que não conheço, com a face e os olhos tão horríveis que senti vontade de vomitar. O moralismo faz vítimas que nem se reconhecem como tal. Propagandas idiotas, sorrisos superficiais, bêbados sem estilo e artistas sem arte, mas tinham os crachás pendurados no rabo. Quando foi que esse mundo ficou tão abarrotado com esses campeões? NOSSA! Quantos humanos que não se reconhece mais nem a humanidade nos pobres seres... E eu lá, bem no meio, sugando tudo como se fosse uma esponja! Por alguns dias, me senti derrotado. Minha consciência reduziu-se a anedota. É a força das multidões; conseguem fazer você duvidar de tudo... mas se você nesta vida, em algum momento, já teve de passar por cima daquilo que os outros tentaram fazer você se tornar... então a formula ainda figurará com sentido, basta re-ler suas anotações. Vi coisas boas também, mas a maioria das coisas ruins – infelizmente – me fizeram esquecer boa parte. Mas não, não pensem que me esqueci que não sou um exemplo a ser seguido! Não deixei de ser um idiota – embora, algum dia, pretendo deixar de ser-lo. No entanto, vejam bem, a repulsão violenta que manifesto defende bastante de minha identidade (e meu corpo/sentir/pensar, outra vez se movimentando involuntariamente para se proteger). Uma das lições valorosas que aprendi consiste em: se a melhor defesa dos criticados é criticar de volta (porém com ressentimento) estamos sem armas, deveras. Quando a multidão tenta absorver-te, tal qual uma poça de mijo em relação a uma gota de lágrima, com o fio da navalha no pescoço, poderá surgir em você – por medo, por revolta ou por outros motivos e sentimentos que desconheço no momento- uma pele de camaleão para salvar a sua verdadeira pele. Talvez você resmungue “estou fora!” enquanto nos lábios de sua alma se desenhe o semicírculo de um sorriso. Hoje, sei a força revigorante de uma gargalhada de deboche! Se você quer se meter a escrever, aprenda que sua arte não é seu refúgio, mas o brandir da espada, o sacar da pistola do coldre.

..... No poema de título “Penicos” de Charles Bukowski, ele revela que “a parte mais complicada de morrer é que eles esperam que você se vá como um disparo em direção a um céu noturno” e como em quase tudo nessa minha existência, até nisso deixei a desejar. Antes de morrer, agonizei em meditações e dos “abismos do nada”, conjurei cordas para mim (se me arrasto para fora, é outra questão...). O “maluco” da história toda é que se você quer se meter a escrever, aparentemente deverá aprender a não passar por essa vida sendo coagido a dar meia volta em relação às coisas que te comovem e nisso, ninguém, certamente ninguém, terá mais razão que você na sua expressão. Morri para tanta gente, tanta gente morreu para mim que nem sei...acho... porque dispensei o longo velório e o velho ritual. Acreditar que escrever é extensão do que somos fica para os covardões! Se você quer se meter a escrever, saiba bem, que escrever é perder o rumo, pois ninguém foi, é e será! Não há necessidade de provar nada aqui.

..... Haverá um lugar de solidão perpétua, um outro canto no seu ser. Varra o lixo, limpe os cinzeiros e deixe os copos bem posicionados (com a boca virada para baixo) evitando que as moscas caguem dentro do teu trago. Abandone a esperança de que alguém irá compreender este novo capricho, aliás, provável que lhe difamem na sua frente ou nas suas costas por isso. É que o que eles não sabem os assusta, o que eles não tem abertura sensível para captar os ridiculariza, lá onde os motivos se perdem lhes dói, lhes prova a existência da grandeza irredutível e seu caminho divergente, impertinente, seletivo. É triste quando se mancha o amor com vingança e se você quer se meter a escrever, deverá amar esse outro canto no seu ser mesmo que alguém se vingue de você. Deverá ser compreensivo – o que não significa ser vítima – com os que não te acompanham.

..... Escrever, para mim, é estar deslocado há muito tempo. Não é horrível, só é um pouco triste às vezes... Isso pode significar abandono e distância de muitas coisas e pessoas. Mas não podemos dedicar-se em tempo integral a explicar essas coisas para as pessoas em nossa volta. A escrita me parece, também implica na difícil decisão de abandonar muitas coisas e pessoas, muitas vezes apostando que um dia a ficha irá cair... No mais, também precisamos ser generosos consigo mesmos, já que muitas vezes aqueles que nos cercam (ou cercavam) esquecem (ou se cansam) que conviver com um escritor não é o mesmo que conviver com um qualquer por aí. Se você quer se meter a escrever, não acostume-se, mas entenda que não será imediatamente compreendido ou facilmente saciável e se for (imediatamente compreendido e facilmente saciável) mude para o jornalismo.

r.A.

P.s.- É isso, mas também não é...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

FIque com Van Gogh & Bukowski...


.....Aprenda a perder – minimamente- três vezes ao dia com uma caneta e um papel em punhos. Risque nos intervalos. A última perda será a da inspiração. Perca a inspiração acompanhada de uma sessão de desilusão, lágrimas ácidas, mau humor e sorriso de deboche. Conte as moedas para mais uma carteira de cigarros, acumule dívidas e trabalho por fazer... Brigue com os amigos sem motivo algum, fique longe de namoradas sérias. Sinta um vazio filho da puta no estômago, uma fisgada no coração e deixe os olhos arder sem esfregá-los. Pelo menos uma vez sinta aquela sensação terrível de que suas palavras são idiotas ou impertinentes. A impertinência lhe dará garras e dentes de fera! Se você desenvolver uma relação de cumplicidade com suas palavras idiotas, ninguém mais irá pará-lo! Pague o aluguel e sinta-se como se o esforço fora inútil. Fique em silêncio por horas consecutivas. Exercite o silêncio e fixe a visão na parede rachada ou na teia das aranhas. Ame apenas o amor que se retira, nunca o que abana o rabo ao redor de você. Cante uma canção secreta, esqueça de pedir benção aos padrinhos e às avós. Fume mais um cigarro e tome outra dose daquela bebida vagabunda. Mande a moda e suas vítimas a merda, mande todos irem se foder! Fique com Van Gogh. Sempre que tiver de escolher, fique com Van Gogh! Perca um joelho em uma cirurgia com um doutor carniceiro. Perca a visão gradativamente, progressivamente, tragicamente. Xingue o sol pela manhã. Não use relógios e nem jóias e nem chapéus. Aceite a rejeição como se recebesse o troféu das mãos de seu herói. Ouça Johnny Cash e use sabonetes de limão. Tenha alergia a perfumes e use roupas pretas – mesmo no verão. Quebre o celular e não atenda o telefone residencial semanas à fio. Aceite os convites, mas não vá as festas. Escore as guitarras em um canto do quarto. Leia Cioran ou Rimbaud. Deixe que Nietzsche toque a campainha e saia correndo, rindo como um moleque. Evite psicólogos, pague putas como terapeutas. Lembre-se todas as noites que Deleuze se atirou da janela e você não pode fazer nada em relação a isso. Coma miojo. Feche as portas atrás de você e segure um facão enquanto se convence que nada irá cruzar aquelas portas. Finja que é depressivo, porém com convicção. Só seja educado quando não tiver mais armas ou truques na manga. Faça tudo, mas não engane ninguém – jamais! Não leia jornais. Todos escrevem bem lá, menos Bukowski. Fique com Bukowski e com Van Gogh, continue pensando em Nietzsche (mas não escreva textos felicitando a si mesmo e citando Nietzsche de forma descontextualizada – deixe isso para os medíocres). Assuma suas dores com um sorriso inigualável. Faça garoto, faça com vontade e dedicação! Milhas irão te separar dos satisfeitos, mas você, lá pelas tantas, terá uma noite mais tranquila... Como esta.

r.A.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O último pistoleiro em pé


.....Disse que eu não parecia um cara romântico, talvez porque eu me mataria por qualquer outro motivo – exceto amor. Claro que não tentaria entender o poço de vontades estranhas que é uma mulher! Mesmo sabendo que não sou do tipo que machuca, mas do tipo que sai todo feridas. Valeria à pena dizer que detesto jogos mesmo sabendo que era um blefe? Meu. Seu. Nosso. Ela olhou para mim e sabia que mesmo que ali só se apresentassem dois, havia também centenas de vozes. Milhões de vontades. Uma multidão de ódios, um mundo de prazeres assassinos.

.....Quando a cabeça esta cheia de dinamite, o coração metamorfoseia-se em fósforo. O corpo todo é faca sem cabo... pura lâmina enferrujada. E lá fora – olhei para ela enquanto acendia meu cigarro, apontei para a janela entre aberta- todos estão loucos por uma aventura, mas estão cagando de medo... Ao abrirem a boca, saem filetes de mentiras visíveis a olho nu. “Que tristeza um homem tão jovem, que mesmo são, fala como um bêbado”. “Na verdade Srta. ocorre que, a única diferença que há entre eu estar são e eu estar bêbado, é que bêbado vou mais vezes ao banheiro e não penso em mulheres”.

.....Sou o único dos homens que conheço que gostaria que o sol não existisse. Tenho treinado um cruzado de direita na toalha pendurada no cabide do banheiro. Desconfio que uma noite dessas serei o último pistoleiro em pé. Sem norte. Os pêlos dentro do meu ouvido estão coçando para ouvir alguma coisa relevante. Mas você olha para toda essa gente se arrastando pelas ruas, pelos bares, pelos postos de gasolina, mercados e restaurantes self-service, e toda esperança é abortada. “Você não está atrasado para o trabalho?”. “Não tenho trabalho querida. Apenas me divirto por aí...”. Rimos.

.....Peguei o Tauros, cano médio e ventilado, niquelado, tambor para seis menininhas, fixei o coldre na cinta, na parte interna das calças. Estava na hora da última ronda antes do sol dar o ar de sua desgraça. “Odeio os homens!”. “Eu também querida”. “Estou dizendo que odeio homens como você!”. “Idem”. Aquilo que vocês chamam de romance eu chamo de ladainha pós – pré – sexo. Nosso maior problema é a tagarelice e o fetiche por histórias de amor. No fundo, os verdadeiros protagonistas de todas as histórias de amor são o egoísmo, moralismo e medo. Retire esses sentimentos de uma relação e capuft a história toda! Porém, pense, o que mais fariam os seres humanos se não ocupassem quase todo o seu tempo com besteiras? Talvez felicidade, hoje, signifique estar mergulhado em tolices!

.....Finalmente calcei os sapatos e cruzei porta à fora. Ainda precisava fazer aquela minha velha ronda. Dinheiro fácil e nem um pouco perigoso como presumia a maioria das pessoas. O problema é que aqueles filmes idiotas de detetive tinham bastante a ver... Um homem com uma arma começa a ficar xarope. Começa a gostar de ouvir o som de seus próprios pensamentos. Desenvolve uma tripla personalidade, aliás, três personalidades tolas. Minha vantagem... Desculpe, não há vantagem alguma. Girei a chave no carro e parti. Pela janela observei os últimos movimentos na noite. Olhei as prostitutas nas calçadas das quadras. Faltavam duas. Sempre há uma ou duas engraçadinhas! Terei de esperar para cobrá-las, infelizmente.



r.A.